Militares reconhecem 'incômodo' com caso Coaf
O vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, reconheceu nesta quinta-feira (13) que "causa incômodo" a demora de Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), em dar explicação sobre a sua movimentação financeira, considerada atípica pelo Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf).
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Mourão, porém, foi enfático na defesa do ex-companheiro de chapa e disse que tem "plena confiança" no presidente eleito Jair Bolsonaro e em seu filho.
Militares da equipe de transição e das Forças Armadas também têm expressado nos bastidores incômodo com a situação. Oficiais-generais ouvidos pelo Estado avaliam que Queiroz já deveria ter aparecido e explicado o R$ 1,2 milhão movimentado em sua conta no período de 12 meses. Mesmo afirmando que o caso não está diretamente ligado ao presidente eleito, esses militares acreditam que a demora numa resposta pode acabar "respingando" no futuro governo.
O Coaf classificou a movimentação de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 como incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional de Queiroz, que é policial militar.
O ex-assessor parlamentar depositou no período R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro - o presidente eleito afirmou que esses recursos são parte do pagamento de uma dívida antiga de Queiroz com ele.
O relatório do Coaf, revelado pelo jornal na semana passada, foi anexado às investigações da Operação Furna da Onça, que levou à prisão 10 deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
"Óbvio que toda vez que você tem de dar explicação, isso incomoda, é desagradável. Mas volto a dizer. Tenho plena confiança no presidente e no Flávio. Confio nos dois", afirmou Mourão. "Agora é esse Queiroz. A coisa toda está centrada nele."
Na quarta-feira, 12, o presidente eleito disse pelas redes sociais que, se tiver "algo errado" no caso que envolve movimentações financeiras do ex-assessor de seu filho, "que paguemos a conta". Bolsonaro, no entanto, disse que nem ele nem Flávio são investigados no caso.
Prática
Para oficiais ouvidos pela reportagem, essa situação se estenderá, no mínimo, até o início da próxima semana, quando Queiroz deve prestar depoimento ao Ministério Público no Rio de Janeiro. Em suas redes sociais e em explicações para aliados, Flávio tem se defendido dizendo que não fez nada de errado e que quer que tudo seja esclarecido para que não paire nenhuma dúvida sobre sua idoneidade. Os militares observam que a prática de reter parte dos salários dos servidores do gabinete já foi denunciada em outras ocasiões no País.
"Sou o maior interessado em que tudo se esclareça para ontem, mas não posso me pronunciar sobre algo que não sei o que é", escreveu Flávio nesta quinta-feira em uma rede social.
Os militares que acompanham o caso dizem que o que está em jogo não é o valor, mas o princípio da campanha de Bolsonaro. Citam que a maior bandeira durante o processo eleitoral foi o fim da prática da corrupção.
Veja, abaixo, a entrevista concedida pelo general:
A questão não deixa o presidente em uma situação delicada?
O Bolsonaro foi claro na 'live' que fez ontem (quarta-feira, 12). Não tem mais o que tocar nisso aí. O que ele disse? Que se investigue e que se apure. Então, para mim, morreu o assunto.
Ninguém sabe direito a história de outras transferências. As explicações foram suficientes?
Aí, compete a vocês, da imprensa, furungarem esse assunto. Eu não tenho instrumentos para dizer qualquer coisa. Desconheço a profundidade do caso e estou de acordo com as palavras do presidente.
Mas isso não respinga na imagem dele, no governo?
Não. O presidente já falou o que tinha de falar. Agora, é esse (Fabrício) Queiroz. A coisa toda está centrada nele.
Mas Queiroz não apareceu até agora para dar explicações...
Não tenho conhecimento do assunto. Tenho de ir pela palavra do presidente e eu confio na palavra dele.
A situação causa incômodo?
Incômodo causa, né... É óbvio, porque toda vez que você tem de dar explicação, isso incomoda, é desagradável.
O senhor acha que o presidente demorou a dar explicação?
A explicação inicial ele deu, dizendo que o dinheiro depositado na conta da esposa dele era de pagamento do empréstimo. Mas continuou a pressão. Ele esperou um tempo e aí resolveu vir a público, fez a 'live' e deixou claro a posição dele.
Esse episódio todo não atrapalha o início do governo?
Fora alguns comentários de imprensa, não estou vendo as redes sociais fazendo rebuliço com isso. Não acho que haja pressão enorme. Acho que existe este questionamento. Há questionamento e alguma resposta terá de surgir para isso. Mas não da parte do Bolsonaro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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