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Vergonha de ser prefeito dos cariocas, diz Paes após baixa adesão à vacina

10.fev.22 - Prefeito Eduardo Paes lança o programa "Vacina na Escola" na Escola Municipal Rodrigo Mello Franco Andrade - ALEXANDRE MACIEIRA
10.fev.22 - Prefeito Eduardo Paes lança o programa 'Vacina na Escola' na Escola Municipal Rodrigo Mello Franco Andrade Imagem: ALEXANDRE MACIEIRA

Do UOL, em São Paulo

10/02/2022 14h26Atualizada em 10/02/2022 16h10

Eduardo Paes (PSD) disse hoje que sente vergonha de ser o "prefeito dos cariocas" após o Rio de Janeiro registrar um baixo índice de adesão à vacina infantil contra a covid-19. O discurso, voltado aos pais e responsáveis por crianças, foi feito no lançamento do programa 'Vacina na Escola', estratégia adotada pela Prefeitura do Rio para aumentar a cobertura vacinal.

"Com esse negócio da covid, tem um monte de doido que nunca teve palanque para falar basteira, um monte de doido imbecil que fica inventando história sobre a vacina", afirmou Paes em discurso, segundo o jornal O Globo.

A gente tem que ter essa consciência de que as pessoas precisam vacinar seus filhos. E eu tô com vergonha, pela primeira vez, de ser prefeito dos cariocas.
Prefeito Eduardo Paes critica baixa cobertura vacinal entre crianças

A cidade do Rio de Janeiro registrou 48% de cobertura vacinal entre crianças de 5 a 11 anos —a estimativa é de que 560 mil possam receber a primeira dose na cidade. A campanha de vacinação infantil começou em 17 de janeiro.

Em seu discurso, Paes lembrou que a vacinação erradicou doenças que provocaram mortes entre crianças no passado.

"Tomamos vacina a vida inteira, e elas acabaram com doenças. O que tinha de criança que morria de pólio era uma loucura. De criança que ficava com algum tipo de deficiência? Sarampo. A vacina que impediu que as pessoas, principalmente as crianças, morressem de sarampo", afirmou o prefeito do Rio.

"Os meus filhos tomaram a vacina, os filhos de todo mundo estão tomando a vacina. Inclusive dos imbecis que dizem besteira na internet. Os filhos deles estão vacinados também."

Com o programa 'Vacina na Escola', o plano da Prefeitura do Rio é iniciar uma busca ativa para alcançar 200 mil crianças que ainda não se imunizaram.

Vacinação nas escolas não será obrigatória

Segundo a Prefeitura do Rio, a vacinação infantil nas escolas não será obrigatória. A partir de hoje, todos os alunos levarão para casa um folheto informativo sobre a vacina contra a covid-19 e um formulário para ser preenchido.

Os pais e responsáveis das crianças que ainda não tomaram a vacina poderão assinar um termo autorizando a aplicação no ambiente escolar, em uma data que será previamente informada.

No dia marcado, a aplicação da vacina será feita no fim do turno de aulas: pela manhã, entre 11h e 12h30, e à tarde, entre 15h30 e 17h. A Prefeitura diz que os pais e responsáveis que quiserem acompanhar a vacinação da criança podem chegar no horário previsto e terão acesso ao local.

Segundo o secretário de Educação, Renan Ferreirinha, a vacinação das crianças será feita em 45 dias. "Iremos em todas as escolas que têm alunos entre 5 e 11 anos, são em torno de 1.300".

O secretário da Saúde, Daniel Soranz, que também participou do evento, disse esperar que o programa dê resultado nas próximas duas semanas. "As vacinas para covid são extremamente seguras, são muito eficazes e protegem contra a internação e agravamento da doença".

Ao final do evento, o prefeito Eduardo Paes voltou a fazer um apelo aos pais: "A gente tá pedindo para que as pessoas façam aquilo que fizeram a vida inteira: ter a carteirinha de vacinação dos seus filhos completa, zelar por isso, guardar numa pastinha. O que estamos fazendo é facilitar a vida dos pais que trabalham, que tem uma vida mais complicada e dificuldade de levar seus filhos para vacinarem".

No início da semana, Paes insinuou que a baixa adesão à campanha de vacinação infantil contra a covid-19 tem ligação com as falas do presidente Jair Bolsonaro (PL), que já se posicionou diversas vezes contra a imunização, na contramão da ciência.

"Não é sempre que você tem o líder político maior do Brasil, do país, dizendo que faz mal vacinar. Então, talvez essa seja a melhor explicação para tanta gente deixar de se vacinar ou vacinar seus filhos", criticou.

Em dezembro, Bolsonaro chegou a dizer que não vai vacinar a filha Laura, de 11 anos. A decisão vai na contramão do que recomenda a ciência.

Importância da vacinação infantil

Entre as crianças, a vacina pode reduzir em seis vezes a chance de complicação por covid-19, de acordo com dados levantados nos Estados Unidos, país onde há o maior número de jovens imunizados. Os casos reportados de miocardite (uma inflamação do músculo do coração) são raros: a incidência é de 9 a cada 100 mil doses aplicadas (0,009%).

Alguns pais citam o risco de miocardite para não vacinar seus filhos, mas a chance de uma pessoa desenvolver a doença em decorrência da covid chega a ser 60 vezes maior do que pela vacina.

A rapidez para o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 fez com que muitas pessoas questionassem a sua segurança —inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL). O imunizante da Pfizer/BioNTech, por exemplo, foi desenvolvido em apenas 10 meses enquanto doenças como a malária, a dengue, cujo vírus responsável foi identificado há 113 anos, ainda não têm vacina.

Pesquisadores, no entanto, ressaltam que nenhuma etapa foi pulada no processo. "É preciso lembrar que as pesquisas que já estavam sendo feitas desde as epidemias de SARS e MERS, o que contribuiu para esses resultados. Agora, por causa da pandemia, as pesquisas conseguiram mais recursos, mais financiamento e mais apoio de governos e das empresas farmacêuticas", disse a pesquisadora Samantha Vanderslott em entrevista à BBC News.

Além da Anvisa, outros órgãos de saúde apoiam a vacinação contra a covid-19, em adultos e crianças, como o CDC dos Estados Unidos e a OMS (Organização Mundial da Saúde). Para especialistas, a imunização é a principal arma para controlar a pandemia.