Separatistas pró-russos reivindicam conquista de cidade do leste da Ucrânia
Os separatistas pró-Rússia em Donetsk anunciaram hoje que tomaram a cidade de Lyman, uma cidade-chave no leste da Ucrânia, onde Moscou está ganhando terreno após mais de três meses de ofensiva.
Em sua conta no Telegram, o Estado-Maior da milícia separatista pró-russa de Donetsk indicou que "assumiu o controle total" de Lyman, com o apoio das unidades militares da região separatista de Luhansk e das forças armadas de Moscou.
No momento, os militares russos não divulgaram nenhuma informação e a AFP não conseguiu verificar a notícia de forma independente.
Depois de não conseguir tomar Kiev e Kharkiv, Moscou concentra seus esforços na conquista completa do Donbass, uma região de mineração que inclui as regiões de Donetsk e Luhansk.
Lyman é um importante centro ferroviário a nordeste de Slaviansk, brevemente tomado por separatistas pró-Rússia em 2014, e Kramatorsk, capital da região de Donetsk, que está sob controle ucraniano.
A conquista de Lyman permitiria às tropas russas superar o último obstáculo para avançar para Slaviansk e Kramatorsk, numa manobra para cercar Severodonetsk e Lysychansk, mais a leste.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acusou a Rússia de cometer "genocídio" no Donbass, onde a cidade de Severodonetsk está sob uma chuva de bombas.
"A atual ofensiva dos ocupantes no Donbass pode deixar a região inabitável", afirmou Zelensky esta madrugada em seu discurso cotidiano, no qual acusou a Rússia de querer "reduzir a cinzas" várias cidades da região.
A Rússia exerce "deportação" e "assassinatos em massa de civis", insistiu. "Tudo isso é uma política clara de genocídio", acrescentou.
Ao lançar sua invasão em 24 de fevereiro, Moscou usou, entre outros motivos, um suposto "genocídio" contra a população de língua russa do Donbass, palco de uma guerra entre Kiev e os separatistas pró-Rússia desde 2014.
Em abril, a palavra "genocídio" já era usada contra a Rússia pelo Parlamento ucraniano ou por líderes internacionais como o americano Joe Biden ou o britânico Boris Johnson.
Tentativa de cerco
O exército russo também bombardeia Severodonetsk, cujo governador alertou que poderia sofrer o mesmo destino de Mariupol, um importante porto do sudeste devastado após semanas de cerco.
Pelo menos cinco civis foram mortos em 24 horas na região: quatro em Severodonetsk e um em Komychuvakha, a 50 quilômetros de distância, disse o governador Sergei Gaidai nesta sexta-feira.
"Os russos bombardeiam constantemente áreas residenciais", denunciou Gaidai no Telegram.
"Acreditamos que as forças russas tomaram a maior parte do nordeste de Severodonetsk, embora ainda haja combates", informou um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA.
O chefe da administração civil e militar de Severodonetsk, Alexander Striuk, disse que ainda há entre 12.000 e 13.000 pessoas na cidade, que tinha 100.000 habitantes antes da guerra.
"Cerca de 60% do parque habitacional de Severodonetsk foi destruído. 85-90% dos prédios da cidade foram danificados e precisarão de uma grande restauração", disse ele à mídia ucraniana.
Em Dnipro, uma cidade industrial no centro-leste da Ucrânia, uma autoridade anunciou nesta sexta-feira "uma dúzia" de mortos e cerca de 30 feridos em um bombardeio russo contra um campo militar.
Bombardeios em Kharkiv
Mais ao norte, em Kharkiv, as sirenes de ataque aéreo voltaram a soar nesta sexta-feira. No dia anterior, um bombardeio deixou nove mortos e 19 feridos, incluindo um bebê de cinco meses e seu pai, segundo o presidente Zelensky.
Os mísseis caíram em um setor residencial do bairro Pavlové Polé, segundo um jornalista da AFP, que viu um jovem morto e quatro feridos levados ao hospital, um deles sem perna e braço.
A Rússia havia abandonado sua ofensiva nesta cidade para concentrar suas tropas no leste e sul da Ucrânia e sua população tentava um difícil retorno à normalidade, retomando o serviço de metrô.
Mas as forças de Moscou ainda mantêm posições a leste de Kharkiv, enquanto os ucranianos cavam trincheiras ao redor da cidade e montam blocos de concreto, sacos de areia e postos de controle contra um possível novo ataque.
A Ucrânia voltou a pedir mais armas aos países ocidentais. "Alguns parceiros evitam dar as armas necessárias por medo de escalada. Escalada, é sério? A Rússia já está usando as armas não nucleares mais pesadas, está queimando pessoas vivas. Talvez seja hora (...) de nos dar MLRS (lançadores de foguetes múltiplos)", tuitou Mikhailo Podoliak, conselheiro da presidência ucraniana.
O Kremlin, que analistas dizem querer consolidar seus ganhos no sul e no leste da Ucrânia antes de qualquer solução negociada, rejeitou na quinta-feira um plano de paz italiano.
A proposta previa um cessar-fogo e retirada das tropas sob supervisão da ONU, a entrada da Ucrânia na UE, mas não na Otan, e um status de autonomia para o Donbass e a Crimeia sob soberania ucraniana.
A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, grandes exportadores de grãos e responsáveis por um terço da produção mundial de trigo, está afetando o mercado global de alimentos e aumentando os temores de escassez de alimentos.
Os portos da ex-república soviética estão bloqueados, com milhares de toneladas de grãos se acumulando em armazéns.
De acordo com o general americano Chris Cavoli, a Alemanha propôs implantar uma "ponte ferroviária" com a Ucrânia para transportar essa mercadoria.
O presidente russo, Vladimir Putin, se ofereceu para ajudar a "superar a crise alimentar" em troca do levantamento das sanções ocidentais contra Moscou.
Os Estados Unidos rejeitaram a oferta: "Agora eles usam ferramentas econômicas como armas. Eles estão transformando comida em arma", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
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