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Ex-diretor da Anvisa vai para o 'grupo da Sputnik'

Sputnik V, a vacina russa contra o coronavírus - Divulgação
Sputnik V, a vacina russa contra o coronavírus Imagem: Divulgação

Mateus Vargas

10/02/2021 08h00

Tratada nos bastidores do governo como a possível "vacina de Bolsonaro", a Sputnik V ganhou reforço no time que trabalha para emplacar o imunizante.

A União Química, farmacêutica que pretende fabricar o produto em território nacional, contratou o ex-diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Fernando Mendes para sua área de relações institucionais —nome oficial para quem faz lobby em Brasília.

Mendes foi contratado após cumprir quarentena de seis meses. Ele deixou o cargo na Anvisa em março de 2020, ao fim do mandato. Na agência, chegou a ser presidente substituto e diretor da área que trata de medicamentos e vacinas.

Na União Química, se junta a caciques políticos que já atuam em favor do imunizante. Entre eles o ex-deputado Rogério Rosso (PSD-DF), ex-líder do Centrão na Câmara que se tornou diretor de negócios em 2019.

A empresa também costumava financiar campanhas eleitorais quando a doação era permitida. Em 2014, doou R$ 2,25 milhões para candidatos de PSD, MDB, PCdoB e PT em diversos estados.

O próprio dono, Fernando de Castro Marques, em 2018 tentou se eleger senador pelo Distrito Federal. Na ocasião, destinou R$ 5 milhões para bancar outros políticos, além da própria candidatura.

As conversas em Brasília envolvem tanto as negociações com o Ministério da Saúde quanto a defesa de mudanças nas regras para a aprovação dos imunizantes, o que levanta debates sobre prejuízo à análise de segurança e eficácia.

Na semana passada, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou ao Estadão que iria "enquadrar" a Anvisa, numa declaração entendida por integrantes da agência como pressão política. No mesmo dia, o Congresso aprovou regra para que a agência aprove, em cinco dias, o uso emergencial de vacinas já autorizadas em outros países, como a Rússia.

A medida, caso entre em vigor, beneficia principalmente a Sputnik V. Para o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, a mudança torna a autoridade sanitária um mero órgão "cartorial", sem capacidade de análise. Ele avalia ir ao STF (Supremo Tribunal Federal), caso a regra seja sancionada por Bolsonaro.

A alteração na lei, incluída pelo Congresso em uma medida provisória, ocorre no momento em que o governo é pressionado a ampliar o cardápio de vacinas no país.

Ao Estadão, Rosso negou que haja pressão sobre a Anvisa ou Congresso para alterar regras e beneficiar a Sputnik V. Ele disse que a mudança proposta na MP, por exemplo, refletiu a "necessidade do povo brasileiro de ter mais vacinas".

A empresa ainda aguarda o aval da Anvisa para realizar a fase 3 de pesquisa. Além disso, quer permissão para uso emergencial de 10 milhões de doses de vacinas que seriam importadas da Rússia. Segundo técnicos da agência, o passo seguinte que a empresa pretende dar - a produção da vacina no Brasil - também exigirá minuciosa análise técnica.

STF

A pressão pela entrada da Sputnik V no Brasil também é feita por governadores, até de oposição ao governo. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), foi ao STF para destravar a aprovação do imunizante.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.