Após três meses, covid volta a liderar causas de morte no país
O aumento no número de casos de covid-19 nas últimas semanas também elevou o total de mortes e fez com que a doença voltasse a ser a principal causa de óbitos no Brasil—o que não ocorria desde a semana entre 10 e 16 de outubro de 2021.
Segundo dados dos cartórios de registro civil, a semana que se encerrou no último sábado (16 a 22 de janeiro) teve registradas, até ontem à noite, 1.976 declarações de óbito com covid-19 como causa. O número supera em 53% as 1.293 mortes por AVC (acidente vascular cerebral), que lideraram o número de mortes no país entre o final de outubro e início de janeiro.
O total de óbitos pela covid-19 não ficava mais de 50% acima das duas outras principais causas de morte do país (infarto e AVC) desde a primeira semana completa de setembro de 2021 (entre os dias 5 e 11).
Os dados constam no portal da transparência da Arpen-Brasil (Associação de Registradores de Pessoas Naturais). Os números mais recentes ainda são parciais, já que o prazo para inserção das informações na plataforma é de até 15 dias.
É importante frisar que as contas do portal usam como base a data de óbito, diferente do Ministério da Saúde e do consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte, que consideram os dados das secretarias estaduais de saúde. Neste caso, o número de óbitos das últimas 24 horas se refere à data de registro, que não necessariamente é a mesma da morte.
Ao longo das últimas semanas, o número de óbitos diários registrados pelos cartórios vem crescendo. A média móvel para sete dias está quase o triplo da registrada no final de 2021. Segundo os dados da Arpen, os números aumentaram de 105, em 31 de dezembro, para 293 em 20 de janeiro —a tendência é o dado aumentar com as novas inserções no sistema.
Mais casos, internações e mortes
A curva de óbitos no Brasil deve acelerar nos próximos dias, embora em patamares bem abaixo das ondas anteriores. Segundo o último boletim Infrogripe, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), publicado na sexta-feira (21), o número de internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) vem crescendo em todo o país.
Na presente atualização observa-se que 26 das 27 unidades federativas apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas 6 semanas) até a semana 02. Apenas Roraima apresenta sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo".
Boletim Infogripe
Vacinação freia letalidade da ômicron
O avanço no número de mortes causadas pela covid-19 é resultado direto da circulação da variante ômicron no país. Mais transmissível que outras cepas, ela vem causando um aumento expressivo no número de casos nos últimos dias, levando o país a bater recorde de confirmações de testes positivos.
Para o virologista e coordenador da Rede Corona-ômica, do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações, Fernando Spilki, os números de casos, internações e óbitos mostram que houve uma precipitação ao se ratificar que estávamos iniciando o "fim da pandemia" e que a ômicron seria uma cepa leve.
"Talvez em alguns momentos nós tenhamos tido problemas em relação ao dimensionamento —ou da mensagem ou da recepção da mensagem— em relação ao que estávamos lidando, que seria um vírus mais atenuado", diz.
Talvez tenhamos passado demais a mensagem de que estamos chegando ao fim da evolução desse vírus e que, a partir daí, temos um vírus endêmico. Longe disso: nós ainda temos um vírus com uma morbidade e letalidade mais altos, por exemplo, do que influenza. Estamos, sim, em uma caminhada e vencendo os maiores problemas em virtude da vacina, não pelo vírus".
Fernando Spilki, Rede Corona-ômica
Opinião semelhante tem o pesquisador Miguel Nicolelis. "A gente está sempre em busca de uma narrativa mais light, ainda mais depois de dois anos em uma crise desse. É natural da mente humana o sentimento de esperança, de sair uma crise tão grande como essa. O que foi surpreendente nesse caso é que a narrativa foi abraçada por médicos e cientistas do mundo todo, mas baseada em nada", afirma.
Ele diz que o modelo usado para traçar um cenário leve foi a ascensão da ômicron na África do Sul, onde foi descoberta. "É um país pequeno, que sofreu múltiplas ondas, que tem um grupo etário diferente. Essa narrativa confundiu todo mundo, a ponto da OMS voltar atrás e pedir para parar de falar isso. A ômicron é letal", finaliza.
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