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Covid: descarte de milhões de cotonetes usados em testes PCR vira problema na China

Um trabalhador médico em traje de proteção coleta uma amostra de cotonete de um trabalhador em um canteiro de obras após casos da doença de coronavírus em Nanjing, província de Jiangsu, China, 23 de março de 2022 - Stringer/via Reuters
Um trabalhador médico em traje de proteção coleta uma amostra de cotonete de um trabalhador em um canteiro de obras após casos da doença de coronavírus em Nanjing, província de Jiangsu, China, 23 de março de 2022 Imagem: Stringer/via Reuters

20/06/2022 14h50

Todos os dias na China, agentes vestidos com proteção completa utilizam centenas de milhões de cotonetes descartáveis para realizar testes de PCR em larga escala. O problema é que tudo isso gera uma enorme quantidade de resíduos médicos.

Com sua estratégia de covid zero, o país asiático é a única grande economia a tentar prevenir infecções a qualquer preço, oficialmente para evitar que os hospitais fiquem sobrecarregados com a baixa taxa de vacinação dos idosos.

No arsenal: quarentenas obrigatórias, confinamentos seletivos e testes em massa, que se tornaram quase diários em alguns lugares.

De Pequim a Xangai, passando por Shenzhen, sede de inúmeras empresas de tecnologia, as cidades agora estão cheias de postos que oferecem testes PCR gratuitos.

Centenas de milhões de pessoas são obrigadas a fazer os testes a cada dois ou três dias e, em alguns casos, diariamente.

Os testes PCR, que criam uma enorme massa de resíduo médico, constituem um fardo econômico crescente para as comunidades locais, já fortemente endividadas, que devem gastar dezenas de bilhões de dólares com eles.

"A quantidade de lixo hospitalar que é gerado diariamente é de uma magnitude quase sem precedentes na história da humanidade", estima Yifei Li, especialista em meio ambiente da Universidade de Nova York em Xangai.

Multiplicado por seis

A China tenta alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060, meta ambiciosa e incerta, tendo em conta a dependência do gigante asiático do carvão.

A generalização dos testes representa um novo desafio ambiental.

Para algumas dezenas de casos positivos detectados todos os dias na China, são testadas centenas de milhões de pessoas - com o emprego de tubos, cotonetes, invólucros e combinações de proteção.

Se não forem descartados adequadamente, os resíduos hospitalares podem contaminar o solo e os rios.

De acordo com uma contagem da AFP, as cidades e províncias chinesas onde vivem um total de 600 milhões de pessoas anunciaram de uma forma ou de outra testes gerais e regulares de sua população.

Não há dados nacionais disponíveis, mas as autoridades de Xangai disseram no mês passado que 68.500 toneladas de resíduos médicos foram produzidas durante o confinamento da cidade entre meados de março e início de junho.

Isso representa uma quantidade diária seis vezes maior do que o habitual.

De acordo com a regulamentação chinesa, as autoridades são responsáveis por selecionar, desinfetar, transportar e armazenar esses resíduos antes de descartá-los, geralmente por incineração.

Algumas comunidades locais podem não saber como tratar essa grande quantidade de resíduos, ou simplesmente as armazena em aterros sanitários, estima Benjamin Steuer, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.

Questionado pela AFP, o ministério da Saúde indicou que formulou "exigências específicas relativas à gestão de resíduos hospitalares".

O governo exige que as capitais provinciais e cidades com pelo menos 10 milhões de habitantes implementem locais onde sejam realizados testes a uma distância de 15 minutos a pé de cada morador.

Mas generalizar os testes regulares e obrigatórios para toda a China pode custar de 0,9% a 2,3% do PIB do país, estimaram analistas do banco Nomura no mês passado.

Para Jin Dong-yan, professor da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Hong Kong, esses testes generalizados de PCR são "ineficazes e caros" e forçam as comunidades locais a renunciar a outros investimentos úteis no setor de saúde.

As autoridades também correm o risco de ignorar casos positivos, já que a variante ômicron se espalha muito rapidamente e é mais difícil de detectar, segundo ele.

"Não funciona. É como jogar milhões de dólares pela janela", conclui.