Topo

Confira os cenários depois do bloqueio da ajuda à Venezuela

25/02/2019 20h59

Caracas, 25 Fev 2019 (AFP) - O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países como presidente interino da Venezuela, tinha assegurado que a ajuda humanitária entraria de uma forma ou de outra ao país no último sábado, 23 de janeiro. Mas seu plano, até o momento, fracassou devido à ferrenha resistência dos militares venezuelanos.

Após a operação fracassada, que deixou quatro mortos e dezenas de feridos em confrontos nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia, surgem três perguntas-chave:

- Quais são as opções de Guaidó? -Guaidó pediu à comunidade internacional que considere "todas as cartas" e nesta segunda-feira (25), exigiu, durante reunião em Bogotá do Grupo de Lima (formado por 13 países latino-americanos e Canadá) e os Estados Unidos que não se abram espaços ao presidente Nicolás Maduro porque, em sua avaliação, fazê-lo colocaria o continente em perigo.

O vice-presidente americano, Mike Pence, reiterou nesta segunda-feira, em Bogotá, que o governo de Donald Trump "tem todas as opções em aberto".

"Maduro está mais isolado do que nunca e seu governo está se tornando um pária internacional", disse à AFP David Smilde, especialista do centro de estudos WOLA.

Félix Seijas, diretor do instituto de pesquisas Delphos, acredita que se a comunidade internacional está disposta a avançar com a determinação que propõe, "então, Maduro acelerou um desenlace desfavorável".

"Se não, então as coisas vão se complicar de forma importante para as aspirações da oposição", declarou o analista à AFP, pois "internamente vai se esgotando a margem de manobra de Guaidó".

"O tanque de combustível era pequeno. O jogo depende agora mais da comunidade internacional", acrescentou.

Embora Guaidó não descarte a intervenção de uma força estrangeira, multiplicam-se no exterior vozes contrárias, como as da União Europeia (UE), Canadá e vários países da América Latina, onde as invasões americanas deixaram lembranças tristes.

Segundo o Eurasia Group, existe a opção de novas sanções internacionais. Os Estados Unidos congelaram contas e ativos venezuelanos - cujo controle entregou a Guaidó -, e a partir de 28 de abril aplicará um embargo ao petróleo.

Diante disso, Maduro busca o apoio financeiro de seus aliados Rússia, China e Turquia. A opção de uma asfixia econômica é mais lenta, afirmam especialistas.

- O que vai acontecer com Guaidó? -Guaidó chegou à Colômbia na sexta-feira passada - segundo ele, com ajuda dos militares -, desafiando uma ordem judicial que o impedia de deixar o país, pois é acusado de "usurpação" das funções do presidente.

O presidente interino autoproclamado afirmou que vai voltar à Venezuela ainda esta semana. Analistas avaliam que, em seu retorno, o líder opositor de 35 anos terá que suportar a pressão de seus seguidores, pois muitos podem se sentir frustrados.

"Terá que ser decidido, mas também melhorar as expectativas. Sem dúvida, o apoio ao regime está erodindo, mas seu colapso pode levar mais tempo que o que se pensava inicialmente", disse Michael Shifter, do Diálogo Interamericano (Washington).

Até agora, as autoridades não disseram o que farão com Guaidó quando voltar, apesar de terem ameaçado com a prisão os "traidores da pátria" e quem defende uma invasão.

- E quanto à ajuda humanitária? -Embora não tenha entrado na Venezuela, o bloqueio da ajuda afetou ainda mais a imagem de Maduro, mas - disse Shifter - não "foi o golpe de misericórdia".

Seiscentas toneladas de ajuda foram armazenadas na cidade colombiana de Cúcuta, mas dois caminhões foram incendiados em uma ponte fronteiriça no sábado na tentativa de entrada à Venezuela. Guaidó responsabiliza Maduro, mas o governo afirma que foram os próprios opositores os responsáveis pelo ataque.

"A instrução do presidente [colombiano, Iván] Duque é que essas ajudas se preservem da melhor forma possível. Estão em câmaras frigoríficas todos os perecíveis, o restante da ajuda está em locais climatizados", comentou a vice-presidente colombiana, Marta Lucía Ramírez.

A carga retornou aos armazéns para, segundo Ramírez, esperar "o momento propício mais adiante" para enviá-las à Venezuela, ainda que não seja a curto prazo.

A ajuda do Brasil é de 200 toneladas de alimentos não perecíveis e remédios que permanecerão em uma base aérea em Boa Vista, capital de Roraima, fronteiriço com a Venezuela.

Destas, 10 toneladas estão em dois caminhões estacionados em Pacaraima, perto da fronteira, em um posto militar. Por enquanto permanecerão ali, segundo fontes brasileiras.

Em Curaçao, outro centro de armazenamento, migrantes venezuelanos que moram nos Estados Unidos amarraram dois navios carregados com ajuda, depois de uma advertência da Marinha.

Os Estados Unidos parecem firmes na estratégia da ajuda. Pence anunciou nesta segunda-feira 56 milhões de dólares em assistência humanitária adicional.