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Para o governo, pandemia nunca foi emergência, diz vice-presidente da SBI

Alexandre Naime, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) - Reprodução/Facebook/@dr.alexandre.naime.barbosa
Alexandre Naime, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Imagem: Reprodução/Facebook/@dr.alexandre.naime.barbosa

Do UOL, em São Paulo

18/04/2022 13h13Atualizada em 18/04/2022 17h48

O médico Alexandre Naime, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), avaliou, em entrevista à revista Veja, que a decisão do governo federal de anunciar, ontem, o fim da situação de emergência sanitária nacional devido à pandemia da covid-19 "foi muito mais uma jogada de marketing para dar respostas a um público que quer ouvir que a pandemia acabou" e que, para o ministério da Saúde, chefiado por Marcelo Queiroga, e o Executivo federal, a doença "nunca foi uma emergência sanitária".

Eles atrasaram a compra das vacinas, faltaram testes, o monitoramento das variantes do coronavírus foi feito pelas instituições de pesquisa e não como estratégia de governo, eles sempre discursaram contra as medidas restritivas, negaram a gravidade da doença e minaram a confiança nas vacinas por meio de fake news Alexandra Naime, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia)

Apesar do anúncio feito ontem por Queiroga em cadeia nacional de rádio e televisão do país, Naime ressalta que a crise sanitária continua. "A primeira coisa que temos que entender é que o governo não está decretando o final da pandemia. Essa é uma questão que tem que ficar clara", reforçou. "E tem muita coisa importante ainda não esclarecida pelo Ministério da Saúde", disse.

A covid-19 continua sendo a doença que mais mata no país, apontam dados mais recentes dos cartórios de registro civil. Ontem, o Brasil registrou 18 novas mortes pela covid-19 e média móvel de 100 mortes pela doença na última semana. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

O vice-presidente da SBI falou que é necessário resolver algumas questões antes de suspender o decreto de estado de emergência pela covid-19. "Se a gente suspender esse decreto sem resolver essa questão, não poderemos usar a CoronaVac, por exemplo, que ainda está com aprovação emergencial, o Paxlovid (antiviral da Pfixer) que acabou de ser aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e outras drogas que estão por vir como o molnupiravir (antiviral da MSD) que deve ser aprovado em breve", afirmou.

A Saúde pediu na última semana que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estenda por um ano a autorização de uso emergencial de vacinas e medicamentos contra covid-19 a partir do momento em que for revogada a Espin. As vacinas da Janssen, Astrazeneca e Pfizer já possuem registro definitivo com a agência reguladora.

Em seu pronunciamento, Queiroga afirmou que irá editar nos próximos dias um ato normativo para encerrar a Espin (Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional).

A Espin (Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional), decretada pelo governo federal em 2020, possibilita a compra de materiais hospitalares por bens públicos com mais celeridade, além da aplicação emergencial de vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) — é o caso da CoronaVac, que ainda depende deste aval de emergência para ser aplicada no país.

Conforme mostrou o colunista do UOL Jamil Chade, a decisão do governo brasileiro ocorre dias depois de uma reunião na qual os principais cientistas do mundo declararam, de forma unânime, que a pandemia ainda é uma realidade e que não é o momento de falar ainda do fim da emergência internacional.

Ao UOL, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse discordar da ação do ministro da Saúde. "É uma atitude intempestiva. Não poderia acontecer nesse momento. Hoje temos um país desigual na vacinação. Não falo de São Paulo, que é uma realidade muito diferente do Brasil", afirmou Gorinchteyn.

O infectologista citou que alguns estados brasileiros registram taxas menores de 70% de vacinados com duas doses. É o caso, por exemplo, de Roraima e do Maranhão, que têm 48,17% e 58,72% da população totalmente vacinada, respectivamente, conforme apontam dados do consórcio de veículos de imprensa.

* Com informações da reportagem de Leonardo Martins, do UOL, em São Paulo