Bolsonaro prega desobediência a Moraes no STF em ato golpista em SP
Em um desafio explícito ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou abertamente que não respeitará "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes, incitando seus apoiadores contra a Corte. Bolsonaro xingou o magistrado de "canalha" e pediu sua saída diante de cerca de 125 mil pessoas, segundo a polícia militar, que o acompanhavam na Avenida Paulista neste 7 de Setembro.
Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais! Liberdade para os presos políticos! Fim da censura! Fim da perseguição àqueles conservadores, àqueles que pensam no Brasil."
Jair Bolsonaro
Todas as falas de Bolsonaro questionando ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes, arrancaram gritos e aplausos dos manifestantes que o acompanhavam no local.
"Eu autorizo!", gritava a multidão, apesar dos problemas de som que impediam que o discurso fosse ouvido de forma clara mesmo por quem estava próximo ao carro de som.
Foi notável o desconforto de boa parte dos presentes mais próximos ao centro do ato quando Bolsonaro disse que daria tempo para o ministro "se redimir".
Em São Paulo, o presidente repetiu o discurso golpista que já adotara pela manhã em Brasília. Suas falas foram recebidas como ameaça por ministros do Supremo: o presidente do STF, Luiz Fux, aguardava o fim do discurso em São Paulo para se reunir com colegas e avaliar o cenário.
Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!"
Jair Bolsonaro
Moraes é responsável por inquéritos que apuram o financiamento e a organização dos atos antidemocráticos realizados por aliados do presidente neste 7 de setembro, feriado da Independência. O magistrado também conduz a investigação que apura ameaças e notícias falsas que miram os integrantes do STF.
Bolsonaro não só compareceu aos atos de Brasília e São Paulo, como convocou a presença de apoiadores nos últimos dias em diversas declarações públicas. Desde a manhã de hoje, durante a concentração, os principais organizadores do ato pediam para que manifestantes gritassem "Fora Xandão", em referência ao ministro do STF, antes da chegada de Bolsonaro.
'Nunca serei preso'
Recepcionado ao som do hino nacional e gritos de "o capitão chegou", o presidente repetiu que tem três alternativas para seu futuro: "preso, morto ou com vitória".
A fala aconteceu na região do parque Trianon, onde um carro de som estava estacionado desde a manhã de hoje. No meio da tarde, o ato ocupava ao menos 11 quadras entre as ruas Haddock Lobo e a avenida Brigadeiro Luís Antônio.
Dizer aos canalhas que nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós."
Jair Bolsonaro
Apesar de proibidos pela Polícia Militar, manifestantes também soltaram fogos de artifício enquanto o capitão reformado discursava
Bolsonaro voltou a criticar o processo eleitoral brasileiro, afirmando que "não é confiável". O presidente é defensor da adoção de um comprovante de voto impresso, que foi recentemente derrotado no Congresso.
Apesar de sua repetição contínua de que quer "voto auditável" e com "contagem pública dos votos", o resultado das eleições brasileiras já passa por auditoria. A contagem é feita de modo automático pelas urnas eletrônicas, e a soma dos votos é realizada por um supercomputador do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Todo o processo pode ser acompanhado por partidos políticos, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), entre outras entidades.
Bolsonaro também voltou a mentir sobre a decisão do corregedor-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ministro Luís Felipe Salomão, que mandou plataformas digitais suspenderem a monetização de canais que disseminam informações falsas sobre as eleições no Brasil.
Apesar de a decisão ter mirado perfis que produzem conteúdo falso, Bolsonaro tratou os alvos da medida apenas como críticos do sistema de votação.
Pouco antes de sua chegada, seu filho Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) já havia entrado no tema: "Onde é que está escrito na lei o crime de fake news, p***a? Que p***a de democracia é essa em que estamos vivendo?"
"Se eles acharam que iam nos intimidar, o tiro saiu pela culatra. Quem tem que sair do país são esses ratos, não são nós não", afirmou Flávio. Ele criticou também a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-SP), preso em fevereiro deste ano após divulgar um vídeo com ataques a ministros da Corte.
O ex-ministro Ricardo Salles foi chamado para falar como "o sempre ministro". "Fizemos o impeachment da Dilma [Rousseff], elegemos Bolsonaro e vamos mudar o Brasil", disse, afirmando que, antes de ocupar o cargo, já estava nas ruas "defendendo o certo".
A pauta do ato é praticamente uníssona: destituição do STF (Supremo Tribunal Federal), voto impresso — chamado pelos manifestantes de voto auditável — e intervenção militar para permitir que as duas primeiras pautas sejam atingidas.
Diversos cartazes estavam em inglês. Segundo manifestantes, é uma estratégia para mostrar ao mundo que o presidente do Brasil tem respaldo popular.
Além dos ataques ao Judiciário, também entraram na pauta dos discursos no caminhão e no chão mensagens contra o governador paulista João Doria (PSDB), ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à imprensa. Desde o início da tarde, manifestantes anunciavam aos gritos a presença de jornalistas e incentivavam hostilidade contra eles.
Na manifestação, a reportagem notou a presença massiva de crianças acompanhada de outros adultos. Com cornetas, tintas verde e amarela e algumas com camisas do Brasil, elas gritavam "mito" e "Fora Moraes" enquanto o presidente discursava. Outras tiravam fotos, ao lado de outros adultos, com cartazes pedindo intervenção militar.
Poucas pessoas usavam máscara de proteção contra a covid-19. Muitas vestiam camisetas feitas especialmente para a ocasião, algumas delas indicando a cidade de origem. Grande parte menciona cidades do interior de São Paulo e do Paraná.
Havia pessoas de todas as idades, de crianças a idosos. A reportagem viu pouca presença da Polícia Militar, sobretudo em pequenos grupos nas ruas que dão acesso à avenida Paulista. Ao contrário do que havia sido prometido pela Secretaria de Segurança Pública, a ampla maioria dos manifestantes não está sendo revistada.
Ao final da fala de Bolsonaro, por volta das 16h, a rua da Consolação foi fechada no sentido centro da capital para a dispersão dos manifestantes. A rua é a principal via que liga a Paulista ao Vale do Anhangabaú, onde acontece o Grito dos Excluídos, organizado pela oposição ao governo federal.
Parte deles seguiram a pé pela rua, outra parte optou por seguir de metrô, pela estação Paulista, linha amarela. Dois caminhões da tropa de Choque, um caminhão do Corpo de Bombeiros, PMs Rocam e CET ajudam na dispersão da manifestação.
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