Rússia e Ucrânia dão versões contraditórias sobre controle de cidade no Donbass
Tropas russas e ucranianas se enfrentavam neste sábado (4) pela controle de Severodonetsk e ambas as partes reivindicavam vitórias na batalha por esta cidade estratégica, controlada parcialmente por Moscou.
O governador ucraniano da região assegurou que os defensores estavam recuperando parte da cidade, enquanto Moscou afirmou que os ucranianos sofreram graves perdas e estavam em retirada.
"Os combates se concentram em Severodonetsk, já que [...] o exército russo concentrou todas as suas forças" nesta batalha, disse o governador da região de Luhansk, Serhiy Haiday.
As tropas russas "não tomaram completamente" Severodonetsk e o governador reivindicou que os defensores haviam recuperado 20% do terreno.
"Assim que tivermos mais armas ocidentais de longo alcance, vamos fazer a artilharia deles recuar [...] e a infantaria vai correr", comentou.
Por outro lado, o exército russo indicou hoje que as tropas ucranianas estavam se retirando de Severodonetsk "após sofrer perdas críticas", em algumas unidades de até 90%, e se instalaram na vizinha Lysychansk.
Nessa cidade, cerca de 60% das casas foram destruídas e as conexões de internet, telefone celular e gás foram cortadas, segundo o prefeito, Oleksandr Zaika.
Por outro lado, ao menos sete civis morreram na região de Luhansk depois que um bombardeio russo atingiu um famoso mosteiro ortodoxo, informaram as autoridades ucranianas.
A Ucrânia também reportou que um ataque com mísseis deixou duas vítimas no porto de Odessa (sudoeste), sem especificar se ficaram feridas ou mortas.
Além disso, indicou a morte de quatro combatentes voluntários estrangeiros que lutavam contra as forças russas.
A legião Internacional de Defesa da Ucrânia, uma brigada de voluntários, informou que os quatro homens de Alemanha, Holanda, Austrália e França pereceram, mas não indicou onde ou em que circunstâncias.
Zelensky promete vitória
Apesar da resistência inesperada, as tropas russas controlam atualmente um quinto da Ucrânia, com um longo corredor ao longo da costa do Mar Negro e do Mar de Azov, ligando a península da Crimeia (sul) aos territórios do Donbass.
Mas, coincidindo com os primeiros cem dias de guerra, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se mostrou desafiador: "A vitória será nossa", disse na sexta-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, assegurou que o saldo desses mais de três meses era satisfatório, pois atingiram "certos" objetivos.
Segundo Peskov, as tropas russas teriam "libertado inúmeras cidades" e permitido que seus habitantes voltassem a "uma vida em paz".
À medida que a guerra avança, os países ocidentais vêm aumentando a quantidade de armas enviadas à Ucrânia, bem como as sanções contra a Rússia, na tentativa de isolá-la e sufocar sua economia.
Em seu último pacote de medidas (o sexto desde o início do conflito), a União Europeia adotou na sexta-feira um embargo com exceções às compras de petróleo russo e incluiu na lista de sancionados a ex-ginasta Alina Kabaeva, suposta namorada de Putin.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, criticou neste sábado as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que argumentou que não se deve "humilhar" a Rússia para permitir um caminho para negociações de paz.
"Os apelos para evitar a humilhação da Rússia só servem para humilhar a França [...] Todos faríamos melhor se nos concentrássemos em colocar a Rússia em seu devido lugar", escreveu Kuleba no Twitter.
Crise alimentar
A guerra provoca temores de uma escassez global de alimentos, sendo Rússia e Ucrânia dois dos maiores exportadores de trigo do mundo.
As Nações Unidas informaram sobre negociações discretas para desbloquear as toneladas de cereais paralisadas nos portos do Mar Negro, indicou o seu coordenador na Ucrânia.
A ONU alertou para "um furacão de fome" essencialmente em países africanos, que importaram mais da metade de seu trigo desses países e onde os preços dos alimentos estão subindo vertiginosamente.
Precisamente, o presidente da União Africana, o senegalês Macky Sall, reuniu-se com Putin em Sochi, no sul da Rússia.
Segundo Sall, o líder russo se mostrou "comprometido e ciente de que a crise e as sanções criam sérios problemas para economias frágeis".
Em entrevista televisionada, Putin garantiu que "não é um problema" exportar cereais da Ucrânia.
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