Demora no resultado das eleições gera impaciência no Equador
A demora nos resultados das eleições presidenciais de domingo (19) gerou, nesta segunda-feira (20), impaciência entre os opositores equatorianos, conscientes de que um segundo turno lhes daria mais chances para desbancar o correísmo após 10 anos no poder.
Nas últimas contagens oficiais parciais, com 90,07% dos votos apurados, o candidato governista de esquerda Lenín Moreno se posiciona próximo a uma vitória no primeiro turno, com 39,07%, enquanto o ex-banqueiro de direita Guillermo Lasso registra 28,42%.
Para ganhar o primeiro turno, como ocorreu com o presidente em fim de mandato Rafael Correa em 2009 e 2013, são necessários 40% dos votos válidos e uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado.
"Creio que vamos alcançar os 40%. Tenho dados que permitem presumir isto", assinalou Moreno em declarações à imprensa em Quito. Mas se houver segundo turno, previsto para 2 de abril, "vamos ganhar", assegurou.
"Estamos no segundo turno", comemorou em Guayaquil o candidato opositor, que falou em "uma grande vitória".
Mas os resultados definitivos das presidenciais chegarão dentro "de três dias" devido a anomalias nas cédulas de votação, segundo informação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) nesta segunda-feira.
Seu presidente, Juan Pablo Pozo, pediu que os eleitores "esperem os resultados oficiais em um ambiente de paz, pois existem margens estreitas para definir se haverá segundo turno" quando "efetivamente está sendo disputado voto a voto sua ocorrência ou não".
Evitar o segundo turno
Desde a noite de domingo, à medida que a lenta contagem oficial ia desenhando um cenário muito acirrado, centenas de apoiadores de Lasso permaneceram em frente à sede do organismo eleitoral em Quito, em uma vigília para exigir transparência na contagem e denunciar uma eventual fraude, o que foi desmentido pela autoridade eleitoral.
Militares e policiais fazem a segurança do edifício do CNE, localizado no norte de Quito, onde foram registrados alguns atritos entre os manifestantes.
Em uma coletiva de imprensa à tarde em Quito, Moreno acusou "algum político mau perdedor" de estar chamando à violência. "Isso não pode ser tolerado", disse.
Analistas advertem há semanas que, embora conte com uma base sólida de apoio de 30%, o correísmo sofre com um desgaste, sobretudo, pela delicada situação econômica por conta da queda nos preços do petróleo, e por isso necessita vencer no primeiro turno.
"É lógico que não queiram postergar uma campanha eleitoral que além disso esteve saturada de denúncias de corrupção", explica à AFP o cientista político Franklin Ramírez, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso).
Os casos mais divulgados são os da petroleira estatal Petroecuador, no qual está envolvido um ex-ministro de Correa, e os das supostas propinas da construtora brasileira Odebrecht.
Em um segundo turno, a oposição, formada por partidos de direita e pessoas descontentes com o correísmo, poderia se unir, apesar de ter chegado a esta eleição completamente dividida.
No domingo, após saber que não conseguiria chegar ao segundo turno, a deputada de direita Cynthia Viteri, terceiro lugar nas contagens com 16,30%, pediu abertamente o voto para Lasso e que seus partidários defendam "o segundo turno" nas ruas.
"Recebemos o apoio de algumas forças políticas", declarou Lasso, que disse que suas mãos "estão estendidas" e propôs "uma mesa de governabilidade aberta a todos os setores da sociedade".
Assange e a esquerda
O resultado destas eleições pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, asilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 para evitar sua extradição à Suécia por supostos crimes sexuais, que ele nega.
Moreno é partidário de manter o asilo, mas Lasso disse à AFP que, se chegar ao poder, vai retirá-lo.
"A embaixada do Equador não é um hotel", declarou o candidato nesta segunda-feira, ao afirmar que respeitando o direito internacional "revisaremos o asilo" dado a Assange pelo governo de Correa.
Uma vitória de Lasso também seria um novo revés para a esquerda latino-americana, enfraquecida após a guinada à direita no Brasil, na Argentina e no Peru.
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