Turistas descumprem restrições por feriadão na praia: "Quem ia nos parar?"
"Qual é o problema de a minha família vir para o litoral? Estou pagando para usar o apartamento", diz o empresário Waldir Gonçalves, 44.
Ele decidiu ir com a mulher e os filhos passar o feriadão decretado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) em um apartamento de frente para a praia, no bairro do Boqueirão, em Santos (SP). Ele o alugou por R$ 600 por dia.
Andei lendo que estavam fazendo lockdown para a gente não conseguir chegar aqui. Mas eu queria ver quem ia nos parar. Eu e a minha família vamos para onde quisermos, o dinheiro é nosso. A lei garante isso e não vai ser um governadorzinho ou um prefeitozinho de araque que vai nos impedir.
Waldir Gonçalves, empresário
Mesmo com as proibições e restrições decretadas pelos municípios litorâneos, turistas como Gonçalves descem a serra desde anteontem. A medida de antecipar os feriados adotada por Covas tinha por objetivo restringir a circulação e esvaziar a cidade.
Segundo a Ecovias, apesar da suspensão da Operação Descida no sistema Anchieta-Imigrantes, a redução de veículos foi de apenas 20%. No último final de semana (de 19 a 21 de março), passaram pelas duas rodovias 206 mil veículos, em contraponto aos 256 mil registrados na semana anterior (de 12 a 14 de março).
Diante do alarmante crescimento das contaminações e mortes pela covid-19, as nove cidades da Baixada Santista decretaram lockdown rigoroso, com fechamento de praias, restrições no comércio e fiscalização nas ruas.
"Isso é um exagero, pra que tudo isso?", questionou o especialista em tecnologia da informação Renato Sousa, 42, cuja família possui apartamento no mesmo andar alugado pelo amigo Waldir Gonçalves.
Falei para ele alugar no mesmo prédio porque assim a gente pode ficar junto, jogar cartas de noite, já que não vai ter para onde ir. Mas amanhã cedo a gente vai tentar pegar uma praia. Eu soube que vai dar para aproveitar em Guarujá ou na Praia Grande. Vamos ver.
Renato Sousa, técnico em TI
Assim como o amigo, Sousa mora em um bairro nobre de São Paulo, com a esposa e uma filha de 12 anos. Costuma passar quase todos os finais de semana em Santos. Indagado se não tinha receio de contrair a doença, foi enfático.
"Se eu ficar com medo, minha esposa ficar com medo, minha filha vai ter medo também. E não queremos isso para ela. Ela tem que ser forte, a vida não é moleza, ainda mais para uma mulher", diz.
E não vai ser uma gripe qualquer que vai assustar a gente. Essa história de tanta gente morrendo de covid é um exagero. Eles inflam os números, trocam a causa da morte para ganhar uma grana. Meu médico já disse que só morre quem é velho e doente.
Renato Sousa, técnico em TI
Com lockdown e cheio de turistas
Proprietária de uma das sorveterias mais tradicionais da cidade, Camila Duarte Andreazzi, 38, tenta manter o negócio. Ela e o marido, Alexandre, 51, atendem o público no mesmo endereço no bairro do Boqueirão há muitos anos.
Mas dizem que o medo da contaminação ainda é maior.
"Estamos em pleno lockdown e o bairro está cheio de turistas. Até no meu prédio, muitos apartamentos estão ocupados por gente que não conhecemos. Quando podíamos atender no sistema de 'take away' [pegar e levar], aparecia muita gente de fora, inclusive sem máscara."
Camila conta que, certa vez, teve de obrigar uma cliente a se retirar do salão. "A mulher, além de não querer usar a máscara, ainda começou a gritar comigo e me ofender, dizendo que quem usava máscara era covarde, que 'lambia as bolas' do [governador João] Doria."
Com uma dívida de R$ 65 mil e um movimento que caiu mais de 90%, a comerciante está vendendo bolos e tortas.
Já o marido, que também é fotógrafo, presta serviços capturando imagens com drones. As filhas tiveram que trocar de escola por falta de pagamento das mensalidades. O único carro da família foi vendido nesta semana para pagar dívidas trabalhistas. Mas Camila é a favor do lockdown.
"Acho que, se tivéssemos feito um lockdown de verdade, com todo mundo colaborando, poderia dar certo. Ainda mais se tivesse sido feito no ano passado, quando o vírus ainda estava começando a se espalhar", afirma.
Agora a gente está endividado e com medo. Perdendo amigos e familiares para essa doença. Se tivermos que esperar ainda mais por uma solução, acho que acabaremos morrendo de fome.
Camila Duarte Andreazzi, comerciante
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