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Estudo da Sabesp diz que Cantareira não chega a volume morto, ainda que seca se repita

Represa Jaguari, em SP, que faz parte do Sistema Cantareira - Nilton Cardin/Estadão Conteúdo
Represa Jaguari, em SP, que faz parte do Sistema Cantareira Imagem: Nilton Cardin/Estadão Conteúdo

Em São Paulo

23/05/2016 07h46

Simulações feitas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mostram que, mesmo se a seca registrada em 2014 se repetir nos próximos meses, o Sistema Cantareira não voltará a operar no volume morto neste ano. No pior cenário hidrológico projetado pela estatal, com as vazões mais baixas da história, o manancial chegaria a dezembro com 3% da capacidade normal, um pouco melhor do que no fim de 2015, quando o nível era zero, mas abaixo do índice de segurança (20%).

O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, considera improvável que ocorra neste ano a repetição da pior estiagem da história do Cantareira em 85 anos de registros, mas diz que, se o fenômeno voltar a acontecer, a companhia está mais preparada para manter o abastecimento de cerca de 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo por causa das obras executadas durante a crise hídrica e da menor retirada de água do sistema, 25% abaixo do praticado antes do início da crise, em 2014.

Naquele ano, a entrada média de água nos reservatórios do principal manancial ficou 74% abaixo da média histórica, o que ajudou a empurrar o sistema para o volume morto, a reserva profunda das represas, a partir de maio, e levou a Sabesp a intensificar o racionamento com a redução da pressão na rede a partir de outubro. A situação hidrológica só melhorou a partir de fevereiro de 2015, fazendo com que o Cantareira recebesse no segundo ano da crise o dobro do volume de água de 2014, mas, ainda assim, 48% abaixo do esperado.

Segundo a Sabesp, se este cenário de 2015 se repetir, o manancial chega ao fim deste ano com 7,8% da capacidade normal, acima de zero. Nas duas simulações o nível ficaria abaixo dos 20% definidos como meta mínima de armazenamento para dezembro pela Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), do governo paulista, ambos reguladores do sistema.

Entre janeiro e abril deste ano, a vazão afluente às represas do manancial ficou apenas 12% abaixo da média. As projeções mostram que se o cenário se mantiver nos próximos meses, o Cantareira chegaria no final do ano com 37,6% da capacidade, um pouco acima do nível atual. Ontem, o nível de água armazenada no sistema subiu de 65,2% para 65,4% - sem considerar o volume morto, passou de 35,9% para 36,1%. Todas as simulações foram feitas pela Sabesp com a manutenção da retirada atual de água em 23 mil litros por segundo até dezembro.

Os números são usados pela Sabesp para reiterar a afirmação de que a crise hídrica acabou, conforme o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou em março após uma sequência de cinco meses chuvosos, mesmo após o recorde histórico de falta de chuva registrado em abril. Para técnicos da companhia, o manancial voltou à normalidade. "Abril não choveu nada e a vazão ficou muito acima da vazão de 2014 e 2015 porque o lençol (freático) está carregado. O nível está se mantendo, diferentemente de 2015, quando chovia e o nível continuava caindo", disse o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato.

Racionamento

Ele afirma que é possível manter a atual retirada de água do Cantareira em 23 mil l/s - antes da crise eram 31 mil l/s - e "não há neste momento um risco iminente" de voltar ao racionamento praticado entre 2014 e 2015, quando a produção do manancial caiu para 13 mil l/s.

"Claro que, se o cenário daqui para a frente for de total ausência de chuvas, como foi abril, lá pelo mês de agosto ou setembro teremos de tomar alguma providência. Não agora, porque as vazões afluentes estão boas se comparadas com os últimos dois anos", disse o diretor.

Segundo ele, mesmo que ANA e DAEE determinem uma pequena redução da exploração do Cantareira para atingir a meta de 20% ao fim do ano, há margem para remanejar água de outros sistemas dentro da rede, como Guarapiranga e Alto Tietê, sem precisar retomar o racionamento durante o dia - hoje a redução da pressão está concentrada à noite e de madrugada. "O consumo de água da população hoje é menor do que em 2014. Está equilibrado. Se precisar retirar mais dos outros sistemas a gente tira", disse Massato.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".