Topo

Colômbia assina acordo de paz com as Farc após 52 anos de guerra

26/09/2016 06h26

Cartagena, Colômbia, 26 Set 2016 (AFP) - Com uma cerimônia solene, a Colômbia assinará nesta segunda-feira na cidade de Cartagena um histórico acordo de paz com a guerrilha das Farc, para acabar com um conflito de mais de meio século.

O presidente Juan Manuel Santos e o principal líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño, mais conhecido por seus nomes de guerra Timoleón Jiménez e Timochenko, assinarão o pacto anunciado em 24 de agosto, após quase quatro anos de negociações em Cuba.

"Daqui abriremos a porta do amanhã! A Colômbia cheia de esperança está pronta para para a assinatura do #AcordoDePaz e construirá um novo país", escreveu no Twitter o presidente, horas antes da cerimônia, prevista para as 17H00 locais (19H00 de Brasília) no Pátio das Bandeiras do centro de convenções de "La Heroica", como é conhecida esta cidade, considerada patrimônio da humanidade.

Quase 2.500 pessoas vestidas de branco de acordo com o protocolo, incluindo líderes mundiais e 250 vítimas do conflito, acompanharão os discursos daqueles que, inimigos por décadas, conseguiram o que parecia impossível: acabar com a violência fratricida entre guerrilhas, paramilitares e agentes do Estado que deixou 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados em 52 anos.

A cerimônia, que deve durar 70 minutos e será transmitida ao vivo pela televisão, terá a presença de 15 chefes de Estado, entre eles o cubano Raúl Castro, anfitrião das conversações de paz, que também foram mediadas por Noruega, Venezuela e Chile.

Outras presenças ilustres confirmadas incluem o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, e vários representantes de organismos internacionais.

"A Colômbia é uma luz para o mundo", destacou a chanceler María Ángela Holguín ao agradecer o apoio da comunidade internacional ao processo de paz.

O acordo de paz, um texto de 297 páginas que essencialmente busca mudar "balas por votos", promovendo o desarmamento da guerrilha e sua transição para a vida política legal, será assinado com um "balígrafo", um bolígrafo (caneta esferográfica) construído com balas do conflito armado.

"As balas escreveram nosso passado. A educação, nosso futuro", afirma uma inscrição na caneta. Os ilustres visitantes receberão uma réplica do objeto.

A jornada começará às 08H00 locais (10H00 de Brasília) com uma homenagem a militares e policiais por seu "esforço em favor da paz", segundo a presidência.

Ao meio-dia (14H00 de Brasília), na Igreja de San Pedro Claver, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e enviado do papa Francisco para a assinatura do fim do conflito com as Farc, vai presidir uma liturgia com "uma oração pela reconciliação de todos os colombianos".

"É um acordo muito completo, e implementar o que foi negociado em reforma agrária, luta contra o narcotráfico, inclusão dos ex-guerrilheiros em processos políticos, e aplicação da justiça transicional, vai exigir muita liderança", afirmou à AFP o chanceler norueguês, Borge Brende.

O pacto foi ratificado na sexta-feira passada pela Farc, que nasceram de uma revolta camponesa em 1964 e atualmente contam com 7.000 combatentes, após uma inédita conferência nacional guerrilheira autorizada pelo governo e aberta à imprensa em El Diamante, área remota do sul do país.

"Acabou a guerra, vamos todos construir a paz", escreveu Timochenko no Twitter.

- ELN e a paz completa -Para entrar em vigor, o acordo, muito criticado pela oposição liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, deve ser aprovado em um plebiscito convocado para 2 de outubro. As pesquisas mais recentes indicam a vitória do 'Sim'.

A paz na Colômbia não estará completa, no entanto, enquanto permanecer ativo o Exército de Libertação Nacional (ELN), segunda maior guerrilha do país, também criada em 1964.

O ELN e o governo anunciaram em março a intenção de criar uma mesa formal de diálogos similar a das Farc, mas isto ainda não foi concretizado ante a reticência do grupo armado a abandonar a prática do sequestro, condição imposta por Santos para avançar nas negociações.

No domingo, o ELN anunciou a suspensão das ações ofensivas nos próximos dias para "facilitar a participação cidadã" no plebiscito.