Os novos muros 30 anos depois de Berlim
Paris, 4 Nov 2019 (AFP) - O "muro de Trump" entre os Estados Unidos e o México, as cercas que separam Espanha e Marrocos, a barreira de segurança entre Israel e a Cisjordânia... O muro de Berlim deveria ser "o último" a cair, mas passados 30 anos após, divisões continuam a ser erguidas em todo o mundo.
Elisabeth Vallet, cientista política da Universidade de Québec, contabiliza "75 muros construídos ou anunciados", em comparação aos 15 existentes em 1989.
"Somados, os muros existentes se estendem por cerca de 40.000 quilômetros", o equivalente à circunferência da Terra, diz a autora de "Fronteiras, valas e muros — Estado de insegurança".
"Em 9 de novembro de 1989 foi derrubado o Muro de Berlim, marcando o que muitos esperavam que fosse uma nova era de cooperação e de abertura através das fronteiras", afirmou o Transnational Institute (TNI), think tank internacional com sede em Amsterdã.
"Mas 30 anos depois, parece estar ocorrendo o contrário: o mundo está respondendo aos problemas de segurança com muros, militarização e isolamento", acrescenta o TNI em seu relatório "Construindo Muros".
"A onda de otimismo durou pouco", confirma à AFP Alexandra Novosseloff, pesquisadora do International Peace Institute de Nova York.
"Os muros persistem e se multiplicaram. Há mais deles agora do que há 30 anos", acrescenta Novosseloff.
Bruno Tertrais, subdiretor da Fundação para a Pesquisa Estratégica de Paris, aponta que, embora muitas pessoas esperassem que a globalização fosse levar ao desaparecimento das fronteiras, ela está, pelo contrário, alimentado o ressurgimento dos nacionalismos.
E os nacionalistas "gostam das barreiras", lembra Tertrais, coautor de um livro em 2016 sobre muros, migração e conflitos.
Vulnerabilidade
"Os muros são construídos para tentar combater de uma maneira um tanto absurda fenômenos globais como o terrorismo, a migração e a pobreza", explica Novosseloff.
O ex-diplomata francês Michel Foucher, autor de um livro sobre a construção de fronteiras, argumenta que a vulnerabilidade que muitos sentem frente à globalização resultou em uma demanda por mais protecionismo estatal e, consequentemente, mais muros.
"O muro serve como uma metáfora pela qual se espera que se acalmem nossos medos", avalia Foucher, geógrafo e professor no College d'Etudes Mondiales, uma instituição de pesquisa com sede em Paris.
"Em um momento em que o populismo cresce rapidamente, um muro é uma solução rápida que um governo populista pode instrumentalizar rapidamente", explica Vallet.
À medida que os fluxos migratórios do sul para o norte continuam, cada vez mais se constroem muros com o objetivo de manter os estrangeiros fora da zona.
"Os Estados-membros da União Europeia e do Espaço Schengen construíram desde os anos 90 quase 1.000 km de muros, o que equivale a mais de seis vezes o muro de Berlim, para evitar a entrada de deslocados", segundo o Transnational Institute.
Segurança nacional
Entretanto, Vallet ressalta que "os muros não freiam os fluxos".
"Não detêm o tráfico de drogas, por exemplo. A maioria da droga que entra nos Estados Unidos é pelas passagens nas fronteiras", acrescenta.
"Pior ainda, os muros ajudam a esconder uma realidade, a de uma crescente insegurança ao sul da fronteira. Enquanto milhares de pessoas não tiverem outra opção senão abandonar suas casas, os muros não servirão para nada", acrescenta essa especialista.
Para Michael Rubin, pesquisador do American Enterprise Institute, um centro de pesquisa com sede em Washington, não se pode confundir os atuais muros fronteiriços, construídos para controlar a entrada de pessoas, e o muro de Berlim, que impedia as pessoas de sair.
"Os muros funcionam se o objetivo for proteger a segurança nacional e freiar a imigração ilegal", avalia, citando como "exemplo bem sucedido" a barreira entre Israel e a Cisjordânia.
"Quase imediatamente, o número de ataques de sucesso em Israel se reduziu em 90%", disse o ex-funcionário do Pentágono.
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