Onda de calor vinculada às mudanças climáticas provocou morte em massa de aves marinhas
Washington, 16 Jan 2020 (AFP) — Cerca de um milhão de aves marinhas do Pacífico Norte, conhecidas na região como airo, morreram durante uma onda de calor na temporada 2015-2016. De acordo com cientistas, a mudança climática interrompeu a cadeia de abastecimento de alimentos, fazendo com que as aves sofressem de inanição. Esse é o maior registro de mortalidade em massa já catalogado entre aves.
Em entrevista à AFP, a ecologista Julia Parrish, da Universidade de Washington, disse que a maior frequência de ondas de calor mais poderosas parece ser um fenômeno "relativamente novo" e vinculado às mudanças climáticas.
De 2014 a 2016, o El Niño se uniu a uma enorme massa quente de água do mar - chamada de "gota" - e, em conjunto, os dois criaram uma onda marinha de calor que se estendeu da Califórnia ao Alasca.
O El Niño é um fenômeno climático global que ocorre de maneira irregular. Ele está associado ao aumento da temperatura das águas superficiais do Pacífico equatorial central e oriental.
Durante o período compreendido entre o verão de 2015 e a primavera de 2016, cerca de 62 mil airos foram encontrados mortos em terra, ao longo da costa do Pacífico na América do Norte. Somente no Alasca, a taxa de morte foi mil vezes maior que o normal.
Sabendo que apenas uma pequena quantidade das aves que morreram estava em partes acessíveis da terra, estima-se que a quantidade total de mortes seja na realidade de algo entre meio milhão a 1,2 milhão de airos.
Como comparativo, 30 mil corpos de aves foram encontrados após o derramamento de petróleo Exxon Valdez na costa do Alasca, em 1989. Na época, foi estimado que o número de mortes foi de 300 a 600 mil aves.
Efeito duplicado
A ecologista explicou que os efeitos da onda de calor acabaram por ser dobrados. Primeiro, as altas temperaturas reduziram a qualidade e quantidade de fitoplâncton, o que por sua vez resultou na diminuição da quantidade e qualidade dos peixes comidos pelas aves.
Além disso, à medida que as águas ficaram mais quentes, aumentou a necessidade por peixes maiores, cujos predadores — pássaros de cerca de 30 cm de largura com barrigas brancas e pretas — competem com os airos na busca por alimento. Esses pássaros voam muito rápido e são especialistas em buscar suas presas em profundidades de até 200 m abaixo da superfície da água.
Piatt acrescentou que o "calcanhar de Aquiles" evolutivo do airo é a sua necessidade de consumir metade de sua massa corporal todos os dias.
"Tudo o que fazem depende do músculo do peito. E quando não conseguem comer em três ou quatro dias, queimam todo esse músculo", e não conseguem mais voar ou mergulhar, disse à AFP.
Para agravar o problema, muitos dos pássaros que morreram estavam em idade reprodutiva. O estudo constatou que as colônias de reprodução de airos em toda a região falharam em reproduzir filhotes durante anos durante e após a onda de calor.
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