Candidatos à PGR articulam para se cacifar no Planalto
Enquanto Jair Bolsonaro faz mistério sobre quem vai indicar para comandar a Procuradoria-Geral da República, os candidatos ao cargo têm buscado se aproximar do Palácio do Planalto para se viabilizarem. As estratégias vão de participação em eventos a encontros com ministros e até com o próprio presidente.
Ontem, Bolsonaro recebeu das mãos do presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Fábio George da Nóbrega, a lista tríplice com os mais votados pela categoria.
No encontro, o presidente reconheceu a importância da lista, mas não garantiu que vai escolher um dos três nomes, o que representaria uma quebra de tradição. Desde 2003, a indicação do chefe do principal órgão de investigação do País recai sobre um dos eleitos pelos próprios procuradores.
Ainda de acordo com Nóbrega, o presidente afirmou que vai analisar "sem pressa" as opções para o cargo. Ele já havia dito que deixará a escolha para os "48 minutos do segundo tempo". O mandato da atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, acaba no dia 17 de setembro.
Enquanto isso, os subprocuradores Mário Bonsaglia e Luiza Frischeisen e o procurador regional Blal Dalloul - os três nomes da lista da ANPR - têm se encontrado com auxiliares de Bolsonaro.
Na agenda estão os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, além da advogada de Bolsonaro, Karina Kufa.
Um outro nome que tem sido procurado e é considerado fundamental na decisão é o de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênito do presidente. O Estado apurou que o senador tem participado ativamente das discussões sobre a sucessão na PGR.
Ele é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro no caso que apura movimentações atípicas do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que trabalhou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. As suspeitas envolvendo o ex-auxiliar foram reveladas pelo Estado em dezembro.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que também já recebeu consultas do Planalto sobre o tema, reuniu-se na terça-feira com Bonsaglia e Frischeisen, um dia após declarar ser favorável à escolha de um subprocurador-geral - cargo do topo da carreira do Ministério Público.
Fora da lista
Correndo por fora da lista, o subprocurador Augusto Aras já chegou a ser "entrevistado" pelo presidente, em um encontro no mês passado em Brasília, e é bem avaliado pelo entorno de Bolsonaro, por ser visto como conservador e de direita.
Em entrevista ao Estado em maio, ele defendeu "disruptura" no MP e saiu em defesa de uma "democracia militar". Procurado ontem, Aras não quis se manifestar.
Embora não tenha se candidatado a uma vaga na lista tríplice, Raquel também se colocou na disputa e tem buscado se aproximar de Bolsonaro. A atual procuradora tem participado com mais frequência de eventos no Palácio do Planalto e chegou a receber elogios públicos do presidente na posse de Oliveira como ministro da Secretaria-Geral.
Segundo a reportagem apurou, o Palácio do Planalto já tem "fichas" com o perfil de cada um dos cotados para a PGR. A equipe jurídica do presidente chegou a acompanhar debates realizados entre os procuradores antes da eleição da lista tríplice.
Nas conversas com auxiliares de Bolsonaro, os candidatos têm sido questionados sobre a linha ideológica e a sua "visão de mundo". De acordo com os relatos, todos procuram mostrar que não possuem "viés ideológico" ou, muito menos, sejam de esquerda, o que poderia acabar com as chances de ser escolhido.
O procurador Blal Dalloul, ex-secretário-geral da PGR na gestão de Rodrigo Janot, também tem afirmado não ter qualquer ligação com o antecessor de Raquel. Tal proximidade, segundo um interlocutor de Bolsonaro, poderia retirá-lo do páreo.
Ao Estado, o ministro Jorge Oliveira disse que Bolsonaro busca um nome "sem vínculos ideológicos, sem questões partidárias". "O presidente busca um nome que dê estabilidade institucional", disse o ministro.
Após a escolha de Bolsonaro, o indicado ainda precisará passar por sabatina e ter seu nome aprovado pelo Senado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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