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"A única coisa que me angustia é o silêncio", afirma idoso italiano em plena pandemia

REUTERS/Yara Nardi
Imagem: REUTERS/Yara Nardi

Em Roma

19/03/2020 10h42

Apoiado na janela, Roberto olha para a esquerda e para a direita, mas sua pequena rua, no centro de Roma, em geral lotada de turistas e moradores do bairro, está completamente vazia.

Desde que o governo anunciou a decisão drástica de confinar os italianos em suas casas, Roberto Fichera, um animado senhor de 84 anos, sai de casa apenas para o estritamente necessário: "Compras e uma escapada de vez em quando à farmácia para minha medicação".

Nestas circunstâncias, a questão do isolamento dos idosos está na ordem do dia, pois a Itália tem a população mais envelhecida da Europa - segundo as estatísticas - e poucos vivem em residências para a terceira idade.

Felizmente para Roberto, o bairro de Monti, onde vive, entre o Coliseu e a estação central de Termini, tem um comércio forte e ele consegue fazer tudo a pé, "uma bênção" em suas palavras, que mora sozinho e não tem carteira de motorista.

"Entro na fila como todo mundo, respeitando a distância de segurança, mas geralmente deixam que eu passe na frente pela minha idade avançada, algo que aceito de bom grado, já que para algo ser velho é uma vantagem", comenta, com um risada.

No momento, ele administra bem o confinamento obrigatório. "Sou caseiro e gosto de ficar ocupado em casa, assim comecei com uma grande limpeza de primavera (hemisfério norte), que me tomou vários dias", explica.

"Evidentemente, tive que desistir de algumas coisas, como uma visita com um amigo a uma loja Ikea para comprar uma mesa nova. Mas vou sobreviver", brinca o idoso.

Durante a conversa é preciso insistir um pouco para que ele admita que a situação extraordinária alterou seu dia a dia: "A única coisa que me angustia é o silêncio. Não se ouve nenhum barulho, nenhum carro, as ruas estão vazias... Quando você sai para caminhar e ouve passos atrás, quase dá medo, você vira preocupado", comenta.

"Você consegue ouvir até o canto dos pássaros, em pleno centro. Você percebe?", pergunta, incrédulo.

Poesia e Aperol

Ele vai dormir por volta de 1h e acorda às 9h. Todas as manhãs ele mede a temperatura, pois os idosos, mais vulneráveis, são o alvo favorito do coronavírus: os falecidos na Itália têm idade média de 80 aons.

"Nada de febre, nada de tosse, tudo bem", se tranquiliza.

Do outro lado do Tíber, no bairro de Trastevere, Carla Basagni, pintora e poeta amadora, também passa muito tempo na janela observando a Via della Lungaretta, a rua principal que liga o ponto do bonde com a praça de Santa Maria in Trastevere e sua fonte majestosa.

Normalmente há um fluxo contínuo de turistas, músicos de rua e vendedores ambulantes. Mas hoje a rua está completamente deserta. Desta maneira, Carla se refugia na leitura.

"As livrarias estão fechadas e não posso comprar livros, mas tive uma ideia: releio os livros que abriram a minha mente e o coração. Basta procurá-los e reaparecem como por arte de magia nas minhas estantes".

"E, de novo, me ajudam a recordar que o tempo está do nosso lado, apenas temos que ser pacientes", completa.

Carla, que também vive sozinha, faz o que pode para manter a forma. "Faço exercícios em casa. Bebo água ao menos cinco vezes ao dia e pouco vinho, embora goste muito", explica.

"Às vezes, coloco um pouco de Aperol na água para dar uma bonita cor vermelha", confessa, sem esconder o sorriso.

"Também preparo bons pratos", afirma, antes de explicar que esclarece suas ideias escrevendo poesias.

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