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Para Paes, Bolsonaro recuará sobre vacina a jovens 'sem carta de desculpa'

Reprodução/Youtube
Imagem: Reprodução/Youtube

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

17/09/2021 11h08

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou na manhã de hoje que acredita em recuo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre a orientação de não vacinar adolescentes sem comorbidades contra a covid-19.

Ele aproveitou a ocasião para 'alfinetar' o presidente sobre a carta em que desculpas ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelas falas golpistas do 7 de setembro.

Eles vão voltar atrás de novo. Eu acredito, e nem precisa de cartinha do Presidente da República se desculpando pelas afirmações de ontem, que esse é mais um arroubo de quem não para pra pensar duas vezes sobre aquilo que diz."
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro

Paes relembrou as vezes em que o Ministério da Saúde criticou e depois acatou decisões tomadas pelos municípios na campanha de imunização — como utilizar Pfizer como segunda dose para gestantes, a divulgação do calendário completo e a dose de reforço para idosos.

Ontem, Queiroga indicou relação de Bolsonaro com a decisão do Ministério da Saúde. "O senhor tem conversado comigo sobre esse tema e nós fizemos uma revisão detalhada no DataSUS", disse o ministro ao presidente na live semanal.

Queiroga afirmou que um dos motivos para interromper a vacinação de adolescentes foi a aplicação de doses de imunizantes ainda não aprovados para este público, de acordo com os dados do sistema.

Bolsonaro questionou Queiroga se ele é "obrigado" a acatar a recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) — que aprovou e recomenda a vacinação de jovens entre 17 e 12 anos contra a covid-19 com a Pfizer — e o ministro afirmou que não.

Prefeito rebate críticas de Bolsonaro

A cidade do Rio manterá a vacinação de adolescentes de 14 anos até hoje. Diante do recuo do Ministério da Saúde, adolescentes de 13 e 12 anos sem comorbidades deverão esperar análise do comitê científico da cidade para saber se poderão se vacinar.

Mas Paes e o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, já sinalizaram que não há evidência científica para a interrupção. "Se depender de mim, o Rio continuará a vacinação até os 12 anos", afirmou o prefeito.

O prefeito também aproveitou a coletiva semanal de atualização dos dados sobre covid-19 na capital fluminense para rebater críticas feitas por Bolsonaro ontem.

Eduardo Paes assiste trecho de live em que Jair Bolsonaro o compara a "ditadores" por exigir vacinação de servidores públicos - Lola Ferreira/UOL - Lola Ferreira/UOL
Paes assiste trecho de live em que Bolsonaro o chama de "ditador"
Imagem: Lola Ferreira/UOL

Paes reproduziu um trecho da live semanal do presidente em que ele afirma que há "projeto de ditadores no Brasil" e que "um deles é o Eduardo Paes, do Rio de Janeiro". Em resposta, Paes afirmou que "não dialoga com a morte", "diferentemente do presidente da República".

"O que eu quero dizer, com muito respeito e formalidade ao senhor Presidente da República, é que eu não dialogo com a morte. O que tem nos movido permanentemente é o amor à vida. As ações desse governante aqui se dão a partir de gesto de compaixão e empatia com cidadãos que vêm passando por essa pandemia", afirmou.

Na mesma live, Bolsonaro criticou a decisão de Paes sobre obrigar servidores municipais a se vacinarem. Paes afirmou que tem "paixão pela vida" e "respeito aos servidores da prefeitura".

Talvez a insensibilidade do senhor presidente da República faz com que ele tenha devaneios tão assustadores como a gente tem visto ao longo dos últimos tempos, especialmente quando a gente lida com vidas humanas. É uma completa falta de sensibilidade, empatia, respeito ao próximo e permanente diálogo com a morte.
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro

Secretário critica coletiva de Queiroga

O secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, fez fortes críticas à coletiva em que Marcelo Queiroga transferiu aos estados e municípios a responsabilidade pela nova recomendação.

Queiroga afirmou que os municípios aplicaram vacina errada nos adolescentes e citou um número de 1.500 efeitos adversos — a Anvisa afirma que monitorou 32 até o dia 15 de setembro.

"A gente sabe que essa nota técnica teve influência externa, não foi de nenhum técnico, que culminou nessa critica a todos os secretários que vacinaram adolescentes, colocando em risco o Sistema Único de Saúde, o PNI, gerando suspeitas e dúvidas em relação à vacinação. Nunca na história do país um ministro falou para não procurarem um posto de saúde para se vacinar, na contramão de todos e da nossa própria história", afirmou Soranz.

O secretário não especificou, contudo, quais seriam as influências externas na nota do Ministério da Saúde.

Em resposta ao questionamento sobre a aplicação de 514 doses de vacinas não aprovadas para adolescentes, o secretário argumentou que a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) está checando os dados, mas também criticou o argumento de Queiroga.

"Num sistema de informação também montado a toque de caixa e entregue com atraso do Ministério da Saúde haverá inconsistência de registro. O município está averiguando cada inconsistência de registro que possa ter, e se houve aplicação desordenada, verificamos os motivos para que isso tenha acontecido", explicou.

Soranz ainda afirmou que a coletiva de Queiroga foi "uma agressão" para "qualquer secretário de saúde com formação".