Conteúdo publicado há 4 meses

Escritório da AFP em Gaza provavelmente foi destruído por ataque israelense

Disparos de tanque israelense provavelmente provocaram as explosões que danificaram o escritório da AFP em Gaza no dia 2 de novembro, segundo uma investigação conjunta da agência e de vários meios de comunicação internacionais publicada nesta terça-feira (25).

Um consórcio liderado veículo de investigação 'Forbidden Stories', com a participação de 50 jornalistas de 13 empresas de comunicação, investigou durante quatro meses vários ataques a jornalistas e infraestruturas da imprensa desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro.

O ataque que atingiu o escritório da AFP, quase um mês após o ataque do movimento islamista Hamas contra Israel que desencadeou o conflito, não provocou vítimas, porque os funcionários já haviam deixado o local.

A seguir, um resumo do que foi revelado pela investigação:

O que aconteceu?

Desde 1993, a AFP tem um escritório na Faixa de Gaza. Em 2015, a agência instalou o escritório nos três últimos andares do edifício Hajji, de 12 andares, na Cidade de Gaza, perto do Mar Mediterrâneo.

Quando o conflito começou em 7 de outubro, a equipe de sete jornalistas, um técnico e um contador no território trabalhava para a agência há pelo menos duas décadas.

A AFP tem um orgulho particular do escritório de Gaza, especialmente levando em consideração a presença limitada da imprensa estrangeira no território palestino, afirmou o diretor de informação da agência, Phil Chetwynd.

Adel Zaanoun, com uma carreira de três décadas na AFP em Gaza, disse que o escritório, com vista para o mar e grandes áreas da cidade, era útil para a cobertura, mas também "um refúgio seguro em tempos de guerra".

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A equipe inicialmente cobriu o conflito a partir do escritório. A AFP compartilhou as coordenadas do local com o Exército israelense no primeiro dia da guerra.

A equipe deixou o local em 13 de outubro, quando Israel exigiu que os civis abandonassem a cidade.

Mas uma câmera na varanda do 10º andar continuou gravando, inclusive quando os tanques cercavam a cidade no início de novembro.

Por volta do meio-dia de 2 de novembro, explosões sacudiram o escritório, provocaram graves danos à sala de servidores no 11º andar e deixaram um buraco em uma das paredes externas.

A câmera ao vivo na varanda do andar inferior, conectada a painéis solares, não foi atingida e seguiu gravando. Em 12 de novembro, parou de funcionar porque ninguém conseguiu reiniciar o sistema de transmissão.

Em 4 de novembro, a AFP pediu a Israel "uma investigação profunda e transparente" sobre o envolvimento exato de seus militares no ataque.

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O Exército afirmou que havia acontecido um "ataque israelense perto do edifício para eliminar uma ameaça iminente que poderia ter provocado escombros, mas que edifício não era alvo de nenhuma forma".

O que as imagens mostram?

As imagens ao vivo arquivadas da câmera mostram flashes brilhantes à distância segundos antes das explosões que sacudiram o prédio. Vários especialistas estabelecem uma correlação.

Trevor Ball, ex-especialista em explosivos do Exército dos Estados Unidos, disse que o estado da sala de servidores era consistente com um disparo de tanque, considerando a "quantidade limitada de danos" e os "fragmentos" de munição encontrados.

O especialista britânico em munições Adrian Wilkinson afirmou que os danos correspondem aos de um projétil M339 de 120 mm, que continha 2,3 quilos de explosivos e seria utilizado apenas por tanques israelenses durante a guerra de Gaza.

"O tipo de arma e sua precisão, compatível com um tanque israelense, indicam que a arma atingiu o alvo que apontava. Por que disparou? Não posso comentar", concluiu Wilkinson.

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Um especialista em armas do Exército francês, que pediu anonimato, também disse que provavelmente se tratava de um projétil de tanque israelense.

War Noir, um pesquisador independente de armamentos que trabalha sob pseudônimo, disse que é muito provável que as imagens ao vivo tenham registrado um tanque disparando contra o edifício.

Quando recebeu o pedido de esclarecimentos sobre o ataque de 2 de novembro durante a investigação, o Exército israelense pareceu repetir a sua declaração anterior.

"Os escritórios da agência AFP não foram alvo do ataque e os danos que sofreram podem ter sido provocados pela onda de choque ou pelos estilhaços", afirmou, sem indicar de maneira clara a que ataque se referiam, nem mencionar a data.

O Exército acrescentou que estava analisando o incidente.

Perguntas pendentes

De onde vieram os disparos?

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Uma análise feita por jornalistas do consórcio, com base no cálculo da velocidade do som das imagens de satélite, determina a distância dos disparos a cerca de três quilômetros ao nordeste do escritório. Vários especialistas consultados consideraram os cálculos "sólidos".

A suposta origem dos disparos estaria em uma área próxima do mar.

Tanques israelenses foram observados na área ou perto dela antes e depois do dia dos ataques, segundo imagens de satélite.

Não foi possível obter uma imagem completa do local em 2 de novembro. A empresa americana Maxar, procurada pelo consórcio, conseguiu fornecer apenas uma imagem muito reduzida que não mostra a área descampada em seu conjunto e afirma que "não pode fornecer" a imagem completa.

Enviar um jornalista para fotografar o local é muito perigoso atualmente, devido à intensidade do conflito.

Embora a investigação não tenha conseguido estabelecer com certeza a existência de uma linha de visão da área descampada até o edifício da AFP, também não encontrou evidências para descartá-la de maneira categórica.

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A outra grande questão é saber qual era o objetivo e por quê.

O Exército israelense tinha um alvo perto ou dentro do edifício?

"Não temos nenhum indício de que havia combatentes do Hamas no edifício em 2 de novembro", afirmou Phil Chetwynd.

O ataque contra o prédio do escritório da AFP aconteceu em um contexto de ataques repetidos ataques contra infraestruturas da imprensa desde o início do conflito.

Esta é uma estratégia deliberada?

É impossível dar uma resposta formal, apenas elementos de contexto e uma série de indícios.

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No dia 2 de novembro, quase 50 minutos antes dos ataques que atingiram o escritório da AFP, outro edifício que abriga escritórios de vários grupos de imprensa, o Al Ghefary, foi atingido no mesmo bairro.

O ataque destruiu o escritório no 16º andar desta torre que abrigava o Palestinian Media Group (PMG). O grupo também transmitia imagens ao vivo para vários clientes, incluindo a agência Reuters.

Um jornalista do PMG ficou ferido.

Um segundo ataque atingiu os escritórios do PMG em 3 de novembro. Para Hassan Madhoun, diretor do grupo, não havia dúvidas: "Apontavam diretamente para as câmeras".

Sobre a ação que atingiu a AFP, Shuruk Asad, porta-voz do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, também é categórica: "Foi um ataque claro e direto contra um escritório de imprensa. Israel sabe da importância das transmissões ao vivo, em particular para a imprensa internacional, que utiliza as imagens".

Outro grave incidente relacionado com uma transmissão ao vivo aconteceu em 13 de outubro no sul do Líbano. Na data, um jornalista da Reuters morreu e seis repórteres, incluindo dois da AFP, foram feridos por um projétil de tanque israelense, segundo uma investigação da AFP.

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E agora?

Chetwynd pediu "uma investigação muito clara e transparente, tanto do incidente no sul do Líbano como do incidente no escritório de Gaza" da AFP.

"Segundo o direito internacional humanitário, as infraestruturas dos meios de comunicação são infraestruturas civis, então atacá-las seria potencialmente um crime de guerra", recordou a relatora da ONU para a proteção do direito à liberdade de expressão, Irene Khan.

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