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Irã homenageia cientista assassinado e acusa serviço secreto israelense

Militares iranianos carregam caixão com o corpo do cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh, morto em um atentado a tiros, durante funeral em Teerã - Ministério da Defesa do Irã/West Asia News Agency/Reuters
Militares iranianos carregam caixão com o corpo do cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh, morto em um atentado a tiros, durante funeral em Teerã Imagem: Ministério da Defesa do Irã/West Asia News Agency/Reuters

30/11/2020 10h24

Teerã, 30 Nov 2020 (AFP) - O Irã afirmou hoje que seu eminente físico nuclear assassinado na sexta-feira (27) foi vítima de uma operação "complexa" envolvendo meios "completamente novos" e acusou o Mossad, o serviço secreto israelense.

No mesmo dia e com um protocolo digno dos maiores "mártires" da República Islâmica do Irã, as autoridades prestaram uma última homenagem a este cientista, Mohsen Fakhrizadeh, e prometeram continuar o seu trabalho.

Mohsen Fakhrizadeh foi morto perto de Teerã em um ataque com carro-bomba seguido de um tiroteio contra seu carro, de acordo com o ministério da Defesa, que posteriormente apresentou a vítima como vice-ministro da Defesa e chefe do Organização de pesquisa e inovação em defesa (Sépand). Poucos detalhes surgiram sobre as circunstâncias exatas do ataque.

Em entrevistas à mídia iraniana hoje, o almirante Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, falou de "uma operação complexa com o uso de equipamentos eletrônicos".

Os Mojahedins do Povo, um grupo de oposição no exílio, "deve estar envolvido", mas "o elemento criminoso de tudo isto é o regime sionista e o Mossad", afirmou.

Segundo ele, Mohsen Fakhrizadeh já havia sido alvo de tentativas de ataque no passado, "mas desta vez o inimigo usou um estilo e método totalmente novos, profissionais e especializados, e conseguiu atingir o objetivo que perseguia há 20 anos".

Sem citar fontes, a agência de notícias iraniana Fars afirmou que o ataque foi realizado com uma "metralhadora automática de controle remoto" e montada em uma picape Nissan.

Citando uma "fonte informada", a Press TV, um canal de notícias em inglês para a televisão estatal, relatou que as armas recuperadas do local do assassinato foram "fabricadas em Israel".

"Permanecer desconhecido"

Inimigo da República Islâmica do Irã, Israel não reagiu oficialmente às acusações lançadas desde sexta-feira pelas autoridades iranianas.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu apresentou em 2018 o cientista morto como chefe de um programa nuclear militar secreto, que o Irã sempre negou.

Mohsen Fakhrizadeh é um daqueles homens praticamente desconhecidos que alcançaram notoriedade póstuma. Pouco se sabe sobre ele, mas uma coisa é certa: era importante.

"Se nossos inimigos não tivessem cometido esse crime desprezível e derramado o sangue de nosso querido mártir, ele poderia ter permanecido desconhecido", disse o ministro da Defesa Amir Hatami, incapaz de conter as lágrimas ao lado do corpo do físico, durante cerimônia no ministério da Defesa em Teerã. Mas hoje ele é "revelado a todo o mundo".

Os restos mortais foram homenageados no sábado e no domingo em Mashhad e Qom, dois lugares sagrados xiitas, assim como aconteceu com o general iraniano Qassem Soleimani em janeiro, assassinado por Washington no Iraque.

O retrato do general "mártir" foi colocado perto do caixão ao lado da imagem do cientista.

Este último fez "um trabalho considerável" no campo da "defesa anti-atômica" e o governo "dobrou o orçamento de Sépand", disse o general Hatami, negando que Mohsen Fakhrizadeh estivesse envolvido em qualquer programa nuclear militar.

"Castigo decisivo"

A oração fúnebre foi conduzida por Ziaoddine Aqajanpour, representante do guia supremo Ali Khamenei. "Teremos paciência (...) mas a nossa nação exige a uma só voz um castigo decisivo" contra os responsáveis pelo assassinato, afirmou.

O caixão do cientista foi enterrado em Imamzadeh-Saleh, um santuário em Teerã onde dois outros cientistas foram sepultados em 2010 e 2011, assassinatos também atribuídos a Israel.

Depois de acusar Israel, o presidente iraniano Hassan Rohani prometeu no sábado uma resposta à morte de Mohsen Fakhrizadeh.

Muitos ultraconservadores pedem o banimento dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) responsáveis por inspecionar atividades iranianas sensíveis, em conformidade com o acordo nuclear internacional concluído em 2015.

Mas esse pacto está à beira do abismo desde que o presidente Donald Trump, um aliado próximo de Israel, retirou unilateralmente os Estados Unidos dele em 2018, antes de restaurar as sanções econômicas contra o Irã.

O acordo oferecia a Teerã um alívio das sanções internacionais em troca de garantias para atestar a natureza exclusivamente pacífica de seu programa nuclear.

Joe Biden, eleito presidente dos Estados Unidos em novembro, mostrou sua vontade de salvar o que pode ser salvo deste acordo.