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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


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Memória viva da resistência ucraniana, idosa pede a Putin que retroceda: 'Nos deixe viver em paz'

8.mar.2022 - Rozalia Choba, 98, que passou dez anos na Sibéria como prisioneira política, senta-se em um sofá em sua casa na vila de Solonka, nos arredores de Lviv, oeste da Ucrânia - Ionut Iordachescu/AFP
8.mar.2022 - Rozalia Choba, 98, que passou dez anos na Sibéria como prisioneira política, senta-se em um sofá em sua casa na vila de Solonka, nos arredores de Lviv, oeste da Ucrânia Imagem: Ionut Iordachescu/AFP

Em Solonka (Ucrânia)

10/03/2022 06h47Atualizada em 10/03/2022 09h12

Aos 98 anos, Rozalia Choba leva dentro de si mesma uma parte da história de Ucrânia: resistência antinazista, gulag soviético e exílio. A tudo isso se soma agora a invasão russa, da qual espera sobreviver.

"Amo minha terra, meu povo [...] precisa de paz, liberdade. Nós, ucranianos, queremos ter o nosso próprio Estado", afirma esta senhora que vive em Solonka, um povoado na região de Lviv, no oeste da Ucrânia.

Trabalhos forçados na Alemanha e Sibéria

Desde outubro de 2021, Choba acompanha pela televisão o recrudescimento das tensões com Moscou e a concentração de tropas e material bélico da Rússia na fronteira com a Ucrânia, que precedeu a invasão e a guerra que ela havia vaticinado.

"A Alemanha fez o mesmo com a Polônia", conta a anciã, aludindo ao começo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Em 1941, quando tinha 18 anos, Choba foi enviada para realizar trabalhos forçados na Alemanha, de onde não voltaria antes do final do conflito.

Ao retornar, apoiou a resistência contra a União Soviética, da qual a Ucrânia fazia parte, o que lhe rendeu uma condenação em 1947 a dez anos em uma colônia penitenciária na Sibéria, os chamados 'gulags' do regime comunista. "Não é nada para se gabar, eu fiz o que pude para ajudar", afirma com modéstia.

Em seu quarto com decoração tradicional, cortinas de renda e um ícone - imagem religiosa do cristianismo ortodoxo - na parede, a nonagenária mostra uma acusação soviética e fotos da infância: aqui a vemos com um vestido no meio do campo; ali, no Natal, no gulag com seus companheiros.

"Em uma palavra, sobrevivi, vivi até agora e, se Deus quiser, também sobreviverei a esta guerra", afirma a quase centenária.

'Nos deixe viver em paz!'

A voz tênue de Choba é suave. Mas quando ela fala do presidente russo Vladimir Putin, esta avó, cuja cabeça está coberta com um lenço, fica de pé e se apoia em seu andador como se fosse um púlpito.

"Pense no que está fazendo, nos deixe viver em paz, toda a Europa, não só a Ucrânia, porque todo o mundo terá problemas!", exclama agitando as mãos. "Me ouça, sou velha, tenho 98 anos!", continua.

"Ela é nossa heroína, defendeu a Ucrânia; sem ela não estaríamos aqui hoje", diz seu filho Myroslav, entrando no salão com um buquê de rosas, que lhe entrega como presente por ocasião do 8 de março, Dia Internacional de Mulher.

Assim como ocorre em muitas ex-repúblicas soviéticas, é costume na Ucrânia presentear as mulheres neste dia internacional que celebra os seus direitos. Neste conflito, assim como em Donbass, no leste da Ucrânia, as mulheres têm papel-chave, tanto no combate como na retaguarda.

Fiéis à história familiar de resistência, as netas de Choba tecem redes de camuflagem para o exército e seu filho organiza a ajuda humanitária no povoado.

Esta idosa não deseja o mal a ninguém, "exceto Putin". "Se os tanques chegarem a Solonka, lhes direi que voltem de onde vieram e, inclusive, lhes darei pão para o caminho!", diz, determinada.