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Guaidó denuncia intimidação e anuncia plano contra colapso econômico

31/01/2019 23h46

Caracas, 1 Fev 2019 (AFP) - O autoproclamado presidente interino da Venezuela, o opositor Juan Guaidó, denunciou nesta quinta-feira (31) que corpos de elite de segurança se aproximaram de sua residência para intimidar a sua família, e responsabilizou o governo de Nicolás Maduro.

"Não vão me amedrontar", disse à imprensa o líder opositor, de 35 anos, com sua filha de 20 meses nos braços, às portas de sua casa em Caracas.

Guaidó assegurou que homens identificados como membros das Forças de Ações Especiais (FAES) foram à sua casa, em duas motos e uma caminhonete sem placas, e perguntaram ao segurança da entrada por sua esposa, Fabiana Rosales, e pela família.

"Buscavam informações. O objetivo é evidente (...) A esses funcionários digo: não cruzem o limite", expressou Guaidó, presidente do Parlamento de maioria opositora.

Os Estados Unidos, que reconheceram Guaidó como presidente interino, advertiram que haverá "sérias consequências" se o governo Maduro tomar medidas para "prejudicar" o opositor.

O conselheiro de Segurança Nacional americano, John Bolton, recomendou nesta quinta a Maduro e a seu círculo que "aproveitem a anistia" que Guaidó oferece a militares e civis que colaborarem com o governo de transição.

O opositor havia denunciado a "intimidação" do tablado onde apresentava o seu "Plano País" para enfrentar o colapso econômico venezuelano, no auditório da principal universidade do país, em Caracas.

Sua esposa estava ao seu lado, mas em casa se encontrava a sua filha, por cuja "integridade" tornou Maduro "responsável". Do auditório foi para casa com diplomatas e outros participantes do ato, além de um grupo de jornalistas.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, condenou "energicamente" o ato. "Claramente esta foi uma tentativa de intimidação a ele e à oposição", declarou o senador americano Marco Rubio.

"O mundo está observando e não vamos tolerar danos àqueles que lutam pela liberdade", ratificou o vice-presidente americano, Mike Pence, ao rejeitar no Twitter o ato de "intimidação".

O ministro do Interior, Néstor Reverol, havia dito mais cedo que na quarta-feira foram abatidos dois homens que se passavam por efetivos dos FAES "para criar falsos positivos, terror e confusão".

- 'Emergência humanitária' -Guaidó, fortalecido pelo reconhecimento da Eurocâmara, apresentou seu plano que tem como eixos: lidar com "a emergência humanitária (saúde, alimentação)", "frear a seco a inflação", reativar a indústria petroleira e restabelecer os serviços públicos.

Washington disse ter prontos 20 milhões de dólares para entregar em alimentos e remédios, mas Maduro, que atribui a escassez às sanções americanas, sustenta que a ajuda humanitária é a porta para uma intervenção militar.

A Venezuela sofre a pior crise de sua história moderna, com falta de alimentos e remédios, além de uma hiperinflação, que o FMI projeta em 10.000.000% para este ano. A situação fez disparar a migração, estimada em cerca de 2,3 milhões de venezuelanos desde 2015, segundo a ONU.

O economista e deputado José Guerra, um dos gestores do plano de Guaidó, detalhou que, além da hiperinflação, urge parar a impressão dinheiro sem apoio, uma nova política cambial e uma renegociação da dívida externa, estimada em 150 bilhões de dólares.

Outro assessor econômico, José Toro Hardy, estimou que a Venezuela precisará em um primeiro momento de 30 bilhões de dólares para se recuperar.

Determinado a sufocar economicamente o governo de Maduro, os Estados Unidos aprovaram sanções contra estatal petroleira Pdvsa - fonte de 96% dos rendimentos do país -e congelou contas e ativos venezuelanos.

- 'Seguiremos nas ruas' -O Parlamento Europeu reconheceu nesta quinta-feira Guaidó como presidente interino, pressionando a União Europeia para que faça o mesmo.

Sob a pressão de Espanha, Alemanha e França, a União Europeia deu um ultimato a Maduro para que nos próximos dias aceite eleições "livres" ou, do contrária, reconheceria Guaidó.

Guaidó convocou uma manifestação no sábado em apoio ao prazo europeu, que expiraria no domingo. Enquanto isso, o governo pediu a seus partidários que protestem, para celebrar os 20 anos da "revolução bolivariana" liderada pelo falecido Hugo Chávez (1999-2013).

"Continuaremos nas ruas até que a usurpação cesse. A força do povo em sua luta pela liberdade é imparável", manifestou o opositor.

Guaidó fez uma autoproclamação depois que o Congresso declarou Maduro "usurpador" após assumir um segundo mandato que considera ilegítimo, assim como grande parte da comunidade internacional, por ser resultado de eleições "fraudulentas".

- 'Nunca mais um diálogo falso' -A representante da UE, Federica Mogherini, anunciou nesta quinta a criação de um Grupo de Contato de países europeus e latino-americanos que trabalhará "90 dias" em uma saída à crise.

Na quarta-feira, Uruguai e México convocaram uma conferência internacional de países e organismos com "posição neutra" sobre a Venezuela, em 7 de fevereiro, em Montevidéu.

Maduro pediu uma negociação, mas Guaidó advertiu nesta quinta que "nunca mais" a oposição aceitará "um diálogo falso" com o governo.

O governo de Donald Trump admitiu que não descarta uma ação armada na Venezuela e pediu aos militares que apoiem a transição.

"Desejo a Nicolás Maduro e a seus colaboradores uma longa e tranquila aposentadoria (...) em uma bonita praia em algum lugar longe da Venezuela", tuitou nesta quinta-feira John Bolton, assessor de segurança nacional de Trump, insistindo na oferta de anistia.

Com cada convocação a marchas ressurge o medo de surtos de violência. Distúrbios desde 21 de janeiro deixaram 40 mortos e mais de 850 detidos, segundo a ONU. Duas ondas de protestos em 2014 e 2017 resultaram em 200 mortes.

E a tensão chegou à imprensa: dois franceses foram detidos e depois deportados por, segundo o governo, exercerem a sua profissão sem permissão, enquanto três jornalistas da agência espanhola EFE (dois colombianos e um espanhol) foram libertados e poderão permanecer no país.