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Coreia do Norte procura culpar Seul por coronavírus no país, dizem analistas

Regime norte-coreano, liderado por Kim Jong Un, impôs um confinamento à cidade de Kaesong - KCNA via Reuters
Regime norte-coreano, liderado por Kim Jong Un, impôs um confinamento à cidade de Kaesong Imagem: KCNA via Reuters

27/07/2020 08h47

Pyongyang usa o retorno de um desertor norte-coreano para culpar Seul pela possível presença do coronavírus em seu território, estimaram analistas hoje.

O regime norte-coreano impôs um confinamento à cidade de Kaesong, perto da fronteira com o Sul, depois de anunciar que havia identificado um caso "suspeito" de covid-19 em um desertor que retornou recentemente ao Norte atravessando a Zona Desmilitarizada (DMZ), informou a mídia norte-coreana neste fim de semana.

Por meses, o Norte sustentou que o coronavírus não havia se propagado em seu solo, embora a pandemia tenha surgido na vizinha China, seu principal apoio diplomático e econômico.

Uma afirmação questionada por especialistas, que acreditam que é provável que o coronavírus já estivesse presente na Coreia do Norte, mas que o regime procura culpar Seul, e não seu aliado chinês.

Hoje, autoridades sul-coreanas disseram que a pessoa suspeita de ser o desertor nunca foi diagnosticada como positivo para o coronavírus, nem identificada como tendo tido contato com casos confirmados.

Seul tem sido elogiado por sua resposta muito eficaz à epidemia, com uma estratégia de rastreamento muito agressiva. Mais de 1,5 milhão de testes foram realizados.

"A Coreia do Norte poderia tentar usar o retorno desse desertor para evitar a responsabilidade por uma epidemia que já existia", disse Rachel Lee, especialista em Coreia do Norte e ex-funcionária do governo dos EUA.

"Pode atacar a vigilância nas fronteiras sul-coreanas", comentou à AFP. "Pode até acusar a Coreia do Sul de enviar deliberadamente o desertor ao Norte para espalhar o vírus por lá".

Duyeon Kim, especialista em questões coreanas no International Crisis Group, acrescenta que ao culpar Seul, Pyongyang "agora pode legitimamente e abertamente aceitar ajuda do Sul".

O Norte "também pode enviar uma mensagem sobre os desertores apresentando-os ainda mais como inimigos do Estado", acrescentou no Twitter.

Pyongyang tem o hábito de difamar as pessoas que fugiram para o Sul e que enviam ao Norte panfletos de propaganda contra o regime norte-coreano. Essas ações contribuíram para tensionar ainda mais as relações inter-coreanas.

11 retornos em cinco anos

É extremamente raro que norte-coreanos que fugiram para o Sul retornem ao seu país de origem, onde correm o risco de represálias, segundo organizações de direitos humanos.

O ministério da Unificação da Coreia do Sul diz ter apenas 11 exemplos de norte-coreanos retornando ao Norte nos últimos cinco anos.

E é ainda mais raro que o façam através da Zona Desmilitarizada, que, ao contrário do que o nome sugere, é uma das áreas mais militarizadas do mundo, com campos minados, postos de guarda e arame farpado.

Mas as Forças Armadas sul-coreanas disseram acreditar que um desertor cruzou de volta para o Norte, atravessando o estuário do rio Han, a partir da ilha de Ganghwa.

Ele não foi identificado oficialmente, mas alguns meios de comunicação acreditam que é um homem de 24 anos que chegou ao Sul em 2017. E alegam que o homem está sob investigação por estupro no Sul.

No mês passado, este homem apareceu em um canal no YouTube de outro desertor. Ele contou que levou sete horas para atravessar a fronteira a nado quando atravessou para o Sul.

Na entrevista, disse que "chorou por 10 dias" pensando em sua família no Norte.

Duas pessoas que entraram recentemente em contato com ele foram submetidas a testes no domingo, mas nenhuma era portadora do coronavírus, disse Yoon Tae-ho, uma autoridade sul-coreana.

O sistema de saúde da Coreia do Norte é precário e não tem condições de lidar com uma epidemia. Pyongyang foi, no final de janeiro, o primeiro país do mundo a fechar suas fronteiras para se proteger da epidemia.