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Nord Stream 2: o gasoduto russo que movimenta o xadrez da crise na Ucrânia

Gasoduto liga a Rússia à Alemanha e leva temores de dependência da UE no tocante ao gás russo - Odd Andersen/AFP
Gasoduto liga a Rússia à Alemanha e leva temores de dependência da UE no tocante ao gás russo Imagem: Odd Andersen/AFP

Em Berlim (Alemanha)

28/01/2022 11h47Atualizada em 28/01/2022 11h49

O Nord Stream 2, o gasoduto que liga a Rússia à Alemanha, foi concluído em novembro e já causou grandes desavenças geopolíticas e econômicas, embora agora corra o risco de não ser inaugurado no caso de uma invasão russa da Ucrânia.

Durante vários anos, opôs os Estados Unidos contra a Alemanha, principal promotor do projeto, mas também os europeus uns contra os outros, além da Rússia e da Ucrânia.

Uma virada surpreendente de Washington permitiu que a Alemanha e os Estados Unidos chegassem a um entendimento para encerrar a disputa.

Mas a ameaça russa sobre a Ucrânia mudou a situação novamente, e Washington alertou ontem que a inauguração do gasoduto estava em jogo.

Mais gás para a Europa

O Nord Stream 2 conectará a Rússia à Alemanha através de um gasoduto de 1,2 mil km no Mar Báltico, com capacidade de 55 milhões de metros cúbicos de gás por ano, seguindo a mesma rota do irmão gêmeo, Nord Stream 1, ativo desde 2012.

Contornando a Ucrânia, a rota aumentará as possibilidades de fornecimento de gás russo para a Europa, enquanto a produção na União Europeia diminui.

Operado pela gigante russa Gazprom, o projeto está estimado em mais de 10 bilhões de euros (US$ 11,8 bilhões) e foi cofinanciado por cinco grupos europeus (OMV, Engie, Wintershall Dea, Uniper e Shell).

Opositores americanos e europeus

A Ucrânia teme perder a renda que obtém com o trânsito de gás russo e ser mais vulnerável em comparação com Moscou.

Os Estados Unidos se opuseram desde o início a um projeto que enfraqueceria estratégica e economicamente a Ucrânia, que poderia aumentar a dependência da UE (União Europeia) do gás russo e que poderia dissuadir os europeus de comprar o gás de xisto que Washington quer vender.

Os europeus também estão divididos, e a Polônia e os países bálticos temem que o bloco acabe cedendo às ambições da Rússia.

Na Alemanha, o Nord Stream também não tem aceitação unânime: o partido ambientalista se opôs por muito tempo, antes de adotar uma posição mais tolerante após a entrada no governo.

Longo processo

O governo do ex-presidente Donald Trump decidiu impor medidas contra as empresas envolvidas nas obras do projeto, em 2019, o que fez com que várias empresas se retirassem.

As obras, iniciadas em abril de 2018, foram interrompidas em dezembro de 2019, quando faltavam 150 km de tubulação. Os trabalhos foram retomados um ano depois e, agora, o gasoduto está concluído.

Mas o regulador de energia alemão decidiu em novembro suspender o processo de aprovação das instalações devido a um obstáculo legal.

Mudança em Washington

Em maio de 2021, a administração do democrata Joe Biden, que antes havia manifestado hostilidade ao gasoduto, anunciou que estava desistindo de sancionar a empresa Nord Stream 2 AG.

Em julho, os Estados Unidos anunciaram um acordo com o Executivo alemão para encerrar essa disputa.

Dessa forma, Biden parecia apostar na aliança com a Alemanha, da qual Washington espera obter apoio em outras frentes, como contra a China.

A crise ucraniana mudou mais uma vez a situação.

"Se a Rússia invadir a Ucrânia, de uma forma ou de outra, o Nord Stream 2 não seguirá em frente", alertou Victoria Nuland, número três do Departamento de Estado dos EUA, ontem.

A chefe da diplomacia alemã, a ambientalista Annalena Baerbock, também destacou que haveria "fortes sanções", incluindo o Nord Stream 2, no caso de um ataque russo.