Após queda, mortes de crianças com covid voltaram a crescer em dezembro
O início da vacinação de crianças no Brasil pode reverter uma tendência preocupante registrada no final de 2021: antes do começo da imunização infantil, a variante ômicron provocou aumento de internações e mortes de crianças com covid-19 ou com suspeita de infecção, contrastando com a queda nessas taxas entre a população vacinada, a partir de 12 anos.
A reversão na queda de mortes de crianças começou a partir do desembarque da ômicron no Brasil, em novembro, segundo os dados coletados para o UOL pela Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia das universidades estaduais USP (Universidade de São Paulo) e Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Enquanto o total de mortes entre crianças de 0 a 11 anos seguiu a mesma tendência de adultos, caindo constantemente entre julho e novembro, em dezembro as mortes para essa faixa etária subiu 44%, contra queda de 50% entre adultos e adolescentes a partir de 12 anos —estes com vacina disponível desde setembro.
No caso da internações, a tendência começou um mês antes entre crianças: enquanto as hospitalizações de pessoas com mais de 12 anos caíram 26% de outubro para novembro e outros 3,3% de novembro para dezembro, a curva mudou de direção para crianças de 0 e 11 anos. Ela subiu 34% de outubro para novembro e 64% de novembro para dezembro.
O levantamento levou em consideração mortes e internações de crianças com covid e Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) ainda sem resultado para o motivo da infecção.
"Diferente dos adultos que já tinham um plano de vacinação desde o começo do ano e continuaram com as internações em queda, as crianças começaram a sofrer mais com a covid, principalmente a partir da flexibilização das medidas sanitárias e do retorno das atividades escolares, em setembro", avalia a pós-doutoranda da USP e uma das coordenadoras da Info Tracker, a professora da Unesp Marilaine Colnago.
"Além disso, a partir de dezembro os números aumentaram significativamente por conta da variante ômicron, que já sabemos que atinge de maneira um pouco mais agressiva os não vacinados", diz.
O aumento de resultados positivos para covid-19 entre crianças entre 0 a 13 anos saltou de 3,3% para 50,8% entre 27 de dezembro e 18 de janeiro nos testes do Grupo Pardini, rede com laboratórios em todo o Brasil.
Só no estado de São Paulo, as internações de crianças e adolescentes por covid crescem 61%, saltando de 109 hospitalizações em novembro para 171 em janeiro.
Ômicron e vacina infantil
Embora o público infantil seja mais resistente aos sintomas da covid, o diretor da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia), Frederico Fernandes, explicou ao UOL que "a capacidade de contaminação da ômicron é até oito vezes maior do que a delta, contaminando mais crianças, principalmente as não vacinadas".
Pediatra em um pronto-socorro da rede pública em Manaus, Noaldo Lucena relata "aumento de internações graves de crianças" desde a chegada da ômicron, já responsável por 97% casos de suspeitos de contaminação pelo coronavírus no Brasil.
"A observação indica que a ômicron pode ter predileção por crianças, mas ainda faltam estudos que comprovem isso", diz Lucena, que também é infectologista da Fundação de Medicina Tropical de Manaus. "Mas temos certeza de que a falta de vacina aumentou a infecção de crianças."
Além disso, o público infantil é vetor: pode levar o coronavírus para mãe, pai, avó, hipertenso, com câncer e imunodeprimido."
Noaldo Lucena, médico infectologista
"Mais do que nunca é preciso vacinar as crianças, reforçar o uso de máscara, cuidar do distanciamento e isolar quem apresentar sintomas", diz. "Somente essas medidas, aliadas à lavagem de mãos e uso de álcool em gel, podem evitar colapso do sistema de saúde, envolvendo inclusive crianças."
Na última quinta-feira (20), a Anvisa aprovou a segunda vacina contra a covid-19 para o público infantil. A partir de agora, além da Pfizer, será possível imunizar crianças com a CoronaVac.
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