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Presidente do Peru e a luta para manter seu mandato

21/12/2017 11h08

Lima, 21 dez 2017 (AFP) - O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, tem nesta quinta-feira (21) seu momento mais difícil, ao enfrentar no Congresso um pedido de impeachment estimulado pela oposição, uma consequência da assessoria prestada por suas empresas à empreiteira Odebrecht.

Com mandato de cinco anos (até julho de 2021), o governante corre o risco de virar o primeiro presidente da América Latina a perder o cargo por efeito do escândalo de corrupção provocado pela construtora brasileira.

Para evitar a destituição, Kuczynski precisa convencer de sua inocência seus adversários políticos, de direita e de esquerda, que pediram a "vacância presidencial", alegando "incompatibilidade moral".

Quando assumiu a Presidência, em julho de 2016, prometeu, em tom de piada, que este seria seu último trabalho. Na época, alegou que, por sua idade, estava mais próximo da aposentadoria do que de uma busca pela permanência no poder. A frase era uma referência, sem citação direta, a Keiko Fujimori (agora com 42 anos), rival de Kuczynski nas eleições e que muitos acreditavam que poderia modificar a Constituição para buscar uma reeleição.

Ex-banqueiro de Wall Street e empresário, o economista, de 79, é chamado de "el gringo" por seu sotaque estrangeiro, herança de uma educação nos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Ele se formou em Política, Filosofia e Economia em Oxford e em Administração Pública na Universidade de Princeton.

O fato de ter nacionalidade americana - da qual teve de abrir mão para disputar a Presidência - deu a ele uma aura de estrangeiro em seu próprio país. No Peru, é chamado de PPK, suas iniciais, já que seu sobrenome é impronunciável para muitos compatriotas.

Casado duas vezes, ambas com americanas, Kuczynski tem quatro filhos. Desde 1997, sua mulher é Nancy Lange.

Favorável ao livre-mercado, Kuczynski assumiu rapidamente um perfil regional de crítico ao protecionismo comercial, bandeira do presidente americano, Donald Trump. Ao mesmo tempo, concorda com Washington nas condenações ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

Paradoxalmente, Kuczynski é mais bem-visto no exterior. Para muitos, passa a imagem de um presidente que parecia viver em um mundo paralelo, sem lutar com os adversários para acabar seu mandato e encerrar o que parecia uma brilhante trajetória de vida, tanto pública quanto privada.

Percebido como um homem frio e com um senso de humor cáustico, suas piadas fora de propósito começaram a incomodar o imaginário peruano, com uma população dividida entre os problemas de segurança, a corrupção e as frágeis instituições do país.

Como PPK integrou diretorias de várias empresas, os críticos afirmavam que defenderia interesse particulares.

"São bobagens. Minhas mãos estão limpas", respondeu Kuczynski.

"Não sou político. Sou um economista que quer fazer algo por seu país", garantiu PPK, que também tem formação no Royal College of Music.

Sua mãe, a franco-suíça Madeleine Godard, é tia do cineasta Jean-Luc Godard.

Sua biografia oficial tem um capítulo especial dedicado ao pai Max Kuczynski, médico que, depois de fugir com a família da Alemanha nazista em 1936, assumiu a direção do leprosário de Iquitos, na Amazônia peruana, quando a lepra era temida como uma maldição.

Nascido em Lima em 3 de outubro de 1938, PPK passou grande parte da infância neste ambiente. Dessa maneira, forjou sua personalidade e resistência, que enfrentam agora um teste definitivo.