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Centenas de migrantes são retirados do campo grego de Idomeni

24/05/2016 14h40

Idomeni, Grécia, 24 Mai 2016 (AFP) - A polícia grega evacuou nesta terça-feira centenas de migrantes do campo de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, onde há meses se amontoam milhares de pessoas que fogem das guerras e da miséria.

A operação começou ao amanhecer e por volta das 15h30 locais (09h30 de Brasília) 1.500 pessoas, das 8.400 instaladas no campo, haviam sido levadas em ônibus a centros de acolhida em Salônica, 80 km ao sul.

"Tudo está saindo bem, graças a Deus. Inclusive melhor que o esperado", disse à AFP uma fonte policial em Atenas.

O superpovoado e caótico campo de Idomeni se transformou em símbolo do sofrimento de milhares de pessoas que fogem de países do Oriente Médio, da Ásia e da África e mergulham a Europa em sua pior crise migratória desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Os meios de comunicação têm proibido o acesso à zona por barreiras policiais instaladas a três quilômetros do campo, com exceção das equipes da televisão pública Ert 1 e da agência estatal ANA, que mostravam imagens de migrantes esperando a transferência.

Alguns acenavam para as câmeras e muitos carregavam seus pertences em sacos de lixo ou os empilhavam em carrinhos de bebês, sob a vigilância a certa distância de policiais de uniforme azul e capacete branco.

As autoridades indicaram que dariam prioridade a menores sozinhos ou a famílias monoparentais.

Um inverno extenuanteA saída ocorre depois de um inverno com chuvas gélidas que converteram o local em um lamaçal, e de várias tentativas de forçar as passagens fronteiriças, que levaram a confrontos com a polícia da Macedônia.

A onda migratória também provocou tensões com os agricultores e perturbações no tráfego ferroviário em direção ao norte da Europa, devido a bloqueios nas vias durante manifestações de protesto dos refugiados.

"Estavam cansados, provavelmente perceberam que a fronteira não seria aberta", disse a fonte policial.

De acordo com a polícia local, 100 migrantes decidiram não ir aos centros de acolhida e se dirigiam a Salônica a pé.

As organizações humanitárias denunciaram em várias ocasiões as deploráveis condições sanitárias e de segurança no local.

A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) anunciou o envio de equipes suplementares para ajudar no processo de evacuação.

"É importante que os deslocamentos organizados sejam voluntários, não discriminatórios e que os indivíduos disponham de informações sobre suas opções", disse o porta-voz da ACNUR em Genebra, Adiran Edwards.

Idomeni foi aberto no ano passado por grupos de ajuda humanitária para receber, no máximo, 2.500 pessoas em sua viagem para outros países da Europa.

Mas o campo chegou a abrigar mais de 12.000 pessoas - principalmente sírios, iraquianos, iranianos e pessoas procedentes do Magreb -, depois que os países dos Bálcãs fecharam suas fronteiras em fevereiro, com o objetivo de frear o fluxo intenso de migrantes por seus territórios.

Nas últimas duas semanas, 2.500 pessoas já aceitaram deixar o local e cerca de 800 as imitaram no domingo e na segunda-feira, quando já circulavam rumores sobre a iminência da evacuação.

O porta-voz do serviço grego de coordenação da crise migratória, Giorgos Kyritsis, indicou que a operação pode levar dez dias. Em declarações à Ert 1, encurtou este prazo a uma semana.

Funcionários gregos disseram que os centros de acolhida instalados até o momento em uma antiga zona industrial perto de Salônica podiam receber até 6.000 pessoas.

Muitos migrantes são mulheres e crianças desesperados para se reunir com seus maridos e pais que partiram antes, pagando traficantes, com a esperança de se instalar em algum país da União Europeia com melhores perspectivas econômicas que a endividada Grécia.

O governo de esquerda do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tenta há meses persuadir os migrantes a abandonar Idomeni e insiste em enfrentar a crise evitando o uso da força.

Segundo dados oficiais de Atenas, 54.000 migrantes estão atualmente bloqueados na Grécia.

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