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'Tem que deixar de ser um país de maricas', diz Bolsonaro sobre covid-19

Idiana Tomazelli, Emilly Behnke e Jussara Soares

Brasília

10/11/2020 18h15Atualizada em 10/11/2020 20h51

Com o mundo vivendo sob a sombra de uma segunda onda da pandemia de covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse hoje que o Brasil "tem que deixar de ser um país de maricas" e enfrentar a doença.

"Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas", disse em cerimônia no Palácio do Planalto.

No Brasil, 5,675 milhões de pessoas foram contaminadas pelo novo coronavírus, e 162,6 mil pessoas morreram em decorrência da doença.

Países da Europa, que assistiram a um agravamento da situação no início do ano antes mesmo de a doença chegar com força no Brasil, voltaram a decretar medidas mais rigorosas de isolamento diante da segunda onda da doença.

"Aqui começam a amedrontar povo brasileiro com segunda onda. Tem que enfrentar, é a vida", afirmou o presidente. "Temos que enfrentar, (ter) peito aberto, lutar", acrescentou Bolsonaro.

O presidente voltou a criticar decisões de prefeitos e governadores de restringir atividades no período mais crítico da pandemia no Brasil e comparou as medidas a "coisa de ditadura". "Algemar mulher de biquíni na praia é covardia, patifaria, coisa de ditadura. E me chamam de ditador", afirmou.

"Tenho, como chefe de Estado, que tomar decisões que não me deixaram tomar. O que faltou para nós não foi um líder, mas deixar o líder trabalhar", emendou.

Bolsonaro citou pesquisas, segundo ele ainda não comprovadas, que mostrariam que o número de mortes por covid não chega a 20% do total de óbitos no país.

"Não tem carinho, não tem sentimento? Tenho sim, por todos que morreram. Mas foi superdimensionado", criticou.

Apesar de criticar a dimensão dada à pandemia, o presidente demonstrou preocupação com o fim do auxílio emergencial, programa de auxílio às famílias mais vulneráveis que custará R$ 322 bilhões e termina em 31 de dezembro deste ano. "Acaba o auxílio, como ficam quase 40 milhões de invisíveis, que perderam tudo?", questionou.

O governo tem buscado junto ao Congresso Nacional, uma reformulação do Bolsa Família que consiga ampliar o alcance do programa social e abrigar uma parcela desses "invisíveis", rastreados graças ao auxílio emergencial. Mas o quadro fiscal do governo tem sido um entrave, e o próprio presidente interditou debates sobre revisões de determinadas despesas consideradas ineficientes, como a do abono salarial (espécie de 14º salário pago a trabalhadores com carteira assinada que ganham até dois salários mínimos e que poderia, se revisto, liberar até R$ 20 bilhões ao ano).

Bolsonaro reclamou ainda de "não ter paz para absolutamente nada" e defendeu a busca por mudanças. Ele criticou o que viu como fragilidades da geração atual. "No meu tempo, bullying na escola era porrada. Agora, chamar de gordo é bullying", disparou.

Cerca de duas horas depois ao evento no Planalto, Bolsonaro afirmou, durante live nas suas redes sociais: "podem dizer que falo abobrinhas, mas [os meus discursos] são de coração".