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Saúde infla previsão de vacinas contra covid para dezembro em 25 milhões

 A primeira remessa de vacinas do consórcio global Covax Facility chegou ao Brasil, no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), em março - Marina Pagno/Ministério da Saúde
A primeira remessa de vacinas do consórcio global Covax Facility chegou ao Brasil, no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), em março Imagem: Marina Pagno/Ministério da Saúde

Jamil Chade e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em Genebra e em São Paulo

23/11/2021 04h00Atualizada em 23/11/2021 11h06

O Ministério da Saúde inflou a previsão de recebimento de vacinas contra a covid-19 para dezembro em pelo menos 25 milhões de doses. O envio programado pelo consórcio internacional Covax Facility é de pouco mais de 10% do total levado em consideração pelo governo.

Na planilha do governo federal com as vacinas que devem chegar no mês que vem, constam 28,6 milhões de doses do consórcio gerenciado pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). Mas, segundo a organização, apenas 3 milhões de unidades estão previstas até o momento. O UOL procurou o Ministério da Saúde para entender a diferença, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

A planilha de projeção de entregas indica que foram contratadas duas remessas do consórcio internacional:

  • Uma de 5.119.200 doses de AstraZeneca, e
  • Outra de 23.510.999 doses cuja fabricante ainda não foi confirmada, visto que o grupo entrega imunizantes de diferentes farmacêuticas.

O quadro deveria ser atualizado toda quarta-feira, segundo o próprio documento, mas a tabela disponível indica a última mudança há quase duas semanas, em 10 de novembro.

O total de 28,6 milhões de doses —que consta na planilha— representaria a maior entrega mensal da Covax ao Brasil e deixaria dezembro como o mês com recorde de distribuição de doses (leia mais abaixo).

Até agora, segundo a tabela do ministério e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que também participa do consórcio, foram enviadas 13,88 milhões de doses ao país em cinco remessas, de março a setembro.

O número, no entanto, não bate com a projeção estabelecida pela Opas, braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) na América Latina e responsável pela distribuição.

Em um e-mail, a entidade explicou que "existem aproximadamente 3 milhões de doses alocadas da Covax Facility que estão pendentes" —ou seja, ainda não foram encaminhadas.

O UOL apurou que seriam 2,6 milhões de doses da AstraZeneca e cerca de 302 mil doses do imunizante da Janssen. Essa entrega poderia chegar ao Brasil no início de dezembro.

Fontes nos organismos internacionais confirmaram que não está totalmente descartado que outras entregas sejam feitas ainda em 2021 ao Brasil. Mas não existe ainda nem prazo e nem um calendário fechado.

Eles indicaram que a prioridade neste momento é garantir que as vacinas cheguem aos países que contam com menos de 20% de suas populações imunizadas.

Com 60% da população com a vacinação completa contra covid, o Brasil ficaria fora da lista de prioridades.

Houve, inclusive, a possibilidade de que, em setembro, na assembleia da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciasse a doação de vacinas a países mais pobres. Na prática, o Brasil não enviaria doses —apenas abriria mão do que estava previsto na Covax. Mas o anúncio nunca foi feito.

Hoje, na África, a taxa de pessoas completamente vacinadas é de apenas 6,9% e as previsões iniciais da Covax de que conseguiria enviar 2 bilhões de doses até o fim de 2021 não serão atingidas.

Variáveis consideradas para não entrega dos lotes

Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu ao UOL sobre a divergência. A reportagem enviou o primeiro e-mail na quarta-feira (17). Entrou em contato novamente na quinta-feira (18) e ontem (22).

Na planilha do ministério, entre as variáveis consideradas para a não entrega dos lotes constam:

  • Não recebimento dos insumos;
  • Questões logísticas e operacionais dos laboratórios;
  • Atraso nas entregas das doses prontas;
  • Aprovação da Anvisa.

No caso das vacinas previstas para dezembro, a pasta colocou um asterisco na maior parte das remessas, indicando: "Quantitativo pendente de confirmação pelos laboratórios considerando o recebimento de IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo, o insumo]".

Para o consórcio Covax Facility e também para as vacinas da Pfizer e da Janssen, entretanto, não há informações sobre problemas para recebimento do IFA.

Projeção recorde para dezembro

De acordo com a projeção do ministério, a entrega das duas remessas, somando com 28,6 milhões de doses da Covax Facility, tornaria dezembro o mês recorde de entregas, com 111.238.589 milhões de unidades previstas. O cálculo considera:

  • 36.278.740 de AstraZeneca (Fiocruz)
  • 17.901.200 de Pfizer/Biontech
  • 28.428.450 de Janssen
  • 28.630.199 do consórcio Covax Facility (5.119.200 de AstraZeneca e 23.510.999 não especificadas)

Sem as 25,6 milhões de doses do consórcio, a figura muda. A projeção cairia para 85,6 milhões de doses —caso as demais empresas cumpram seus contratos— 680 mil a menos de que novembro, mês de maior entrega prevista, até então, com 86,28 milhões de doses.

Vacinas recebidas em 2021 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL