Visita de primeiro-ministro japonês a santuário Yasukuni provoca indignação de vizinhos
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Toru Hanai /Reuters
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, acompanhado por segurança, é conduzido por sacerdote xintoísta, em visita ao santuário
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, visitou nesta quinta-feira (26) o santuário de Yasukuni, onde rezou "simbolicamente contra a guerra", anunciou a imprensa do país, enquanto a China reagiu, julgando seu gesto "inaceitável".
Para chineses e coreanos este santuário é um símbolo do passado militarista japonês. A Coreia do Sul também criticou a atitude de Abe, considerada anacrônica por Seul.
Durante esta visita, que começou às 11h33 locais (00h33 de Brasília), Abe prestou homenagem "aos mortos pela pátria", algo que não havia ocorrido nos últimos sete anos.
Pequim considerou "inaceitável para o povo chinês" este gesto, em sua primeira reação, mas Tóquio reagiu imediatamente alegando que seu objetivo não era ferir os sentimentos de chineses e sul-coreanos.
O diretor-geral do departamento do ministério das Relações Exteriores para assuntos asiáticos chinês, Luo Zhaohui, afirmou que o Japão "deverá se ater às consequências" por esta atitude de seu primeiro-ministro.
Acrescentou ainda que o ocorrido "causou muito mal aos povos da Ásia", apesar das afirmações de Abe.
Os Estados Unidos também reagiram, afirmando que a visita de Abe "vai exacerbar as tensões com os países vizinhos".
"O Japão é um aliado valioso e um amigo. No entanto, os Estados Unidos estão decepcionados pelo fato de os líderes japoneses terem tomado esta iniciativa que vai exacerbar as tensões com os vizinhos do Japão", afirmou a embaixada americana em Tóquio em um comunicado.
"Os Estados Unidos esperam que o Japão e seus vizinhos encontrem vias construtivas para tratar as questões sensíveis do passado, melhorar suas relações e promover a cooperação no interesse da paz e da estabilidade regional", afirmou o comunicado americano.
Tóquio, por sua vez, o considerou "um ato simbólico", sem a intenção de provocar seus vizinhos chineses e coreanos. Já Abe declarou: "escolhi este dia para marcar meu primeiro ano no poder e reafirmar minha determinação de que ninguém sofrerá novamente devido à guerra", ressaltando não buscar ferir os países vizinhos.
"Estamos cientes de que o primeiro-ministro visitará hoje o santuário", havia afirmado à AFP um porta-voz de sua equipe, confirmando a informação fornecida antes pela imprensa japonesa.
No entanto, os serviços oficiais de Abe não fariam nem fizeram nenhum anúncio a respeito, explicou o responsável.
Mas, pela manhã, seu deslocamento de vários quilômetros dentro da capital japonesa foi seguido por câmeras de televisão, inclusive a partir de helicópteros, já que a atitude poderia provocar a ira da China (o que efetivamente ocorreu), o gigante asiático, num momento de grande tensão entre os dois países.
Vestido com um terno preto, Abe entrou no santuário seguido de perto pelas câmeras.
Dois buquês de flores brancas e uma faixa com a menção "Shinzo Abe, primeiro-ministro" o aguardavam na entrada.
Abe rezou pelos japoneses mortos pela pátria nos conflitos modernos.
Esta é a primeira vez que um chefe de governo japonês em exercício visita o local desde Junichiro Koizumi, que foi ao santuário no dia 15 de agosto de 2006, aniversário da capitulação japonesa ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Abe, por sua vez, preferiu não visitar o polêmico santuário durante seu primeiro mandato (2006-2007).
Trata-se de um templo sintoísta erguido na segunda metade do século 19 em plena cidade de Tóquio, com "vocação pacifista", e no qual posteriormente foram inscritos os nomes de quase 2,5 milhões de japoneses mortos em diferentes conflitos, mas também os de 14 criminosos de guerra julgados em 1945 pelos aliados, inclusão realizada em 1978 e que criou a polêmica com os países vizinhos.
O governo e o Partido Comunista Chinês (PCC) protestam regularmente pelas visitas realizadas pelas autoridades japonesas ao mesmo.
A invasão japonesa à China, nos anos trinta do século XX, deixou milhares de mortos, além das múltiplas atrocidades cometidas na época pelas tropas japonesas.
As relações entre os dois países se degradaram no último ano devido a um conflito territorial por ilhas desabitadas no Mar da China Oriental.
A China envia regularmente barcos a estas ilhas localizadas 200 km a noroeste de Taiwan, e 400 a oeste do arquipélago japonês de Okinawa, onde cada vez é mais perceptível a presença de navios da guarda-costeira japonesa, ante o temor de um incidente bélico com seu grande vizinho.
Sobretudo, depois que Pequim decretou em novembro passado uma zona de identificação aérea, que inclui a região de Senkaku/Diaoyu.
O Japão decidiu aumentar em 5% seu orçamento militar nos próximos anos, enquanto a China também o faz regularmente.