Conheça a história, os fatos e as versões do genocídio armênio
Os armênios em todo o mundo lembram na sexta-feira (24) o centenário do massacre sofrido por seus antepassados no Império otomano durante a Primeira Guerra Mundial, uma tragédia denunciada pela Armênia como genocídio, embora a Turquia rejeite energicamente este termo.
Estes são os principais marcos destes massacres e deportações, cometidos entre 1915 e 1917, que seguem afetando as relações turco-armênias:
História do conflito
Após séculos de dominação persa e bizantina, o território da Armênia histórica se divide em meados do século 16 entre os impérios russo e otomano. Entre 1,7 e 2,3 milhões de armênios vivem no Império otomano em 1915, segundo as estimativas dos historiadores ocidentais.
As autoridades otomanas acusam os súditos armênios de deslealdade com o Império desde o nascimento, no fim do século 19, de um movimento nacionalista que exige a autonomia dos armênios.
Entre 100 mil e 300 mil armênios teriam sido massacrados em 1895-1896 durante o reinado do sultão Abdul Hamid 2º.
Em outubro de 1914, o Império otomano entra na Primeira Guerra Mundial, ao lado de Alemanha e Áustria-Hungria. Quando o Império sofre grandes perdas nos combates que afetam as províncias armênias, as autoridades responsabilizam os armênios e lançam uma campanha propagandística que os classifica de inimigo interno.
Em 24 de abril de 1915, milhares de armênios suspeitos de sentimentos nacionalistas hostis ao Governo central são detidos. A maioria deles são executados posteriormente ou deportados e 24 de abril é, desde então, para os armênios de todo o mundo o dia comemorativo do genocídio armênio.
Cadeia de acontecimentos
Em 26 de maio de 1915, uma lei especial autoriza a deportação dos armênios por razões de segurança interna, seguida no dia 13 de setembro de uma lei que ordena o confisco de seus bens.
A população armênia de Anatólia e Cilicia é condenada ao exílio nos desertos da Mesopotâmia. Muitos armênios morrem no caminho ou em campos.
Inúmeros armênios são queimados vivos, afogados, envenenados ou vítimas do tifo, segundo informações de diplomatas estrangeiros e agentes secretos da época.
O embaixador americano no Império otomano, Henry Morgenteau, descreve em um documento diplomático ao Departamento de Estado uma "campanha de extermínio racial sob o pretexto de reprimir a rebelião".
Em 30 de outubro de 1918, o Império otomano se rende às forças da Tríplice Entente (Grã-Bretanha, Rússia e França). Um acordo sobre o armistício permite então que os armênios deportados voltem para casa.
Em fevereiro de 1919, um tribunal militar de Constantinopla declara vários funcionários otomanos de alto escalão culpados de crimes de guerra, incluindo contra os armênios, e os condena à morte.
Versões contraditórias
Os armênios estimam que 1,5 milhão dos seus foram assassinados de forma sistemática ao fim do Império Otomano.
A Turquia, por sua vez, fala de uma guerra civil, à qual se somou uma fome, e de 300 mil a 500 mil armênios perderam a vida, além de outros tantos turcos.
Em abril de 2014, o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, então primeiro-ministro, deu um passo inédito ao apresentar suas condolências pelas vítimas armênias de 1915 sem, no entanto, deixar de refutar qualquer vontade de extermínio.
"Este governo fez mais do que todos os anteriores para derrubar os tabus da fundação da República, mas infelizmente foi detido em pleno movimento", estima Cengiz Aktar, professor de Ciência Política da universidade privada Sabanci de Istambul.
Em 2000, 126 especialistas, entre eles o Nobel da Paz Elie Wiesel, o historiador Yehuda Bauer e o sociólogo Irving Horowitz, afirmam em um comunicado publicado pelo The New York Times que "o genocídio armênio na Primeira Guerra Mundial é um fato histórico inquestionável".
"A deportação armênia é uma verdadeira tragédia", reconhece Ilber Ortayli, professor de História na Universidade Galatasaray de Istambul, e pede que os historiadores dos dois países se ocupem desta questão e estudem ponto por ponto este período da história turco-armênia para "ir ao fundo da questão".
Atualmente, 20 países reconhecem o genocídio armênio, incluindo França, Rússia e Chile, assim como o Parlamento Europeu.
Em 2008, o candidato Barack Obama prometeu reconhecer o genocídio armênio. Uma vez eleito, o presidente americano nunca utilizou este termo.