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Tormenta Odebrecht provoca apreensão e medo entre políticos brasileiros

Expectativa é alta pela divulgação das delações de executivos da Odebrecht - Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Expectativa é alta pela divulgação das delações de executivos da Odebrecht Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress

11/03/2017 10h38

Medo, preocupação, paralisia são as palavras utilizadas por políticos brasileiros e seus assessores para descrever a nova etapa de investigações derivada das delações de executivos da Odebrecht.

O poder de destruição dos cerca de 900 depoimentos judiciais ameaça o governo do presidente Michel Temer, que tenta emplacar a reforma da previdência em um Congresso concentrado em diversas iniciativas para descriminar o caixa dois em campanhas eleitorais.

"Esta sexta-feira é o último momento de calma antes da crise política que surge e vai se prolongar por vários meses. É um momento muito ruim para a credibilidade política, que no Brasil nunca foi muito alta", disse à AFP o sociólogo e autor político Alberto Almeida, do Instituto Análise.

"Já tivemos grandes escândalos, mas todos se resolveram dentro do mundo político. Agora há um conflito entre o mundo político e o Poder Judiciário e esta possibilidade já não existe".

A situação ficou ainda mais tensa após o STF (Supremo Tribunal Federal) aceitar, esta semana, uma ação contra o senador Valdir Raupp, do PMDB de Temer, por entender que há indícios de ilegalidade na origem de doações registradas de campanha.

Com a decisão, se amplia o raio de ação e os potenciais afetados pela Operação Lava Jato, que investiga os subornos envolvendo a Petrobras e casos conexos.

Um assessor parlamentar ligado ao caso Raupp disse que a "decisão do STF deixou o mundo político abalado".

O clima em Brasília antes das denúncias que serão apresentadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já começa a afetar o calendário de reformas de Temer: "cada vez que surge uma nova onda da Lava Jato o Congresso para", disse um funcionário da Câmara dos Deputados, que pediu para não ser identificado.

Terreno movediço

Com a economia afundada na pior recessão da história do país, Temer repete como um mantra que sua prioridade é tirar o país da crise e criar empregos, mas os vazamentos de algumas delações de funcionários da Odebrecht o atingiram diretamente, junto a vários de seus principais assessores.

A revelação de que a Odebrecht entregou bilhões de reais em subornos a políticos, dentro e fora do Brasil, é uma espada de Dâmocles que ameaça colocar na prisão numerosos políticos e ainda tem o potencial de anular o resultado da eleição presidencial de 2014 que elegeu Temer como vice de Dilma Rousseff, derrubada pelo impeachment.

"Há alvoroço em Brasília diante destes novos pedidos de investigação por parte da procuradoria e é natural que o ambiente político esteja alterado (...). É preciso andar com muito cuidado neste terreno movediço", disse o ministro do Supremo Gilmar Mendes à Globonews.

A Lava Jato revelou um vasto esquema de corrupção tendo como base a Petrobras, que envolveu doações diretas de campanha e dinheiro de caixa dois.

Com tanto em jogo, o futuro da maior operação de combate à corrupção no Brasil não está assegurado. "Acredito que há risco de um retrocesso...", disse o juiz Sérgio Moro, figura central da Lava Jato. "Há muitas investigações em curso. É preciso ver qual será seu destino".