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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Governador da bombardeada região ucraniana de Lugansk se 'prepara para o pior'

27.mai.2022 - Bombeiros combatem incêndio após ataque em Sievierodonetsk, na região de Lugansk, leste da Ucrânia - Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA
27.mai.2022 - Bombeiros combatem incêndio após ataque em Sievierodonetsk, na região de Lugansk, leste da Ucrânia Imagem: Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA

19/06/2022 15h46

Serguei Gaidai, governador de uma região do leste da Ucrânia bombardeada sem trégua pelas forças russas, mostra os bolsos de seu colete à prova de balas cheio de munição e de material de primeiros socorros. "É preciso estar preparado para o pior", afirmou.

Nomeado pelo presidente Volodymyr Zelensky, este homem de 46 anos está à frente da região de Lugansk, onde estão a cidade de Severodonetsk, sob combates entre forças russas e ucranianas, e a de Lysychansk, sob disparos de artilharia.

"A situação é difícil, na cidade (de Lysychansk) e em toda região", disse ele em entrevista à AFP, acrescentando que os russos "bombardeiam nossas posições 24 horas por dia".

Em Lysychansk, tudo está sendo preparado para os combates nas ruas: os soldados cavam buracos e espalham arame farpado; e a polícia coloca carros incinerados nas ruas para diminuir o tráfego.

"Tem um ditado que diz: você tem que se preparar para o pior, e o melhor virá", diz Gaidai.

"Claro que temos que nos preparar", reitera o funcionário, que já alertou várias vezes que as tropas russas vão acabar cercando Lysychansk e cortando as principais estradas de abastecimento.

"É uma guerra, tudo pode acontecer", reforça.

De Lysychansk, a artilharia ucraniana ataca as posições russas em Severodonetsk, e os russos respondem com morteiros e foguetes.

'Sem lugar seguro'

"Vejam como Severodonetsk resistiu: você pode ver que eles não controlam totalmente (a região)... Não podem ir mais rápido (nem) colocar seus grandes canhões e tanques", relata o governador.

Como outras autoridades ucranianas, ele espera que os aliados ocidentais da Ucrânia entreguem "o mais rápido possível" mais "armas de longo alcance".

"É bom que o Ocidente nos ajude, mas chega tarde", lamentou.

O governador diz que poderia ir a Severodonetsk para ver como estão suas tropas, "mas é extremamente arriscado". De fato, "não há lugar seguro em toda região de Lugansk", ele admite, enquanto explosões são ouvidas nos arredores.

Seu colete à prova de balas está cheio de cartuchos, e ele tem um fuzil semiautomático no carro. "Se necessário, vou lutar", diz ele.

Nascido em Severodonetsk, Gaidai foi nomeado por Zelensky após sua eleição em 2019.

"Estou aqui para ajudar as pessoas no que for possível", diz ele sobre esse trabalho de administrador em tempos de guerra que o obrigam a "manter (suas) emoções para (ele)".

"Me dói ver como minha cidade natal está sendo destruída", desabafou.

Ele também se ressente de ver como a guerra mata as pessoas que conhece: "Sou um ser humano, mas enterro tudo isso no fundo de mim".

A vida é muito dura para os "10%" dos habitantes de Lysychansk que permaneceram na cidade, sem rede telefônica, água encanada ou eletricidade. Eles cozinham com lenha e vivem abrigados em porões.

"Tentamos convencê-los a irem embora", mas "alguns deles se recusam categoricamente". E apenas uma "pequena porcentagem" espera que Moscou faça de sua região um "mundo russo", segundo ele.

Diariamente, o governador Gaidai usa redes sociais, como Telegram e Facebook, para informar a evolução do conflito.

"Precisamos falar" para contrabalançar a propaganda russa, mas também para que o povo da região "entenda que não foram abandonados, que estou aqui com eles", completa.

Ele também acredita que suas mensagens têm um outro uso possível: ajudar a condenar o presidente russo, Vladimir Putin, "quando o levarmos à Justiça (no Tribunal Penal Internacional) em Haia".