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Bolsonaro volta a criticar isolamento social no pior momento da pandemia

O presidente Jair Bolsonaro coloca máscara durante evento no Planalto, nesta segunda (22) - Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro coloca máscara durante evento no Planalto, nesta segunda (22) Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

02/04/2021 21h44Atualizada em 02/04/2021 23h03

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar as medidas de isolamento social e fechamento de atividades não essenciais sem base científica. Uma nova publicação foi feita em seu Twitter nesta sexta (2), quando o Brasil marcou o segundo dia seguido com média de mortes acima de 3 mil.

"Por que então fecham praias, academias, proíbem futebol?", questionou o presidente na rede social. A diminuição da circulação é consenso internacional entre médicos e pesquisadores para a diminuição dos índices da pandemia.

"Trabalhar, muitas vezes, também é uma atividade física", argumentou o presidente, com aparente ironia.

Este estímulo à retomada de atividades essenciais se dá em meio ao pior momento da pandemia no Brasil. Nesta sexta, o país chegou ao total de 328.366 mortos pela covid-19. Atualmente, é o país com o maior número de mortes diárias no planeta: 2.807, de acordo com o consórcio de imprensa do qual o UOL faz parte.

O país nunca apresentou números tão graves como agora. O mês de março bateu o recorde de mortes por aqui: foram 66.868 mortes no mês só pela doença, mais do que o dobro de junho de 2020, antigo pico da pandemia, com 32.912 óbitos.

Só nos três primeiros meses deste ano, o Brasil registrou mais mortos por covid-19 do que o Reino Unido em toda a pandemia, desde fevereiro de 2020.

Medidas de isolamento são consenso internacional

Apesar dos questionamentos do presidente, é consenso científico internacional que a diminuição da circulação de pessoas resulta diretamente na diminuição da transmissão do vírus, o que faz, consequentemente, com que os índices caiam. Medidas de isolamento com fechamento de serviços não essenciais, como as criticadas por ele, foram adotadas por todos os países que melhor combateram o vírus.

Em junho de 2020, dois artigos publicados na revista científica Nature já apresentavam estimativas dos efeitos iniciais das medidas restritivas. Um deles tratou das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido "evitadas ou adiadas" graças às restrições. Outro sobre 11 nações europeias calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições, até 4 de maio.

Por aqui, pesquisadores brasileiros avaliam que lockdown rígido tanto no início da pandemia, entre março e maio de 2020, como no final do ano, teria evitado os dois picos de mortes no país.

Como exemplo, Araraquara, no interior paulista, estava com o sistema colapsado no início de março, quando instituiu um lockdown rígido. Quase trinta dias depois, sua região viu a redução de óbitos em 37% e a cidade chegou a zerar o número de mortes em 24 h na última sexta-feira (26).