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Cazaquistão pede ajuda à Rússia para controlar protestos violentos

Carro da polícia em chamas durante protesto contra aumento do custo do GLP após a decisão das autoridades do Cazaquistão de elevar os limites de preço do gás liquefeito de petróleo em Almaty - Pavel Mikheyev/Reuters
Carro da polícia em chamas durante protesto contra aumento do custo do GLP após a decisão das autoridades do Cazaquistão de elevar os limites de preço do gás liquefeito de petróleo em Almaty Imagem: Pavel Mikheyev/Reuters

05/01/2022 19h00

Almaty, Cazaquistão, 5 Jan 2022 (AFP) - O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, declarou nesta quarta-feira (5) estado de emergência e pediu ajuda à Rússia para controlar os distúrbios violentos provocados pelo aumento do preço do gás, que deixaram oito agentes de segurança mortos, segundo a imprensa.

"Hoje fiz um apelo aos chefes dos Estados da OTSC [Organização do Tratado de Segurança Coletiva] para que ajudem o Cazaquistão a superar esta ameaça terrorista", disse Tokayev em transmissão da televisão estatal.

O presidente acrescentou que esses "grupos terroristas" receberam "treinamento no exterior" para desestabilizar a nação da Ásia Central, um país rico em hidrocarbonetos.

A OTSC é uma aliança militar liderada pela Rússia e integrada por outras cinco ex-repúblicas soviéticas: Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

As manifestações começaram no domingo, no oeste cazaque, e se estenderam na terça-feira pela noite a Almaty, a maior cidade do país, quando cerca de 5.000 pessoas foram dispersadas com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.

Hoje pela tarde, milhares de manifestantes irromperam no edifício da administração de Almaty, apesar das bombas e do gás lacrimogênio disparados pela polícia, segundo um jornalista da AFP.

Meios de comunicação locais informaram que os manifestantes seguiram depois rumo à residência presidencial na cidade, e que ambos os edifícios estavam em chamas.

Pelo menos oito agentes entre policiais e militares morreram nos distúrbios ocorridos na madrugada de quinta-feira (tarde de quarta, 5, no Brasil), segundo a imprensa local, citando o Ministério do Interior.

Segundo essa fonte, 317 efetivos da polícia e da Guarda Nacional ficaram feridos e oito morreram "pelas mãos de uma multidão enfurecida".

O presidente Tokayev destituiu o governo e impôs o estado de emergência, inicialmente apenas em Almaty, na província de Mangystau e na capital administrativa, Nur-Sultan.

Contudo, pouco depois as autoridades o ampliaram para todo o território nacional, até 19 de janeiro.

Esta crise é o maior desafio enfrentado até o momento pelo regime estabelecido pelo ex-presidente Nursultan Nazarbayev, que dirigiu o país até 2019, mas continua exercendo grande influência.

A Rússia, país-chave para a economia do Cazaquistão, se manifestou durante a tarde de quarta, pedindo que a crise fosse resolvida através do "diálogo" e não com "distúrbios nas ruas".

Em Washington, a Casa Branca pediu "moderação" às autoridades cazaques.

Crise do gás

O movimento contra o aumento do preço do gás começou no fim de semana na cidade de Khanaozen, no coração da região ocidental de Mangystau, antes de se espalhar para Aktau, nas margens do Mar Cáspio, e Almaty.

Em um primeiro momento, o governo decidiu reduzir de 120 para 50 tenges (de R$ 1,57 para 0,66) o preço do litro de gás liquefeito de petróleo (LPG) em Mangystau para "garantir a estabilidade do país", mas isso não foi suficiente para apaziguar o descontentamento.

A televisão informou nesta quarta-feira que um diretor de uma usina de tratamento de gás e outro responsável foram detidos na região de Mangystau, acusados de "aumentar o preço do gás sem motivo".

O Cazaquistão é a maior economia da Asia Central, com elevadas taxas crescimento, mas se vê abalado pela queda nos preços do petróleo e a crise econômica na Rússia.

'Falha da internet'

Nesta quarta, foi registrada uma "falha de internet em escala nacional" no Cazaquistão, segundo a ONG Netblocks, grupo especializado em monitorar as redes de computadores.

Para o grupo, isso "pode limitar severamente a cobertura das manifestações antigovernamentais que se intensificam".

Os correspondentes da AFP no país puderam verificar que a conexão de internet era irregular e que aplicativos de mensagens como Telegram, Signal e WhatsApp não estavam funcionando.

Pouco tempo depois, foi impossível fazer contato com os jornalistas através dos celulares.