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Trump e Merkel se reúnem em paralelo à cúpula da Otan

11/07/2018 13h40

Bruxelas, 11 Jul 2018 (AFP) - No primeiro dia de cúpula da Otan, nesta quarta-feira (11), o presidente americano, Donald Trump, lançou um ataque frontal à Alemanha, acusando-a de "enriquecer" a Rússia, de quem compra gás, e de não contribuir o suficiente para os esforços militares da Aliança Atlântica.

Segundo a Casa Branca, Trump sugeriu aos aliados que aumentem seus gastos militares até 4% dos PIB.

Trump "sugeriu que os países respeitem não apenas seu compromisso de dedicar 2% de seu PIB aos gastos com defesa, mas que o aumentem até 4%", durante seu discurso no primeiro dia da cúpula da Otan, em Bruxelas, informou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

Trump permaneceu impassível às tentativas de explicação do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, com quem teve um encontro antes da abertura oficial da reunião em Bruxelas.

"A Alemanha é completamente controlada pela Rússia (...), é prisioneira da Rússia", martelou o presidente americano em sua investida contra a primeira potência econômica da UE.

"Ela paga bilhões de dólares à Rússia por seus abastecimentos de energia, e temos de pagar para protegê-la contra a Rússia. Como explicar isso? Não é justo", completou.

A chanceler Angela Merkel rebateu, declarando hoje que a Alemanha toma suas decisões de maneira "independente".

Trump e Merkel tiveram a oportunidade de se explicar em um tête-à-tête após a primeira sessão de trabalho. O presidente americano então mudou de tom, garantindo ter "relações muito boas" com a colega alemã.

O presidente americano disse ter discutido o projeto de extensão do gasoduto Nord Stream entre Rússia e Alemanha, ao qual é fortemente contrário, mas não quis dar detalhes da conversa.

Angela Merkel declarou, por sua vez, estar "satisfeita de ter a oportunidade de trocar pontos de vista" com Trump sobre as migrações e sobre o futuro das relações comerciais.

"Somos parceiros. Somos bons parceiros e desejamos continuar a cooperar no futuro", ela se limitou a comentar.

Antes de seu encontro com Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu aos membros da Otan que "não fragilizem" a organização.

O presidente americano denunciou, diversas vezes, o projeto de extensão do gasoduto Nord Stream, ligando Rússia e Alemanha diretamente, e exige seu abandono.

O ataque lhe permite causar uma fissura na unidade europeia, aproveitando-se da divisão no bloco sobre esse tema.

A Polônia considera que a Europa não precisa de um Nord Stream 2.

"É um exemplo dos países europeus que fornecem recursos para a Rússia, dar-lhes meios que possam ser usados contra a segurança da Polônia", afirmou o ministro polonês das Relações Exteriores, Jacek Czaputowicz, em sua chegada à reunião da Otan.

Os países da UE importam dois terços do gás que consomem. Em 2017, isso representou uma conta total de 75 bilhões de euros, de acordo com estatísticas europeias. Até o momento, grande parte do gás comprado provém da Rússia, mas os europeus querem romper essa dependência.

Os EUA estão empenhados em uma estratégia de conquista de mercados para seu gás natural. Em 2017, exportaram 17,2 bilhões de metros cúbicos, dos quais 2,2% GNL para terminais da União europeia.

- 'Linguagem muito direta' -Trump também vem se dirigindo aos membros da Otan em geral, "que não pagam o que devem" por seus gastos militares.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, reconheceu que o presidente americano usou uma "linguagem muito direta", mas garantiu que os aliados estão de acordo quanto a temas cruciais: a necessidade de reforçar a resiliência da Organização, a luta antiterrorista e uma divisão mais justa do peso financeiro.

O humor belicoso de Trump pré-cúpula irritou seus aliados europeus e fez o presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, afirmar, ontem, que o presidente americano deveria "valorizar" seus aliados europeus, porque os EUA "não têm tantos (aliados)".

Já o chefe da Otan frisou que todas as decisões que serão avaliadas durante a cúpula têm como objetivo reforçar a capacidade de dissuasão da Aliança.

"Os aliados não devem aumentar seus gastos para agradar aos Estados Unidos, mas porque é de seu interesse", frisou Soltenberg.

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