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O que o Nobel da Paz fala sobre a ameaça do arsenal nuclear do planeta

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Em Genebra

06/10/2017 08h14

O combate incansável para proibir e eliminar as armas nucleares rendeu à Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican) o Prêmio Nobel da Paz, no momento em que este tipo de armamento representa uma ameaça que não era vista em muitas décadas.

Há 10 anos a Ican faz um alerta para pedir a "eliminação" destas armas de destruição em massa.

A Ican é uma coalizão internacional que reúne, em mais de 100 países, centenas de organizações humanitárias, ecologistas, de defesa dos direitos humanos, pacifistas e a favor do desenvolvimento.

A luta da campanha resultou em julho em uma vitória na ONU, quando países iniciaram o projeto de assinatura de um tratado de proibição das armas atômicas.

O alcance é simbólico porque as nove potências nucleares (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte), que somam 15.000 armas nucleares entre todas, boicotam o texto.

"Ainda não acabamos. O trabalho não vai acabar enquanto existirem armas nucleares", disse Beatrice Fihn, diretora da Ican.

A tensão recente entre Estados Unidos e Coreia do Norte pelo programa atômico de Pyongyang é, segundo ela, um "sinal de alarme".

"As armas nucleares podem levar o mundo ao fim, literalmente", afirma Fihn.

'Êxito histórico'

Constituída oficialmente em 2007 em Viena, à margem de uma conferência internacional do Tratado sobre a Não Proliferação das Armas Nucleares (TNP), a Ican soube mobilizar desde então ativistas de todo o mundo, assim como personalidades influentes.

O arcebispo sul-africano e Nobel da Paz Desmond Tutu, o músico de jazz Herbie Hancock e o Dalai Lama são alguns dos que apoiam a organização, que tem sede em Genebra, no complexo do Conselho Ecumênico das Igrejas, perto da ONU.

Há uma década, quando o movimento antinuclear estava bastante fragmentado, a Ican conseguiu reunir os ativistas com um objetivo comum: proibir e eliminar as armas nucleares, como já aconteceu com as armas biológicas ou as minas terrestres.

Os esforços deram fruto em julho com a adoção por 122 países do novo tratado que proíbe as armas nucleares, apesar da oposição dos Estados Unidos e de outras potências nucleares.

Para Fihn, este "ponto de partida é um verdadeiro êxito histórico".

"Quanto mais países conseguirmos reunir, mais a opinião pública mudará e pensará que é inaceitável. E será mais duro para os Estados que dispõem de armas nucleares apresentar uma justificativa", completa.

As potências nucleares não são as únicas afetadas. De acordo com a Ican, cinco países europeus têm em seus territórios armas nucleares americanas, em virtude de um acordo no âmbito da Otan.

Além disso, outros 20 países afirmam que sua segurança depende das nucleares americanos, segundo a Ican. Isto sem contar que alguns possuem reatores nucleares ou reatores de pesquisa que podem ser alterados de seu uso civil para a fabricação de armas.

O uso das armas nucleares teria consequências catastróficas. "Se apenas uma bomba nuclear explodir em uma cidade grande, poderia matar milhões de pessoas. O uso de dezenas ou centenas destas bombas alteraria radicalmente o clima mundial, provocando uma fome generalizada", alerta o Ican em seu site.

Ao mesmo tempo, os programas dedicados às armas nucleares desviam, segundo os ativistas, recursos públicos da Previdência Social, Educação, de ajuda aos desabrigados e de outros serviços essenciais.

Os nove países com armas nucleares gastam mais de US$ 105 bilhões todos os anos na manutenção e modernização de seus arsenais, segundo a Ican, financiada por doadores privados e por contribuições da União Europeia (UE) e de vários Estados como Noruega, Suíça, Alemanha e Vaticano. O orçamento da organização supera um milhão de dólares por ano.