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Família Bolsonaro se une para atacar isolamento e Eduardo critica Doria

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) durante sessão deliberativa na Câmara, em abril de 2020 - Cleia Viana/Câmara dos Deputados
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) durante sessão deliberativa na Câmara, em abril de 2020 Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

03/04/2021 19h32Atualizada em 03/04/2021 20h31

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) juntou-se ao pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e ao irmão, vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), no ataque a governadores que estão promovendo medidas restritivas para tentar conter a pandemia.

Diferente do presidente e de Carlos, que criticaram os "governadores" genericamente, Eduardo se referiu diretamente ao paulista João Doria (PSDB-SP) em seu Twitter. "Moleque que fechou SP, gerou desempregos em massa e foi para Miami passear", disse o deputado.

A linha da família Bolsonaro é criticar as medidas de isolamento social sob o argumento de que elas prejudicariam a economia. Ontem, Bolsonaro ironizou o fechamento de praias e hoje Carlos chamou os líderes estaduais de "Mulheres Maravilha".

Após a publicação de Eduardo, Carlos retornou ao Twitter para falar que lockdowns "levam a mais mortes no mundo". Ele citou como exemplo uma decisão da chanceler alemã, Angela Merkel, de suspender o lockdown na Alemanha durante o feriado da semana santa.

No entanto, o deputado omite que Merkel justificou a suspensão por não ter tempo hábil para implementar a restrição de forma adequada, e não por não considerar a medida efetiva.

Atualmente, São Paulo está na fase emergencial do Plano SP, de flexibilização econômica, no qual todos os serviços não essenciais, como restaurantes, bares e academias, são fechados, há um toque de restrição de circulação a partir das 20h, e eventos artísticos, esportivos e religiosos estão proibidos.

Os ataques da família Bolsonaro ao isolamento social se dão no pior momento da pandemia no Brasil. Neste sábado, de acordo com o Ministério da Saúde, o país ultrapassou 330.000 mortos pela covid-19. Atualmente, é o país com o maior número de mortes diárias no planeta.

O país nunca apresentou números tão graves como agora. O mês de março bateu o recorde de mortes por aqui: foram 66.868 mortes no mês só pela doença, mais do que o dobro de junho de 2020, antigo pico da pandemia, com 32.912 óbitos.

Só nos três primeiros meses deste ano, o Brasil registrou mais mortos por covid-19 do que o Reino Unido em toda a pandemia, desde fevereiro de 2020.

Medidas de isolamento são consenso internacional

Apesar dos questionamentos da família Bolsonaro, é consenso científico internacional que a diminuição da circulação de pessoas resulta diretamente na diminuição da transmissão do vírus, o que faz, consequentemente, com que os índices caiam. Medidas de isolamento com fechamento de serviços não essenciais, como as criticadas por ele, foram adotadas por todos os países que melhor combateram o vírus.

Em junho de 2020, dois artigos publicados na revista científica Nature já apresentavam estimativas dos efeitos iniciais das medidas restritivas. Um deles tratou das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido "evitadas ou adiadas" graças às restrições. Outro sobre 11 nações europeias calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições, até 4 de maio.

Por aqui, pesquisadores brasileiros avaliam que lockdown rígido tanto no início da pandemia, entre março e maio de 2020, como no final do ano, teria evitado os dois picos de mortes no país.

Como exemplo, Araraquara, no interior paulista, estava com o sistema colapsado no início de março, quando instituiu um lockdown rígido. Quase trinta dias depois, sua região viu a redução de óbitos em 37% e a cidade chegou a zerar o número de mortes em 24 h na última sexta-feira (26).