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Após protestos, China dá sinais de flexibilização na rigidez contra a covid

27.11.22 - Protesto em Pequim, na China, pelas vítimas de um incêndio em Urumqi - que também insuflou manifestações contra as rígidas regras de "covid zero" na China - NOEL CELIS/AFP
27.11.22 - Protesto em Pequim, na China, pelas vítimas de um incêndio em Urumqi - que também insuflou manifestações contra as rígidas regras de "covid zero" na China Imagem: NOEL CELIS/AFP

01/12/2022 03h39

As autoridades da China deram sinais de uma possível flexibilização da rígida estratégia de tolerância zero contra o coronavírus, após os protestos registrados no país para exigir o fim dos confinamentos e mais liberdade política.

Em um discurso na quarta-feira para a Comissão Nacional de Saúde (CNS), a vice-primeira-ministra Sun Chunlan afirmou que a variante ômicron do vírus perde força e a vacinação está aumentando, segundo a agência estatal de notícias Xinhua.

A vice-premiê disse que existe "uma nova situação, que exige novas tarefas".

Sun, considerada uma figura crucial na resposta de Pequim à pandemia, não citou a política de 'covid zero', o que sugere uma possível flexibilização na estratégia que afeta a economia e a vida cotidiana da população.

A irritação com a política anticovid da China, que inclui confinamentos severos, gerou protestos em grandes cidades como Pequim, Xangai e Guangzhou.

O governo defendeu a repressão às manifestações, mas as autoridades também deram sinais de mudanças na estratégia de combate à pandemia.

Testes PCR menos frequentes

Pequim anunciou uma mudança no sistema de testes PCR. Os idosos e as pessoas que estudam ou trabalham de maneira remota não precisarão mais passar por exames diários, afirmou Xu Hejian, porta-voz do governo municipal.

Os moradores da cidade, no entanto, precisarão apresentar um teste com resultado negativo de menos de 48 horas para ter acesso aos locais públicos.

Em Guangzhou, um importante centro industrial onde foram registrados confrontos entre policiais e manifestantes na terça-feira à noite, anunciou a suspensão de um confinamento de várias semanas.

Apesar dos números recordes para o país, os contágios são ínfimos em relação à população. Nesta quinta-feira foram registrados 35.800 casos — a grande maioria assintomáticos — em um país de 1,4 bilhão de habitantes.

A cidade central de Chongqing anunciou na quarta-feira que os contatos próximos de pessoas com covid-19 podem permanecer em quarentena em casa desde que cumpram alguns requisitos, uma mudança nas regras que os obrigavam a seguir para instalações de isolamento.

As declarações de Sun e as regras mais suaves em algumas localidades podem ser um sinal de que a China começa a considerar o fim da política rígida de 'covid zero', segundo analistas.

"Acreditamos que as autoridades chinesas estão mudando para uma postura de 'conviver com a covid', como demonstram as regras que permitem o isolamento das pessoas em casa, e que não sejam levadas para centros de quarentena", afirma um comunicado de analistas da ANZ Research.

Sinal de fraqueza

Com a aproximação do terceiro aniversário da detecção do primeiro caso de covid na cidade de Wuhan (centro do país), a rígida política da China contra o vírus gerou protestos como não eram observados desde o movimento pró-democracia de 1989.

Um incêndio que deixou 10 mortos na semana passada em Urumqi, capital da região de Xinjiang (noroeste), catalisou a fúria da população. Muitas pessoas acreditam que as vítimas ficaram presas dentro do prédio em chamas devido às restrições anticovid.

Os manifestantes, no entanto, também exigem reformas políticas e alguns chegaram a pedir a renúncia do presidente Xi Jinping.

Estudantes em Hong Kong seguram papeis em branco como forma de protesto contra a censura na China, bem como contra a política de covid-zero do país - WILLIAM WEST/AFP - WILLIAM WEST/AFP
Estudantes em Hong Kong seguram papeis em branco como forma de protesto contra a censura na China, bem como contra a política de covid-zero do país
Imagem: WILLIAM WEST/AFP

O controle ferrenho das informações na China e as restrições de deslocamentos dificultam o trabalho de verificar o número de manifestantes nos protestos.

Não é comum que a China registre manifestações em todo o território, como aconteceu no fim de semana.

O movimento pró-democracia de 1989 terminou com um banho de sangue, quando os militares entraram em ação, em particular na Praça Tiananmen (Paz Celestial) de Pequim e seus arredores.

Na quarta-feira, o ex-presidente chinês Jiang Zemin faleceu aos 96 anos. Ele assumiu o poder justamente após o massacre da Praça da Paz Celestial.

Ao ser questionado sobre os protestos, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que em cada país a população deve ter condições de "expressar suas frustrações" em protestos pacíficos.

"Quando um governo adota grandes ações repressivas para impedir os protestos, isto não é um sinal de força. É sinal de fraqueza", declarou Blinken.

"O governo dos Estados Unidos deveria responder seriamente às necessidades de sua própria população e cuidar bem de seus próprios assuntos", respondeu Zhao Lijian, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.