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Conselho militar sudanês nega golpe de Estado e pede ajuda internacional

12/04/2019 16h29

Cartum, 12 Abr 2019 (AFP) - No dia seguinte da destituição de Omar al Bashir no poder durante 30 anos em Sudão, a junta militar desmentiu nesta sexta-feira ter dado um golpe de Estado em uma tentativa por dar tranquilidade à comunidade internacional assim como os manifestantes, que pedem sua partida.

Na sexta-feira, o chefe do comitê político da junta, o tenente geral Omar Zinelabidine, afirmou a diplomatas que a expulsão Bashir não foi um "golpe de Estado".

"O papel do conselho militar é proteger a segurança e a estabilidade do país", declarou Zinelabidine.

"Não é um golpe de Estado militar, mas uma tomada de posição a favor do povo", acrescentou.

"Iniciaremos um diálogo com os partidos políticos para estudar como governar o Sudão. Haverá um governo civil e não interviremos em sua composição", disse, repetindo as garantias formuladas antes pelos chefes militares.

A televisão estatal anunciou que o general Awad Ibn Ouf, chefe do conselho militar de transição que dirige o país desde quinta-feira, discursará à noite.

Os militares afirmaram que Bashir está detido, mas que não será entregue ao exterior. O Tribunal Penal Internacional tem um pedido de prisão ao ex-presidente por crimes de guerra.

Em protesto pelas decisões dos militares, os manifestantes passaram a sexta noite consecutiva diante do quartel general das Forças Armadas em Jartum, apesar do toque de recolher.

Diante do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador do Sudão na organização, Yasir Abdelsalam, tentou dissipar os temores da comunidade internacional.

O Conselho militar "será o garantidor de um governo civil", disse.

Por ocasião de uma grande manifestação pela oração dessa sexta, milhares de mulheres e homens vestidos de branco compareceram ao quartel-general das Forças Armadas sob um sol escaldante, segundo testemunhas.

"É o nosso lugar. Vamos continuar até que a vitória seja alcançada, até conseguirmos um governo de transição", disse Abu Obeida, um manifestante.

"Estou impressionado com o que todos esses jovens estão fazendo aqui", disse Husein Mohamed, um idoso que disse ter vindo de Omdourman, perto de Cartum.

O anúncio desta quinta-feira significa que "não chegamos a nada", disse por sua vez Adel.

Na sexta-feira pela manhã, durante uma coletiva transmitida pela televisão, o general Omar Zinelabidine tentou acalmar os manifestantes, que violam o toque de queda imposto de 20H00 GMT a 02H00 GMT para expressar sua rejeição a uma transição militar.

Na quinta-feira, o ministro da Defesa, Aead Ibn Ouf, anunciou a instauração durante dois anos de um "conselho militar de transição", cuja direção ele assumiu.

Muitos soldados confraternizaram com os manifestantes.

- Integrar os civis -Após o anúncio da destituição de Al-Bashir, no poder desde um golpe de Estado em 1989, a multidão comemorou nas ruas.

Mas esse entusiasmo durou pouco e os manifestantes pediram para continuar o protesto, que teve início com a decisão do governo em 19 de dezembro de triplicar o preço do pão em plena crise econômica.

"As pessoas não querem um conselho militar de transição", mas "um conselho civil", declarou na quinta-feira Alaa Salah, uma estudante que se transformou e, "ícone" do movimento.

Uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o Sudão está sendo realizada a portas fechadas, a pedido de seis capitais, incluindo Washington, Paris e Londres.

Os militares serão "garantidores de um governo civil", reiterou o embaixador do Sudão na ONU.

Os Estados Unidos, que sempre designaram o Sudão como um dos seus piores inimigos, pediram "uma participação de civis no governo" e celebraram um "momento histórico".

No Sudão do Sul, que conquistou a independência em 2011 após 22 anos de conflito, Riek Machar, líder rebelde oposto ao poder, disse que espera que a destituição de Al-Bashir não afete o processo de paz em curso no seu país, em guerra civil desde 2013.

Al-Bashir tentou reprimir os protestos pela força antes de estabelecer em 22 de fevereiro o estado de emergência em todo o país, conseguindo enfraquecer a mobilização até o último sábado. De acordo com um balanço oficial, 49 pessoas morreram desde 19 de dezembro.

O espaço aéreo do Sudão foi fechado na quinta-feira por 24 horas, e as fronteiras terrestres até nova ordem.

Um cessar-fogo foi anunciado em todo o país, especialmente em Darfur (oeste), onde um conflito causou mais de 300.000 mortes desde 2003, segundo a ONU.

Um dos líderes rebeldes de Darfur rejeitou na quinta-feira esta "revolução palaciana" e pediu "um governo civil de transição". ab-jds/all/mdz/bc-jz/eg/mr