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Derek Chauvin tinha histórico de violência, mas era apoiado por superiores

Derek Chauvin foi condenado hoje a 22 anos e meio de prisão por homicídio - Divulgação/ Gabinete do xerife do condado de Hennepin
Derek Chauvin foi condenado hoje a 22 anos e meio de prisão por homicídio Imagem: Divulgação/ Gabinete do xerife do condado de Hennepin

Da AFP em Minneapolis (EUA)

25/06/2021 21h48

O ex-policial branco Derek Chauvin, uma personalidade "antissocial" com uma carreira marcada pela violência, já tinha um histórico de uso excessivo da força antes deste caso, classificado pela procuradoria como um "chocante abuso de autoridade".

Este homem de 45 anos foi condenado nesta sexta-feira a 22 anos e meio de prisão pelo homicídio do afro-americano ao fim de uma audiência na qual, pela primeira vez em 13 meses, falou.

"Neste momento, devido a algumas questões jurídicas adicionais, não posso dar uma declaração formal completa", disse Chauvin ao tribunal de Minneapolis. "Mas, brevemente, quero estender minhas condolências à família Floyd", acrescentou.

A morte de Floyd, de 46 anos, ocorreu em 25 de maio de 2020 em Minneapolis. Preso por supostamente comprar cigarros com uma nota falsa de US$ 20, abalou os Estados Unidos e o mundo, gerando enormes protestos contra a injustiça racial e a brutalidade policial.

Na audiência de hoje, Chauvin permaneceu impassível. Já durante o julgamento, ele não reagiu às palavras de condenação das testemunhas, refugiando-se numa frenética anotação em um caderninho amarelo.

Em 25 de maio de 2020, o ex-policial manteve Floyd imobilizado no chão com o joelho no pescoço do suspeito por mais de nove minutos, mesmo depois que o afro-americano desmaiou e seu pulso estava indetectável.

Foi a atitude de um homem "razoável" que estava aplicando um gesto autorizado e treinado para prender um suspeito "que resistiu", argumentou o advogado de Chauvin, Eric Nelson.

Chauvin "violou as regras", "o treinamento" e "a ética" da força policial, respondeu Medaria Arradondo, que chefia a força policial de Minneapolis.

Até este drama que chocou a América, Chauvin nunca havia sido abandonado por seus superiores hierárquicos, apesar de ter precedentes perturbadores.

22 processos

Em 19 anos de carreira, o agente recebeu quatro medalhas, mas também foi alvo de 22 denúncias e investigações internas, segundo registro público em que todos os detalhes foram suprimidos.

Apenas uma denúncia foi acompanhada de uma carta de reprimenda. De acordo com reportagens da imprensa, a queixa foi apresentada por uma mulher branca que foi violentamente puxada de seu carro em 2007 por excesso de velocidade.

Desde a morte de Floyd, o véu foi parcialmente levantado sobre os outros incidentes. Em sua acusação, os promotores detalharam várias prisões nas quais Chauvin aplicou pressão "além do razoável" no pescoço dos suspeitos.

A procuradoria exibiu vários exemplos de seu "modus operandi", incluindo o caso de Zoya Code, uma jovem negra presa em 2017 acusada por sua mãe de violência.

"Ele se apoiou no meu pescoço", contou Code recentemente sobre Chauvin. Frustrada e irritada, ela o desafiou a pressionar com mais força. "Foi o que ele fez. Só para me calar", afirmou.

Em maio, promotores federais revelaram que acusaram Chauvin não apenas da morte de Floyd, mas também da detenção violenta de um adolescente de 14 anos em setembro de 2017.

"Sem justificativa legal, ele agarrou o adolescente pelo pescoço e bateu repetidamente na cabeça dele com uma lanterna", e depois "manteve o joelho no pescoço e na parte superior das costas do adolescente que estava deitado de bruços, algemado e sem oferecer resistência", relataram os promotores na época.

Antissocial

A nível pessoal, poucos detalhes surgiram sobre o ex-policial. Chauvin tinha uma esposa, uma refugiada do Laos com quem se casou em 2010.

No final de maio de 2020, ela pediu o divórcio. Desde então, os tribunais abriram processos de fraude fiscal contra o casal.

Ex-colegas, sob condição de anonimato, esboçaram na mídia o retrato de um homem silencioso, intransigente e viciado em trabalho, que costumava patrulhar bairros difíceis.

Andre Balian, um instrutor de kung fu que treinou com Chauvin cerca de 20 anos atrás, descreveu à AFP um homem "antissocial" que muitas vezes "ficava com os braços cruzados, sem falar" durante as aulas.

O ex-proprietário de uma boate onde Chauvin prestava serviços de segurança nos fins de semana disse à imprensa que o ex-policial é um homem "ligeiramente racista" que usava gás lacrimogêneo ao menor incidente.

Hoje, sua mãe, a primeira pessoa próxima a ele que saiu do silêncio para defendê-lo, quis quebrar essa imagem. Meu filho tem um "bom coração" e é "um homem quieto, atencioso, honrado e altruísta", disse Carolyn Pawlenty.

Mas uma imagem chamou a atenção durante o julgamento: a família Floyd se revezou para ocupar permanentemente o assento reservado para eles no tribunal. Já o lugar da família de Chauvin quase sempre estava vazio.