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Não consegui soltar sua mão, diz pai fotografado após terremoto na Turquia

Mesut Hancer segurou a mão de Irmak, sua filha de 15 anos de idade, que morreu em um terremoto em Kahramanmaras, na Turquia - 7.fev.2023 - Adem Altan/AFP
Mesut Hancer segurou a mão de Irmak, sua filha de 15 anos de idade, que morreu em um terremoto em Kahramanmaras, na Turquia Imagem: 7.fev.2023 - Adem Altan/AFP

26/02/2023 17h14

O flagrante de um pai segurando a mão da filha morta, registrado por um fotógrafo da AFP, foi uma das imagens que deram a volta ao mundo após o terremoto devastador de 6 de fevereiro na Turquia e na Síria.

Quase três semanas depois desta catástrofe que deixou mais de 44.000 mortos na Turquia, Adem Altan, o repórter fotográfico que registrou a imagem, voltou a se encontrar com o turco Mesut Hancer.

Este pai de quatro filhos, entre eles a adolescente Irmak, que morreu aos 15 anos sob os escombros de um imóvel de oito andares, deixou recentemente a cidade de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, e foi morar na capital, Ancara.

"Também perdi minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos no terremoto. Mas não há nada comparável a enterrar um filho", explica este homem na faixa dos 40 anos. "É uma dor indescritível".

Sua família tenta agora reconstruir a vida longe da arrasada Kahramanmaras, localizada perto do epicentro do tremor de magnitude 7,8, que também sacudiu o norte da Síria.

A foto de Hancer, petrificado de dor e indiferente ao frio e à chuva, vestindo um casaco anoraque laranja, simbolizou a tragédia vivida por milhares de pessoas e gerou uma onda de solidariedade.

Um empresário de Ancara ofereceu-lhe uma casa e propôs contratar Hancer como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada.

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Mesut Hancer posa com uma pintura representando-o junto com Irnak, sua filha que morreu em terremoto na Turquia
Imagem: Adem Altan/AFP

"Como um anjo"

Na sala de estar de sua casa nova, ele pendurou um quadro, presente de um artista, no qual Irmak é retratada com asas de anjo ao lado do pai.

"Não consegui soltar sua mão. Minha filha dormia como um anjo em sua cama", explica este pai, separado violentamente de um de seus filhos.

Quando o terremoto ocorreu, às 04H17 locais de 6 de fevereiro (22H17 do dia 5, horário de Brasília), Hancer trabalhava em sua padaria.

Imediatamente, ligou para a família e soube que sua casa tinha sofrido danos, mas não tinha desmoronado, e que sua mulher e que três de seus quatro filhos estavam sãos e salvos.

Mas a família não tinha notícias da filha caçula, Irmak, que naquela noite dormiu na casa da avó para passar mais tempo com as primas de Istambul, que tinham ido visitá-los.

Então, Hancer, muito preocupado, foi rapidamente para a casa da mãe e ali se deparou com o imóvel transformado em uma montanha de escombros. Em meio às ruínas, encontrou o corpo da filha.

Nenhuma equipe de socorristas apareceu na área nas 24 horas que se seguiram à catástrofe.

Hancer e outros moradores tiveram que se virar para tentar encontrar seus familiares e conhecidos debaixo dos escombros.

Ele tentou retirar o corpo da filha morta, erguendo blocos de concreto com as mãos. Mas era uma tarefa impossível.

Desesperado, frustrado e tomado por uma profunda tristeza, sentou-se ao lado do cadáver de Irmak.

"Peguei a mão dela, acariciei seu cabelo e beijei suas bochechas", lembra.

Minutos depois, viu o repórter fotográfico que retratava as consequências do terremoto. "Faça fotos da minha filha", murmurou com a voz embargada por uma dor difícil de esquecer.