Tiroteios interrompem ações voluntárias contra covid-19 no Complexo do Alemão
Tiroteios no conjunto de favelas que integram o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, interromperam nesta segunda-feira (27) a distribuição de alimentos e itens de higiene por voluntários na luta contra o novo coronavírus, informaram ativistas.
"O tiroteio cancelou nossas atividades da manhã, porque parte das pessoas que são voluntárias são da região onde estava tendo conflito", disse à AFP Raull Santiago, ativista social do Complexo do Alemão.
Segundo a Polícia Militar, trocas de tiros foram registradas em dois pontos diferentes no Alemão, depois que "criminosos armados" atiraram em agentes e instalações policiais.
"A presença da polícia foi reforçada e houve um confronto. Até agora não há informações sobre feridos, presos ou apreensões", afirmou a polícia em comunicado.
Confrontos entre policiais e traficantes que dominam muitas regiões periféricas do Rio são comuns para seus habitantes, que muitas vezes ficam presos sob fogo cruzado sem poder sair de casa para trabalhar, ir à escola ou a centros de saúde.
Para atenuar os efeitos da paralisia econômica causada pelo novo coronavírus, os voluntários do Complexo do Alemão formaram um comitê de crise que há semanas distribui doações de cestas básicas, materiais de higiene, material de limpeza e água.
"Desde o início da pandemia, as operações policiais diminuíram, assim como os confrontos e mortes, o que infelizmente aponta que a estratégia de 'guerra' que o Estado usa para lidar com as drogas é parte central da violência nas favelas e periferias", disse Santiago.
A Rede de Observatórios de Segurança, composta por organizações acadêmicas e da sociedade civil, registrou uma redução de 23% no número de operações policiais em março (em comparação com o mesmo mês do ano passado), principalmente após a entrada em vigor do estado de emergência no Rio de Janeiro.
"A queda no número de ações policiais reduziu o número de vítimas (mortas e feridas) nessas operações. Durante o mês de março de 2020, houve 15 mortes, enquanto no ano passado foram 36 mortes", destacou o observatório em seu último relatório, publicado no início de abril.
No entanto, especialistas alertam que nos primeiros dias de abril foi observado um novo aumento de operações e confrontos em várias partes da capital, o que poderia agravar ainda mais a situação dos bairros periféricos em meio à crise da saúde.
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