De golpes na América do Sul à China: 5 momentos cruciais de Henry Kissinger

O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, que morreu na quarta-feira aos 100 anos, moldou a política externa dos Estados Unidos como poucas figuras, com um histórico longo e muito polêmico.

Confira uma lista de momentos importantes na carreira de Kissinger, que foi conselheiro de Segurança Nacional e secretário de Estado dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford:

China

Kissinger viajou de maneira secreta a Pequim em julho de 1971 em uma missão para estabelecer relações com a China comunista, o que preparou o caminho para a visita histórica de Nixon, que tinha o objetivo de alterar a Guerra Fria e obter ajuda para acabar com a guerra do Vietnã.

A abertura dos Estados Unidos à então isolada Pequim contribuiu para a ascensão da China, que em décadas virou uma potência industrial e a segunda maior economia do mundo.

Desde que deixou o cargo de secretário de Estado, Kissinger enriqueceu ao assessorar empresas sobre como atuar na China. Ele criticava a mudança na política americana em relação a Pequim.

Em julho, poucos meses depois de completar 100 anos, Kissinger visitou a China pela última vez, onde se reuniu com o presidente Xi Jinping e outros líderes do país.

Vietnã

À frente dos esforços de Nixon para acabar com a desastrosa guerra dos Estados Unidos no Vietnã "com honra", Kissinger ordenou de maneira sigilosa bombardeios nos vizinhos Camboja e Laos com a esperança de cortar as linhas de abastecimento de Hanói.

Alguns historiadores calculam que centenas de milhares de civis morreram nos ataques.

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Kissinger obteve um cessar-fogo no Vietnã em janeiro de 1973 após negociações em Paris e foi anunciado, com muita polêmica, como o vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que o representante de Hanói nas conversações, Le Duc Tho, se recusou a aceitar.

O governo de Saigon, aliado dos Estados Unidos, caiu mais de dois anos depois - acredita-se que Kissinger buscava um "intervalo razoável" após o acordo de Paris para minimizar a percepção de uma derrota dos Estados Unidos.

Golpes

Convencido de que o objetivo primordial era isolar a União Soviética, Kissinger defendeu a derrubada dos governos com tendência de esquerda, em particular no Chile e na Argentina — mas também influenciou no Brasil.

Um memorando que teve o sigilo retirado mostra seus cálculos frios. Kissinger disse que o presidente socialista do Chile, Salvador Allende, ofereceu um modelo "insidioso" ao mostrar que um governo eleito de esquerda poderia funcionar.

Allende cometeu suicídio quando os militares tomaram o poder em um golpe de Estado apoiado pela CIA.

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Como conta Jamil Chade, em sua coluna no UOL, nos dias entre a eleição e a posse de Allende, o general foi enviado ao Brasil e à Argentina para consultas com militares dos dois países. Ao final da viagem, Walters escreveu um memorando no qual defendia três pontos - que foram colocados em prática:

  1. o aumento das vendas de armas a países-chave da região;
  2. a aceitação do papel dos militares como guardiões da ordem, sem julgá-los pelos "padrões da Constituição americana";
  3. e a ideia de que, se os Estados Unidos não ocupassem o espaço latino-americano, outra potência global o faria.

Invasões

Kissinger também não demonstrou qualquer relutância em apoiar invasões quando as considerava do interesse dos Estados Unidos.

Quando o Paquistão atuou como intermediário secreto da China, ele ofereceu cobertura diplomática a Islamabad enquanto executava uma campanha de assassinatos em massa no Paquistão Oriental, que conquistou a independência como Bangladesh.

Kissinger autorizou de maneira explícita a Indonésia, aliada de Washington na Guerra Fria, quando o país tomou o controle do Timor Leste e iniciou uma ocupação brutal de 24 anos.

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Além disso, Kissinger apoiou tacitamente a Turquia quando o país assumiu o controle de um terço do Chipre, por buscar relações sólidas com o país estrategicamente localizado e um equilíbrio em sua rivalidade com a Grécia, outro membro da Otan.

Kissinger também liderou a participação oculta dos Estados Unidos na guerra civil de Angola para contra-atacar as forças soviéticas e cubanas.

Oriente Médio

Kissinger dedicou grande parte de seu tempo ao Oriente Médio e organizou operação 'Nickel Grass' para enviar armas ao aliado Israel depois que países árabes executaram um ataque surpresa durante o feriado judaico do Yom Kipur em 1973.

Mais tarde, Kissinger negociaria de maneira detalhada com Israel, Egito e Síria, no que ele chamava de 'shuttle diplomacy', na qual uma parte externa atua como intermediária entre as várias partes em disputa.

Assumindo o lugar de Moscou, Kissinger transformou a relação com o Egito, o país árabe mais populoso, que se tornou parceiro de segurança e passou a receber ajuda dos Estados Unidos.

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