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Centro de Contingência foi contra a reabertura de igrejas e academias em SP

Culto em igreja evangélica no centro de São Paulo - Felipe Pereira/UOL
Culto em igreja evangélica no centro de São Paulo Imagem: Felipe Pereira/UOL

Lucas Borges Teixeira e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

16/04/2021 16h46

O Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo não aconselhou a reabertura de templos religiosos e academias na nova "fase de transição", anunciada pelo governo paulista nesta sexta (16).

As atividades religiosas presenciais poderão voltar a partir do próximo domingo (18), quando se inicia a nova fase, inédita no Plano SP, e as academias, a partir de 24 de abril, junto a restaurantes e outros serviços. Bares seguem proibidos.

Com um mês de fases emergencial e vermelha somadas, a ideia era dar uma resposta de avanço à população, mas sem "relaxar demais". Ao UOL, médicos do comitê informaram que, apesar de aceitarem a nova fase, aconselharam a manter o fechamento dos templos, de academia e dos bares, três dos locais com maior potencial de transmissão do vírus —na avaliação deles.

A sugestão foi definida pelo conselho dos 21 médicos que instruem o governo paulista nas decisões sobre a pandemia. O martelo só foi batido na manhã desta sexta, como de costume, na reunião com outros setores da gestão João Doria (PSDB) e o próprio governador.

Só os bares foram mantidos no pacote fechado pelo governo. Os templos, assim como todos as outras atividades, só poderão funcionar com capacidade máxima de 25% de ocupação e academias estarão liberadas das 7h às 11h e das 15h às 19h a partir do dia 24.

Um médico do comitê ressaltou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), dada há uma semana, que permitia a restrição de cultos presenciais por estados e municípios com base em uma ação do mesmo estado de São Paulo. Para ele, a liberação não só cria "sensação de contradição" como passa uma mensagem errada para a população. Nas redes sociais, a reabertura dos cultos com a criação de uma nova fase já está sendo criticada.

Os membros do comitê evitam falar em "política" e "imposição econômica", mas dizer entender que relaxamentos maiores podem trazer efeitos adversos e que evitar concentrações em lugares fechados seria o ideal.

Na coletiva de hoje no Palácio dos Bandeirantes, a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, disse que as medidas foram discutidas com representantes do setor de comércio e serviços, que pediram um "voto de confiança" para retomarem suas atividades.

Tudo isso foi feito com diálogo com setores. E o pedido deles no geral foi: precisamos retomar nossas atividades, precisamos de um voto de confiança e faremos com total responsabilidade.
Patricia Ellen, secretária estadual de Desenvolvimento Econômico

Novas medidas anunciadas pelo governo paulista para a fase de transição do Plano SP - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Novas medidas anunciadas pelo governo paulista para a fase de transição do Plano SP
Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Plano São Paulo modificado

Para alguns membros, a criação de uma nova fase pode causar confusão entre a população e fazer com que medidas como a imposição do máximo de 25% de ocupação não seja respeitada.

Essa não é a primeira vez que o governo muda as regras do Plano São Paulo, de controle dos números covid-19 e retomada econômica. Quando foi lançado, no ano passado, o objetivo era acompanhar indicadores como ocupação dos leitos e números de casos, para avaliar se era possível retomar atividades e a circulação de pessoas.

Para isso, foram criadas cinco fases —que iam da vermelha (a mais restritiva, em que apenas os serviços essenciais devem funcionar) até a azul (de maior controle da pandemia).

No mês passado, a equipe de Doria criou a "fase emergencial", com mais restrições do que a fase vermelha. Uma delas era uma espécie de toque de recolher, para conter aglomerações das 20h às 5h. Agora, é a vez da "fase de transição" entre as cores vermelha e laranja, ainda que os indicadores epidemiológicos permaneçam altos.

Segundo João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência, a medida se justifica exatamente para evitar que algumas regiões, como a Grande São Paulo, passem para a fase laranja, ainda mais flexível do que a fase atual, já na semana que vem.

O governo entendeu que essa passagem para fase laranja tinha um risco maior. Então optou-se por fazer essa fase de transição, em que todo o estado continua com uma uniformidade de recomendações, o que facilita o controle, facilita que as pessoas não saiam de uma região para buscar outro serviço que esta fechado, para outro serviço que esta aberto em outra região.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência