Migrante que tentou queimar vivos 51 alunos italianos queria voltar para África
O motorista que sequestrou na quarta-feira um ônibus escolar com 51 estudantes a bordo queria usá-los como escudos humanos para poder embarcar no aeroporto de Milão, norte da Itália, de volta para a África, segundo confessou aos investigadores.
"Queria ir com o ônibus cheio de crianças para a pista do aeroporto de Milão-Linate e usá-las como escudo para poder pegar um avião para a África", contou Ousseynou Sy, um senegalês naturalizado italiano.
O motorista admitiu que planejou "um gesto espetacular" para chamar a atenção para os imigrantes oriundos desse continente.
Segundo o jornal Il Corriere della Sera, em um dos interrogatórios, o motorista afirmou que "não queria fazer mal a ninguém".
O advogado de defesa pediu uma avaliação psiquiátrica de seu cliente, que, segundo a imprensa local, odiaria os "brancos que invadiram e colonizaram a África", obrigando os africanos a imigrar e "morrer afogados no Mediterrâneo".
O chefe da célula antiterrorista de Milão, Alberto Nobili, afirmou que Sy postou no Youtube um vídeo com a mensagem intitulada "A África se levanta".
O motorista admitiu aos investigadores que a apreensão na terça-feira por ordem das autoridades da Itália do barco humanitário "Mare Jonio", bloqueado na ilha siciliana de Lampedusa com 48 imigrantes a bordo, foi um dos fatores que desencadearam seu gesto.
Sy, no entanto, não mostrou qualquer sinal de arrependimento por seu ato, que foi premeditado, segundo os investigadores.
"Era algo que tinha que fazer, que voltaria a fazer cem vezes. Por que fiz isso? Para enviar um sinal à África. Queria dizer aos africanos para que fiquem na África", confessou.
Segundo o jornal Il Messagero, ele já havia tentado sequestrar dias antes outro ônibus com escolares.
"Um professor interferiu e o impediu. O que está fazendo? Pegue o caminho certo", teria dito o professor, segundo contaram alguns alunos.
Itália em choque
Os italianos ficaram chocados ao se inteirar que, na quarta-feira, a polícia salvou in extremis os estudantes que foram feitos reféns e ameaçados pelo senegalês.
Os 51 estudantes, todos no Ensino Médio, estavam retornando de uma excursão junto com três acompanhantes adultos quando o motorista de repente mudou de direção na região de San Donato Milanese e tomou os passageiros como reféns.
"Ninguém vai sair vivo daqui", afirmou o motorista, segundo vários alunos.
Armado com dois latões de gasolina e um isqueiro, ele ameaçou as crianças, arrancou dela seus celulares e as amarrou com fios elétricos nos assentos.
Um dos meninos conseguiu ligar para os pais, que informou a polícia.
O motorista forçou um primeiro cordão de isolamento policial antes de ser bloqueado por três veículos da polícia.
Quando se viu cercado, ateou fogo ao ônibus, enquanto os policiais quebraram as janelas para tirar às pressas as crianças, que gritavam e choravam.
Mais de dez crianças e dois adultos foram levados para o hospital levemente intoxicados pela fumaça.
O ônibus ficou totalmente calcinado.
O motorista foi preso sob a acusação de "tomada de reféns, massacre e incêndio criminoso", com o agravante de "terrorismo".
Ousseynou Sy, 47 anos e de nacionalidade italiana desde 2004, "agiu como um lobo solitário", sem ligações com o islamismo radical, afirmou Nobili na véspera.
"Vamos fazer todo o possível para que este infame indivíduo seja privado da nacionalidade italiana", prometeu Matteo Salvini, ministro do Interior e líder da extrema-direita.
O partido de Salvini, A Liga, está em alta nas pesquisas, em parte por causa de sua dura postura anti-imigratória.
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