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Familiares de opositores condenados na Nicarágua lutam por sua inocência

Em protesto d 2018 contra o governo de Daniel Ortega, mulher segura foto de seu filho morto, em Manágua, na Nicarágua - Anadolu Agency/Getty Images
Em protesto d 2018 contra o governo de Daniel Ortega, mulher segura foto de seu filho morto, em Manágua, na Nicarágua Imagem: Anadolu Agency/Getty Images

05/02/2022 13h39Atualizada em 05/02/2022 14h59

Lesther Alemán, o líder estudantil que exigiu a renúncia do presidente socialista Daniel Ortega em 2018, acaba de ser condenado por conspiração contra a Nicarágua. Assim como ele, outros cinco opositores presos foram considerados culpados desse crime e seus familiares alegam sua inocência.

"Meu filho nunca desestabilizou o país", disse Lesbia Alfaro, mãe de Lesther, à AFP. Ela afirma que o condenaram "só por levantar a voz, porque estava vendo a injustiça que estava acontecendo no país com tantos camaradas mortos".

Aleman, 24, foi considerado culpado na quinta-feira por um tribunal, acusado do crime de "conspiração para minar a integridade nacional", em um julgamento realizado a portas fechadas em uma prisão de Manágua.

Em 2018, Alemán pediu a Ortega que renunciasse à presidência durante o diálogo que a Igreja Católica promoveu entre o governo e as organizações sociais que participaram das manifestações, que segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) deixaram 355 mortos devido à repressão e mais de 100.000 exilados.

Lesther, que se exilou em 2018 e retornou à Nicarágua em 2019, é um dos 46 opositores presos em 2021, a maioria deles meses antes das eleições de novembro, nas quais o ex-guerrilheiro Ortega foi reeleito para seu quarto mandato consecutivo. Com ele outros seis condenados são desse mesmo grupo.

"Dói ver como o tratam"

Em 1º de fevereiro, começaram os julgamentos contra opositores presos. A Promotoria pediu 10 anos de prisão para o ativista da oposição Yader Parajón, condenado pelo crime de conspiração.

Os "promotores, esses palhaços, pediam uma pena de 10 anos" para Yader, denunciou seu pai Miguel Parajón, depois de participar da audiência de debate de sentença que também foi realizada no auditório da prisão sem acesso à imprensa.

Yader, que foi preso em setembro passado ao tentar deixar o país, chegou à audiência vigiado pela polícia com as mãos algemadas e a cabeça baixa.

Ele está "muito magro, veja como me dói ver como o tratam", até "dá vontade de chorar", disse o homem, que disse que seu filho, ao vê-lo, tentou animá-lo.

"Seria bom um diálogo"

Miguel disse que Yader foi processado por reclamar da morte de seu irmão, desde então sua família vive um "pesadelo".

"Peço sua liberdade porque meu filho é inocente, meu filho não é um criminoso, não matou ninguém, estava estudando na universidade, mas seu sonho foi interrompido", lamentou. A mãe de Yader morreu de câncer em 2017.

"Seria bom um diálogo" que permitisse a libertação de todos os opositores presos", exortou Miguel Parajón. O presidente Ortega já avisou que as coisas não serão como em 2018, quando houve anistia para os manifestantes presos.

Outro dos opositores presos e recentemente condenados é o jornalista e ex-candidato presidencial Miguel Mora. Sua esposa, a também jornalista Verónica Chávez, que participou do julgamento, disse à AFP que Mora é "inocente" e que "está resistindo com força e uma fé inabalável em Deus".

Familiares dos opositores presos denunciaram as precárias condições carcerárias e os problemas de saúde enfrentados pelos detentos.

A comunidade internacional, principalmente os Estados Unidos, a União Europeia e a Organização dos Estados Americanos (OEA) pediram a libertação dos opositores na Nicarágua.