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Brasil fechará fronteiras a 6 países da África por causa de nova variante

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

26/11/2021 20h11

O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, informou que o Brasil fechará, a partir de segunda-feira (29), as fronteiras aéreas para seis países da África por causa de uma nova variante do coronavírus, classificada hoje como "preocupante" pela OMS (Organização Mundial da Saúde). "Vamos resguardar os brasileiros nessa nova fase da pandemia", disse Nogueira.

A restrição afetará os passageiros oriundos de África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Segundo o ministro, a decisão foi tomada em conjunto e será assinada pela Casa Civil, Ministério da Infraestrutura, Ministério da Saúde e pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. A portaria deve ser publicada no sábado (28).

Na sexta-feira (26), mais cedo, enquanto se deslocava para cumprir agenda em eventos militares no Rio de Janeiro e em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro havia dito a apoiadores que fechar fronteiras aéreas por conta da nova variante do coronavírus seria ineficaz neste momento, mas que tomaria medidas racionais.

"Que loucura é essa? Você não vai vedar [a entrada do vírus], rapaz. Quer dizer, fechou o aeroporto, o vírus não entra? O vírus já está aqui dentro. [...] O Brasil não aguenta mais um lockdown. Vamos tomar medidas racionais", justificou. O país, entretanto, passou apenas por medidas pontuais de fechamento do comércio e de serviços.

Ao mesmo tempo, senadores e deputados ouvidos pelo UOL se articulavam para recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) com ações para obrigar o governo federal a restringir o transito aéreo de estrangeiros oriundos de países com ocorrências da nova variante do coronavírus, caso o Executivo não tomasse uma iniciativa nesse sentido.

A lista de países incluídos no bloqueio do governo federal é similar à divulgada pelo governo dos Estados Unidos na tarde desta sexta. Seguindo o conselho de Anthony Fauci —principal infectologista da Casa Branca— e dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças, a administração Joe Biden decidiu restringir a entrada de passageiros oriundos de África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Eswatini, Moçambique e Maláui.

Fora das Américas, a Bélgica detectou hoje o primeiro caso da nova variante na Europa e o Reino Unido confirmou duas infecções. No Oriente Médio e na Ásia, o Estado de Israel e a região semiautônoma de Hong Kong também anunciaram ter identificado casos em seus territórios.

Nova variante preocupa OMS

A OMS classificou hoje a variante como "preocupante". Segundo o órgão, a ômicron tem alto poder de propagação por conter um espigão diferente do que existia no coronavírus original, com base no qual as vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas. Isso aumenta a preocupação de que a B.1.1.529 possa "escapar" da proteção dos imunizantes.

"Essa variante tem grande número de mutações, algumas das quais são preocupantes. As evidências preliminares sugerem um risco maior de reinfecção, em comparação a outras variantes", alertou a OMS.

Nas últimas semanas, as infecções na África do Sul aumentaram acentuadamente, coincidindo com a detecção da variante B.1.1.529. A primeira infecção B.1.1.529 confirmada conhecida foi de um espécime coletado em 9 de novembro de 2021."
Alerta da OMS

A variante preocupa pois tem 50 mutações, sendo mais de 30 na proteína S (spike) —a "chave" que o vírus usa para invadir as células e que é o alvo da maioria das vacinas contra a covid-19. Hoje, existem cinco variantes denominadas de preocupação em circulação no mundo:

  • Alpha (identificada no Reino Unido);
  • Beta (África do Sul);
  • Gamma (Brasil);
  • Delta (Índia);
  • Ômicron (sul da África).

O virologista Fernando Spilki explica que a classificação de uma variante é feita de forma colegiada com corpo técnico de vários países.

"Essa é uma decisão consorciada. As pessoas que participaram da reunião na OMS chegam a essa conclusão a partir de um consenso que está muito relacionado a questões que já foram observadas, como o potencial que uma variante pode ter em gerar um grande número de casos", diz.

Na avaliação do virologista Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia e que coordenou a descoberta da variante gamma, o mundo deve acompanhar com atenção as informações sobre a nova variante. "Ela tem esse número muito grande de mutações na spike, incluindo diversas já apontadas como mutações de preocupação. Além disso, já foi associada a um aumento de casos nas localidades em que foi encontrada", afirma.