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Anvisa agiu certo ao pedir detalhes ao governo sobre autoteste, diz médica

Colaboração para o UOL*, em São Paulo

19/01/2022 19h04

A epidemiologista Gerusa Figueiredo, do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), concorda com o adiamento da decisão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre liberar os autotestes de covid-19 no Brasil.

Apesar de reconhecer a gravidade da falta generalizada de testes nas redes públicas e privadas de saúde do país, a médica explicou, em entrevista ao UOL News, por que o debate sobre a liberação dos autotestes é necessário. "Acho correta a decisão deles [técnicos da Anvisa]. Ocorre que uma amostra desses testes é utilizada para fazer um sequenciamento genômico das variantes", justificou.

Além disso, a epidemiologista demonstrou preocupação sobre a coleta caseira, que requer treinamento específico. "E tem também a questão de que é uma doença de notificação compulsória — quer dizer, essa pessoa vai notificar [testes positivos às autoridades de saúde]? Ela vai conseguir fazer o distanciamento social? Esse é um teste confirmatório ou, em caso de positivo, pode ser repetido? Tem muitas perguntas que ainda precisam ser respondidas", disse Gerusa.

Em reunião de diretoria, a Anvisa decidiu hoje adiar a liberação do autoteste de covid-19 no país, pedido pelo Ministério da Saúde na semana passada. Por 4 votos a 1, a agência deu um prazo de 15 dias para que a pasta apresente informações adicionais sobre o uso dos testes.

Defendidos nesta semana pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), os autotestes são usados na Europa e nos Estados Unidos, mas ainda não foram liberados do Brasil. No caso do autoteste, que deverá ser encontrado em farmácias, o próprio paciente é quem coleta a sua amostra, em casa, e tira o resultado conforme as instruções do fabricante.

Para a epidemiologista da FMUSP, é compreensível a demanda da população brasileira pela liberação dos autotestes, no entanto, ela defende que mais detalhes sejam fornecidos pelo Ministério da Saúde para que o rastreamento da doença não se enfraqueça com essa medica.

"Por isso, a Anvisa demandou que o ministério detalhe. A pessoa positiva precisa ter os seus contatos rastreados. Toda essa cadeia de transmissão que normalmente a vigilância epidemiológica não está clara para ninguém", afirmou.

(*Com informações de Rafael Neves, do UOL, em Brasília)